por Valter Lima, do Brasil 247
A discussão travada nesta quarta-feira, através dos programas de rádio sergipanos, só serviu para mostrar quão arcaicas ainda são as negociações entre os políticos; Anderson Góis não está sozinho neste grupo; o reclame dele é o mesmo motivo das insatisfações dos deputados estaduais Augusto Bezerra (DEM) e Venâncio Fonseca (PP), do vereador Renilson Félix (DEM), contra o mesmo João; é o mesmo interesse do ex-vereador Fábio Mitidieri (PSD) contra o Governo e de Daniel Fortes (PSL) contra Edivan Amorim; para manter vivas alianças e acordos pós-eleitorais, os políticos exigem cargos, espaços e altos salários; para eles próprios ou para lideranças que estão sob seu raio de alcance; é a forma de manter fiel aquele que lhe dá e consegue votos; é um círculo vicioso alimentado pelos milhares de cargos comissionados que inflacionam folhas de pagamento do poder
A lista de políticos insatisfeitos com o prefeito João Alves Filho (DEM) ganhou um reforço barulhento desde a última segunda-feira (1º). O suplente de vereador Anderson Góis (PSL) vocalizou seu descontentamento com a falta de espaço na administração municipal através do Twitter e logo virou figurinha constante nos meios de mídia nos dias seguintes. Na manhã desta quarta-feira (3), no périplo de entrevistas que concedeu aos programas de rádio, o político foi contestado pelos secretários municipais Marlene Calumby (Governo) e Carlos Batalha (Comunicação). O foco da discussão: a suposta chantagem de Anderson contra o prefeito por cargos.
Segundo os dois secretários municipais, o suplente de vereador teria feito diversos apelos através de mensagens de texto para o celular de Marlene Calumby. Ela disse, inclusive, que ele queria um cargo que tivesse valor suficiente para ele poder dividir com sua esposa. Batalha disse que Anderson havia pedido que o valor do salário para o cargo deveria variar entre R$ 8 mil e R$ 9 mil. Na semana passada, o político teria encontrado com a secretária no supermercado e feito novas exigências, ressalvando que se estas não fossem atendidas, ele se tornaria oposição ao prefeito João Alves Filho.
“Anderson Góis vinha fazendo chantagem. Inicia sua trajetória de uma forma muito perniciosa. Ele nunca ouviu alguns ditados populares, como aquele que diz que se deve ir devagar porque o andor é de barro. Na segunda-feira enviou mensagem para Marlene dizendo que o prazo estava acabando. Anderson deixe cair as máscaras”, disse o secretário de comunicação. Anderson negou que seu intuito fosse a aquisição de cargos ou ainda a realização de indicações. Disse que pleiteava o atendimento de demandas sociais, para bairros, onde teve votação expressiva.
De todo modo, o embate travado nesta quarta-feira, através dos programas de rádio sergipanos, só serviu para mostrar quão arcaicas ainda são as negociações entre os políticos. A discussão que se dá entre Anderson e representantes da prefeitura tem ocorrido de maneiras diversas. É o mesmo motivo das reclamações dos deputados estaduais Augusto Bezerra (DEM) e Venâncio Fonseca (PP), do vereador Renilson Félix (DEM), contra o mesmo João. É o mesmo interesse do ex-vereador Fábio Mitidieri (PSD) contra o Governo do Estado. É a mesma raiz de insatisfação do suplente de deputado estadual Daniel Fortes (PSL) contra Edivan Amorim. Esses são só poucos exemplos. Os que se tornaram públicos.
Para manter vivas alianças e acordos pós-eleitorais, os políticos exigem cargos, espaços e altos salários. Para eles próprios ou para lideranças que estão sob seu raio de alcance. É a forma de manter fiel aquele que lhe dá e consegue votos. É um círculo vicioso alimentado pelos milhares de cargos comissionados que inflacionam folhas de pagamento do poder público. É como se mantêm eleitos muitos dos políticos inexpressivos – e até mesmo aqueles de grande envergadura parlamentar, que não chegam aos cargos apenas pelos votos de consciência. É como se consegue alimentar a militância aguerrida.
Ainda assim, mesmo sendo o “modus operandi” da política brasileira, este é um modelo de pouco encaixe na realidade atual. Milhares de pessoas têm ido à rua para protestar contra desmandos públicos, por mais recursos em áreas vitais, como saúde, segurança e educação, justamente por enxergar nos poder público muito dinheiro desperdiçado, por saber da existência de muitos que recebem altos salários sem sequer ter noção sobre o local em que está lotado para trabalhar (já que nunca precisou se dirigir a estes locais para bater ponto).
A política precisa ser reformada, precisa passar a ser visto não como meio de ascensão pessoal de poucos que chegam ao poder e de seus amigos, deve deixar de ser vista como meio para alcance de enriquecimento. A política é o caminho da revolução social pela qual o Brasil ainda precisa passar. Uma revolução na forma de gerir a máquina pública, tornando-a eficiente, estabelecendo metas e preenchendo-a somente com profissionais qualificados – e em quantidade suficiente. A que serve ao Brasil que vai às ruas o inchaço das administrações?