“Houve uma confusão, na família mesmo, e durante isso eu sofri injúria racial, fui chamada de ‘negrinha’, de ‘urubu’. Vim aqui no DAGV, e fui muito bem atendida. Deu tudo certo”. Esse é o relato da técnica em radiologia Sheila Regina, de 43 anos. Da mesma forma que ela, diariamente, muitas pessoas são vítimas de injúria racial pela cor da pele. O racismo foi sendo construído historicamente nas bases da sociedade e ainda persiste nos dias de hoje. Por isso, neste dia 20 de novembro, Dia da Consciência Negra, a Secretaria da Segurança Pública (SSP) orienta para que as vítimas desses crimes procurem o Departamento de Atendimento a Grupos Vulneráveis (DAGV).
No trabalho, na rua, na escola, na própria família, em todas as situações e contextos sociais, a violência racial está presente em ações, olhares e palavras. Assim, visando combater a prática do racismo e da intolerância racial, o DAGV, que funciona como unidade plantonista 24 horas, conta com uma delegacia especializada no atendimento às vítimas desses crimes, a Delegacia de Atendimento a Crimes Homofóbicos, Racismo e Intolerância Religiosa (Dachri). A delegada Meire Mansuet relembrou a importância do Dia da Consciência Negra na luta contra o racismo.
“O dia 20 de novembro é uma data que nos traz reflexão devido à morte do grande líder negro, Zumbi dos Palmares, e essa reflexão serve para que possamos compreender toda a violência que sofre a população negra, tanto da discriminação, do preconceito, quanto da desiguldade social. Nós da Dachri estamos aqui para acolher todas as vítimas que foram discriminadas, que tiveram a sua honra diminuída devido à cor da pele”, ressaltou.
Meire Mansuet detalhou que a delegacia recebe as vítimas de racismo, realiza os procedimentos cabíveis a cada caso e remete os inquéritos policiais à Justiça. “Nós do DAGV fazemos o procedimento policial, apuramos todos os crimes de racismo, de intolerância e de injúria racial e encaminhamos ao Poder Judiciário. Racismo é inadmissível. É imprescindível a parceria com os movimentos sociais e instituições civis que combatem o racismo. A Polícia Civil anda pari passu com todas as instituições da sociedade civil para o enfrentamento e combate ao racismo, não deixando passar impune nenhuma atitude racista em Sergipe”, reiterou.
E foi acreditando no DAGV que a técnica em radiologia Sheila Regina procurou a Dachri, onde teve o caso de injúria racial que sofreu encaminhado à Justiça. “Hoje sou do lar e no momento estou em casa cuidando do meu bebê. Houve uma confusão, na família mesmo, e durante isso eu sofri injúria racial, fui chamada de ‘negrinha’, de ‘urubu’. Essa agressão eu sofri em um sábado, engoli até a segunda-feira, e procurei a delegacia. Vim aqui no DAGV, e fui muito bem atendida, não houve burocracia”, contou.
Sheila Regina revelou que a palavra dela foi de extrema importância para que o caso chegasse ao conhecimento da Justiça e tivesse uma resposta à agressão sofrida por ela. “Eu consegui testemunhas e não precisei de fotos ou vídeos. Eu tinha minhas testemunhas, que vieram e prestaram depoimento. Deu tudo certo, fui muito bem atendida por toda a equipe, mas teve uma pessoa, o escrivão Geraldo, que me acolheu de verdade e me deixou super à vontade, e me ajudou a seguir. Às vezes dá vontade de desistir, você pensa na vergonha, mas não desista e vamos ter fé na lei”, assinalou.
O caso foi encaminhado à Justiça, conforme citou a técnica em radiologia. “Daqui [do DAGV] eles mandaram para o Fórum e vai ser resolvido, sim. Não vamos mais aceitar isso de maneira alguma. Estamos em pleno século XXI e não deveria nem ter existido o racismo. Somos vítimas sim, temos que seguir e procurar nossos direitos. Hoje, me sinto feliz. Fiquei muito triste com tudo o que aconteceu, mas hoje me sinto muito feliz. Estou satisfeita e digo que não desistam, venham e denunciem”, orientou.
Assim como a violência racial sofrida por ela, diversos outros casos acontecem diariamente. A delegada Meire Mansuet rememorou outro crime racial que teve o registro feito na Dachri. “Uma moça que trabalha em uma empresa e foi discriminada pela cor de sua pele, aqui na nossa cidade. Um cliente disse que ela não teria capacidade de estar naquela função por ser negra. O caso chegou ao nosso conhecimento, instauramos o inquérito policial, o cidadão foi indiciado pela prática de racismo, foi encaminhado ao Poder Judiciário, onde o Ministério Público o denunciou pela prática de racismo”, especificou.
Meire Mansuet destacou o apoio da SSP no combate aos crimes raciais e pediu que as vítimas procurem a Dachri, que fica localizada no DAGV. “Esse ano é emblemático, mas, aqui em Sergipe, nossos gestores seguem sensíveis à causa. O nosso secretário João Eloy nos dá total apoio, tanto que criou a nossa delegacia. A população não pode ficar calada, tem que denunciar, não pode compactuar com os casos de racismo, de intolerância, e os crimes de ódio. E a delegacia está aberta para que os autores desses crimes sejam punidos de forma exemplar”, pontuou.
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Matéria extraída do site da SSP/SE