por Valter Lima, do Brasil 247
A entrevista “reveladora” do presidente estadual do PTB, Edivan Amorim, ao programa de rádio de Gilmar Carvalho, soou estranha e reforçou o que tem sido dito por políticos e pela imprensa: o agrupamento que ele lidera vive hoje um momento de insegurança diante da boa relação entre Déda e João e da posição ruim de Eduardo Amorim em sondagens eleitorais; tentando passar, sem sucesso, tranquilidade, Edivan atacou imprensa, redes sociais, bateu em parlamentares; irônico e jocoso, o autodenominado líder político adulou João Alves, com quem diz ter uma “boa relação”
É comum entre os políticos uma característica peculiar: dizer algo quando a verdade é justamente o contrário. E é a partir desta premissa que se deve avaliar a entrevista concedida, nesta sexta-feira (12), por Edivan Amorim, autodenominado líder político, que é presidente do PTB, tem o controle de cerca de 10 siglas e, assim, coordena a oposição em Sergipe.
Divulgada ao longo da semana pelo radialista e suplente de deputado estadual, Gilmar Carvalho (PR), em seu programa e no site NE Notícias, a entrevista foi anunciada como “reveladora”. E, após duas horas de falatório, a participação de Edivan teve, realmente, essa característica, pois, a despeito da própria vontade e do seu discurso, ele deixou transparecer que está desesperado com os caminhos que estão sendo tomados pela política sergipana.
Incomodado com críticas feitas pela imprensa e inconformado com a boa relação administrativa entre o governador Marcelo Déda (PT) e o prefeito João Alves Filho (DEM), Edivan Amorim, “com muita tranquilidade”, como afirmou uma dezena de vezes, atacou a mídia local (sobrou até para o Sergipe 247), tentou desconstruir a imagem negativa que existe dele (sem sucesso), atacou parlamentares (os deputados estaduais Ana Lúcia e Zezinho Guimarães e o deputado federal Mendonça Prado) e adulou, de forma até incômoda, o prefeito da capital, seu ex-sogro, com quem diz ter hoje “uma boa relação” e diante de quem reconheceu já ter cometido “equívocos”.
Para marcar território, Edivan falou abertamente sobre a candidatura de seu irmão, o senador Eduardo Amorim (PSC), ao Governo do Estado em 2014, e remoeu a máxima de que em seu agrupamento o que vale é o diálogo. Uma das figuras políticas mais irônicas de Sergipe, o presidente do PTB disse não ser “dono de nenhum partido”. “O que sou é líder político”, frisou (uma pausa: lembra o que foi dito no início deste texto?). Edivan ainda disse que “não compra consciência de ninguém, nem voto”.
“Existe o respeito e o diálogo dentro do nosso grupo. Conheço os bastidores da política e todos os políticos. Sei como são feitos os entendimentos, os acordos. Ninguém é melhor do que ninguém. Nada ficará sem resposta. Não matei, não roubei e não pretendo disputar nenhum cargo público, mas nada ficará sem resposta”, disse.
Incomodado, em certo momento, com o quase inexistente contraponto da entrevista, comandada pelo aliado Gilmar Carvalho, que apenas reforçava os argumentos do chefe, Edivan pediu para “esquentar as perguntas”, queria que sua participação no programa, após meses sem contato com a imprensa, fosse mais bombástica. Onde já se viu um entrevistado pedir para inserirem fogo nas perguntas que lhe são feitas? Só mesmo alguém com pretensões objetivas de marcar posição e demonstrar força política.
E foi aí que o Sergipe 247 surgiu na entrevista. Gilmar, agora direcionado a apimentar os questionamentos, leu uma pergunta enviada por email que se embasava em um artigo publicado no 247 no último final de semana, que creditava a Edivan e a Eduardo Amorim a façanha de unir João e Déda. “Concorda com isto, Edivan?”, partiu Gilmar.
A resposta não veio objetiva, mas em ataque. A pergunta foi inicialmente ignorada e este veículo de comunicação tornou-se o alvo. Edivan disse que o 247 é um veículo “extremamente petista”, pois a soma dos números que dão nome ao site totalizam 13, o número do Partido dos Trabalhadores. Fez ainda ilação de que o ex-ministro José Dirceu seria o proprietário do 247, além de afirmar que o site servia para “atacar Joaquim Barbosa”. Gilmar, que não permitia ao chefe esquecer-se do script, completou: “e é o site que rebate todos os veículos de mídia contrários ao PT”.
