Pela primeira vez desde a eleição de Jair Bolsonaro, teremos um desfile de 7 de setembro sem ameaças golpistas. Será um evento com forte conotação conciliadora, com objetivo de apartar as Forças Armadas da política e mostrar que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva confia nos comandos militares. No último dia 19, junto com o ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, Lula acertou a orientação política do evento com o almirante Marcos Sampaio Olsen (Marinha), o general Tomás Miguel Paiva (Exército) e o brigadeiro Marcelo Damasceno Aeronáutica. Todos estão em sintonia com o esforço de pacificar seus respectivos comandados, que foram muito influenciados pelo golpismo.
O foco de tensão existente ainda hoje nas Forças Armadas são as investigações sobre os atos golpistas de 8 de janeiro, que provocaram a queda do ex-comandante do Exército Júlio Cesar Arruda. Ao contrário do general romano que lhe empresta o nome, Arruda não atravessou o Rubicão, embora tenha sido condescendente com os golpistas acampados em frente ao Quartel-General do Exército, razão de sua demissão. Era o general mais antigo e, por isso, fora escolhido para o cargo, por sugestão do ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, um político pernambucano, que se caracteriza pela elegância no trato e o espírito político conciliador.
Múcio organizou a reunião de Lula com os comandantes militares para “falar de tudo”. Mas o prato principal foi a reaproximação com os militares, depois da tentativa de golpe de estado de 8 de janeiro. Os comandantes da Marinha, do Exército e da Força Aérea defendem a investigação e a punição de militares que tenham se envolvido em atos golpistas. “Os militares são legalistas, ficaram muito isolados após o 8 de janeiro, sob desconfiança da esquerda e ataques da extrema direita”, disse o ministro da Defesa, ontem, ao Correio.Também se falou de investimentos nos projetos prioritários das três Forças, que têm um orçamento maior do que o da Educação. Para 2024, Lula teria prometido aumentar a verba da pasta em cerca de 0,2% do PIB, chegando a 1,5% das riquezas produzidas pelo país.
Neste ano, as Forças têm R$122,8 bilhões no orçamento, sendo R$ 36 milhões voltados para projetos de defesa nacional e o restante para custeio da máquina. O montante significa 1,3% do Produto Interno Bruto (PIB). Os militares trabalham nos bastidores do governo e do Congresso para aumentar o Orçamento para 2% do PIB nos próximos anos.
Depois da reunião dos comandantes com Lula, surgiram fatos novos envolvendo o ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro, tenente-coronel Mauro Cid, e seu pai, o general de quatro estrelas Mario Cezar Lourena Cid, que surpreendeu o Alto Comando do Exército ao participar da venda de um Rolex cravejado de brilhantes nos Estados Unidos, joia que Bolsonaro havia recebido de presente da Arábia Saudita e que deveria ser incorporada ao Patrimônio da União. Outro assunto constrangedor é a suposta reunião do general Paulo Sérgio, então ministro da Defesa, com o hacker Walter Delgatti.
Esses constrangimentos, porém, reforçam a autoridade dos comandantes militares, que defendem o não envolvimento dos oficiais da ativa das três Forças com a política e querem, inclusive, mudar a legislação para que os militares que vierem a ocupar cargos de governou deixem a ativa definitivamente, exceto naqueles postos que são realmente de atribuição militar.
Programação
A celebração do Dia da Independência do Brasil na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, será pautada pelos símbolos republicanos, como o Brasão, a Bandeira do Brasil e o Hino Nacional. O desfile terá quatro eixos temáticos, uma novidade: “Paz e Soberania”, “Ciência e Tecnologia”, “Saúde e Vacinação” e “Defesa da Amazônia”. São temas sobre os quais os militares têm o que mostrar à sociedade. A presença do presidente Lula nos desfiles, como comandante supremo das Forças Armadas, terá repercussão política internacional, em razão da tentativa de golpe de 8 de janeiro e dos desfiles realizados durante o governo Bolsonaro. Há 200 autoridades convidadas.
“A programação da comemoração do 7 de Setembro na Esplanada ficou a cargo da Secretaria de Comunicação da Presidência, o desfile será mais enxuto e servirá para demostrar a coesão, a disciplina e o compromisso com a democracia das Forças Armadas”, disse José Múcio.
O roteiro do desfile prevê a passagem de tropas da Marinha, Exército e Aeronáutica, a apresentação de escolares, além de bandas marciais e representantes de várias instituições. A grande atração, como sempre, será o show aéreo da Esquadrilha da Fumaça. Após o desfile, haverá uma exposição multimídia na área externa do Museu Nacional em homenagem às Forças Armadas.
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por Luiz Carlos Azevedo, do Correio Braziliense