Ter uma mulher na chapa era expectativa desde quando Joe Biden e Bernie Sanders ainda disputavam a candidatura pelo Partido Democrata. Protestos contra o racismo no país pressionaram para que o nome escolhido fosse de uma mulher negra.
A senadora Kamala Harris, de 55 anos, se tornou a primeira mulher a ocupar o cargo de vice-presidente dos Estados Unidos. Ela é companheira de chapa do democrata Joe Biden, eleito presidente dos EUA no pleito de 2020, segundo projeções de diversos veículos de imprensa, como Associated Press, ‘New York Times’, NBC e CNN.
A anúncio de Harris foi a confirmação de uma promessa feita por Biden em março deste ano, quando disputava com Bernie Sanders a candidatura pelo Partido Democrata. Em um debate, Biden disse que escolheria uma mulher como candidata ao cargo de vice-presidente — Sanders afirmou que também escolheria “com toda probabilidade” uma mulher para sua chapa.
A pressão para que a mulher escolhida na chapa democrata fosse negra, como a senadora da Califórnia, aumentou após a eclosão de protestos contra o racismo no país.
Desde maio, os EUA vivem uma onda de protestos antirracistas e contra a violência policial, liderados pelo movimento “Black Lives Matter” (“vidas negras importam”, em tradução livre do inglês). O estopim foi o caso de George Floyd, um ex-segurança negro que foi morto durante uma abordagem policial.
A escolha de Kamala Harris para integrar a chapa democrata foi vista como um aceno do partido às minorias, sendo ela mulher, negra e filha de imigrantes.
A opção por Harris foi fundamental para a eleição de Biden porque funcionou como um chamariz para convencer eleitores negros a votar no pleito de 2020.
Importância do voto negro
A senadora era um “nome forte do partido”, disse em entrevista ao G1 a professora de relações internacionais da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) Cristina Pecequilo.
“A indicação de Kamala Harris a vice, assim como, antes dela, de Barack Obama à presidência, é representativa em diversos níveis”, disse a pesquisadora da Unifesp. “Por ser mulher, por ser negra, e identificada com os movimentos sociais do Partido Democrata.”
Um levantamento feito pelo instituto de pesquisa Pew Research Center, dos EUA, estima que cerca de 30 milhões de afro-americanos estavam aptos a votar nas eleições de 2020. O número é um recorde no país, onde o voto não é obrigatório, e representa cerca de 12,5% de todo o eleitorado.
Tradicionalmente, os negros americanos votam em candidatos democratas. Eles foram votos-chave, por exemplo, na reeleição de Barack Obama, em 2012, quando bateram recordes de comparecimento. Na eleição seguinte, em 2016, quando a chapa democrata não tinha nenhum negro, Hillary Clinton perdeu para o republicano Donald Trump — e o pleito foi marcado pela menor participação de eleitores negros em 20 anos.
O professor de ciência política da Universidade de Buffalo, em Nova York, Ryan Muldoon disse ao G1 que Harris é uma figura controversa, até mesmo dentro do movimento negro dos EUA. Isso porque sua carreira anterior como promotora de Justiça a marcou, para alguns, como parte de um sistema injusto.
No entanto, ele reconhece que ter Harris como vice-presidente é uma “vitória para uma maior representatividade.”
Perfil da vice-presidente
Senadora pelo estado da Califórnia desde 2017, Harris chegou a se apresentar como pré-candidata à Casa Branca e liderou algumas das pesquisas internas do Partido Democrata. No entanto, foi perdendo apoio até deixar de vez a corrida presidencial.
Harris nasceu numa família de imigrantes: a mãe dela é indiana, e o pai, jamaicano. A mãe de Kamala, inclusive, se notabilizou pela pesquisa na área de câncer e como ativista de direitos civis.
Formada em direito e ex-procuradora do distrito de San Francisco e do estado da Califórnia, a agora vice-presidente eleita ganhou projeção nacional ao questionar duramente, em sabatinas no Senado, indicados por Trump para cargos de juiz da Suprema Corte e de Secretário de Justiça.
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