Mas a crítica à mídia e aos jornalistas sergipanos não parou por aí. Segundo Edivan, “dos três jornais diários, dois são vendidos ao Governo”. “O leitor precisa fazer a sua avaliação, quando lê jornal ou site ou blog ou ouve rádio ou vê TV, pois metade da mídia sergipana está vendida”, disse. Será que se inclui aí a Rede Ilha de Comunicação, de propriedade dos filhos de Edivan e que se tornou hoje o veículo oficial do agrupamento que ele lidera?
Neste momento, Edivan alcunhou uma pérola: “Estamos aqui para impedir a tentativa de fazer ditadura em Sergipe, nos jornais, nos rádios e nos blogs”. Estranhamente foi ele quem entrou com processo contra quatro jovens que se expressaram no Twitter, com a frase “Eu não voto em Amorim”. O argumento do presidente do PTB para entrar com o processo: “o que a gente detectou é que ali são pessoas que ficam de gabinete em gabinete atrás de cargo de comissão (CC) e começaram a fazer esta campanha para agradar o chefe. O único motivo da ação que é o que a gente não pode permitir, é que se faça nenhuma campanha antes do tempo previsto”.
Críticas feitas à imprensa e às redes sociais, Edivan atacou Ana Lúcia, a quem denominou de “deputada midiática”, embora não tenha citado o nome dela. Ao deputado Zezinho Guimarães, que disse ao Jornal da Cidade que “forças ocultas” estariam emperrando a aprovação do Proinveste na Assembleia Legislativa, Edivan soou ameaçador: “É melhor ele ficar quietinho. Não provoque, Zezinho, porque alguns deputados podem não gostar. O governador quer aprovar o projeto. Não coloque pedras no caminho”. Em relação ao empréstimo, Amorim produziu outra pérola: “Sempre fomos a favor do Proinveste”. Não é preciso nem fazer qualquer comentário sobre isto.
Passada esta etapa, Edivan partiu para a fase da adulação ao ex-governador e hoje prefeito João Alves Filho, de quem foi desavença política por anos e a quem deu apoio eleitoral no ano passado. E de quem espera sustentação política ao seu irmão em 2014, na disputa pelo Governo do Estado. E para se prestar ao papel de adulador, o presidente do PTB foi no tema mais delicado a João, a Operação Navalha.
“Quem inventou a Operação Navalha foi o ex-presidente Lula, que afirmou que iria ferrar com João. Foi missa encomendada para destruir politicamente João Alves Filho”, disse. Questionado por um ouvinte se a Justiça estaria envolvida neste suposto esquema, já que foi por determinação judicial que o filho do prefeito de Aracaju, o empresário João Alves Neto, foi preso, Edivan afirmou que a Justiça comete “equívocos” e neste caso foi “um equívoco muito grande”. Estaria também o Superior Tribunal de Justiça (STJ) cometendo novos equívocos agora ao aceitar a denúncia?
Sobre a suposta aliança entre PT e DEM, que tanto assusta Amorim, ele afirmou que “essas especulações de que Déda e João irão se unir não duram”. “O PT quer na verdade dividir as oposições. Começamos a construir uma aliança com o prefeito João Alves filho. Há um desejo de ambos os lados de continuarmos e manter essa aliança para 2014. É um desejo do nosso e do agrupamento dele. Em 2012, nossa participação foi fundamental para a eleição de João no primeiro turno em Aracaju”, afirmou.
Para repisar este tão bom relacionamento que existiria entre ele e João, Edivan ainda afirmou que “está vacinado sobre especulações”. “Eu e João temos uma boa relação. As pessoas que mais amo na vida são as mesmas que João mais ama também”, afirmou, em referência aos filhos dele que são netos do prefeito.
Contra Mendonça, Edivan disse que ele é invejoso e o desafiou a construir um bloco político semelhante ao que lidera. Já ao final da entrevista, o presidente do PTB se disse uma pessoa “até inocente”, mas que “crê nos destinos que Deus dá” a cada um. “Todo mundo tem uma missão nesta terra. Estou desempenhando a minha da melhor maneira possível. Quero realizar o bem independente de quem, acima de tudo e de todos”, encerrou. Soou quase jocoso.