Arthur Sandes*
Do UOL, em São Paulo
No tempo em que você lê este texto até o final, ao menos uma morte oficial por covid-19 será registrada no Brasil. A última atualização do Ministério da Saúde, divulgada hoje (19), mostra que, nas últimas 24 horas, foram contabilizados 1.179 óbitos pela doença causada pelo coronavírus, com média de uma a cada 73 segundos. Ao todo, o país registra 17.971 mortes pela covid-19.
O país atingiu 271.628 diagnósticos, sendo 17.408 casos confirmados entre ontem e hoje. Ao menos 146.863 seguem em acompanhamento e, segundo a pasta, 106.794 se recuperaram da doença.
Trata-se de um novo recorde de mortes registradas em um dia, passando os 881 óbitos contabilizados na terça-feira passada (12). Os picos têm sido neste dia da semana porque, entre sábado e domingo, os dados não são registrados no sistema na mesma velocidade que nos dias úteis.
Hoje foi o primeiro dia nesta pandemia em que o Brasil contabilizou mais de mil mortes pela covid-19. Trata-se do quinto país do mundo a chegar neste patamar, após Estados Unidos, França, Reino Unido e China. O novo patamar atingido hoje coloca a covid-19 como a principal causa de mortes hoje no Brasil.
O novo patamar atingido hoje coloca a covid-19 como a principal causa de mortes hoje no Brasil.
Sem ministro Desde sexta-feira, o Brasil está sem um ministro da Saúde para conduzir o combate à pandemia. Na última sexta-feira, o oncologista Nelson Teich deixou o governo federal menos de um mês após ter assumido para substituir Luiz Henrique Mandetta, demitido pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Em seu lugar, atua interinamente o general Eduardo Pazuello.
A pressão feita pelo presidente pelo uso de cloroquina no tratamento de pacientes contaminados e suas críticas ao isolamento social, desdizendo em público orientações da pasta, pesaram na saída de ambos os ministros em tão curto período.
Em sua breve gestão, o ex-ministro da Saúde Nelson Teich já havia admitido no final de abril a possibilidade de o Brasil contabilizar mil óbitos por dia no decorrer da emergência de saúde.
“Se tivermos um crescimento significativo na pandemia, é possível acontecer”, adiantou na ocasião, ponderando que, à época, tal cenário não era uma certeza. “Não quer dizer que vai acontecer. Temos que acompanhar a cada dia para tomar as decisões”, afirmou.
Por trás dos números, tragédia é ainda maior Os 1.179 óbitos registrados nas últimas 24 horas não significam que todas estas pessoas morreram de ontem para hoje, mas sim que as mortes foram oficializadas como relacionadas à covid-19.
Ainda que o Ministério da Saúde divulgue o total de mortes todos os dias, o número está sempre desatualizado porque os resultados dos exames demoram a sair. Há casos em que uma morte causada pela doença demora até 50 dias para entrar nas estatísticas do governo, conforme apurado pelo UOL.
Também há subnotificação. Segundo os dados oficiais, o Brasil realizou 386,5 mil testes não específicos de covid-19 (que identificam vírus respiratórios no geral). Com isso, a taxa de testagem é de apenas 1,82 por 1 mil habitantes, enquanto as taxas de Itália (50,3) e Estados Unidos (37,4) são mais de vinte vezes maiores.
Quem testa menos naturalmente faz menos diagnósticos de covid-19, explica o infectologista Eliseu Waldman, da Faculdade de Saúde Pública da USP (Universidade de São Paulo). “A falta de testes é um problema. Muitos óbitos ficam como suspeitos: tiveram uma Síndrome Respiratória Aguda Grave e suspeita de covid-19, mas nunca confirmada.
País é o 3º em número de casos.
Enquanto a maioria dos países mais afetados pela doença já está do outro lado do pico de contaminações, o Brasil ainda vê a covid-19 em fase de aceleração, e ninguém sabe com certeza quanto esta etapa vai durar.
“Depende muito do confinamento das pessoas. Se o isolamento social for baixo, há um aumento rápido no número de mortos. Se o isolamento for rígido, acontece menos mortes e o pico é diluído ao longo do tempo. Enquanto estiver como hoje, meia boca, vai continuar morrendo muita gente”, alerta o infectologista Marcos Boulos, da Superintendência de Controle de Endemias de São Paulo (Sucen-SP).
O país é o terceiro com maior número de infectados pela covid-19 no mundo. Segundo a Universidade Johns Hopkins, que apresentam defasagem em relação aos dados do governo brasileiro recém-divulgados, são estes os países mais afetados pela pandemia atualmente:
Estados Unidos: 1.524.107 casos diagnosticados
Rússia: 299.941 casos diagnosticados
Brasil: 265.896 casos diagnosticados
Reino Unido: 250.138 casos diagnosticados
Espanha: 232.037 casos diagnosticados
Itália: 226.699 casos diagnosticados
França: 180.933 casos diagnosticados
Alemanha: 177.778 casos diagnosticados
Turquia: 151.615 casos diagnosticados
Irã: 124.603 casos diagnosticados.
A pandemia nos estados Estado mais afetado pela covid-19 no Brasil, São Paulo foi o que mais registrou casos (2.929) e mortes (324) nas últimas 24 horas. O recorde de óbitos fez o total de vítimas fatais chegar a 5.147.
Na lista de maior número de diagnósticos nas últimas 24 horas, estão ainda Bahia (2,4 mil novos casos) e Ceará (1.749).
Com 227 óbitos confirmados de ontem para hoje, o Rio de Janeiro chegou ao número mais alto desde o início da pandemia no estado.
O Pará ainda é o estado em que a covid-19 avança com maior velocidade. No período de uma semana, o estado viu o número de casos oficiais crescer 89% e o de mortes, 75%. Trata-se do maior crescimento proporcional entre os vinte estados do Brasil mais afetados pela pandemia — Tocantins e Roraima têm aceleração maior por terem poucos casos e óbitos.
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* Colaborou Juliana Arreguy.