William Correia, da Gazeta Esportiva
A temporada do centenário palmeirense, na qual a torcida sonhou com heróis, terminou cheia de vilões ainda no último jogo do ano. Mas o presidente Paulo Nobre, o principal deles, pôde respirar aliviado em seu camarote no Palestra Itália. O time que ele montou foi incapaz de ir além do empate por 1 a 1 com o Atlético-PR, sem pretensões no Brasileiro. Impossível não vaiar essa equipe. O rebaixamento, porém, não veio graças à vitória do Santos sobre o Vitória, em Salvador.
A única vitória que os mais de 33 mil pagantes no estádio do Verdão viram nesta tarde foi o xará baiano, que parou no Santos no Barradão. A camisa verde, campeã do século XX, dona de mais títulos nacionais entre todas do futebol brasileiro, mais uma vez, foi mal representada.
Lúcio personificou o desastroso ano, não acertando quase nada e contribuindo para Ricardo Silva abrir o placar para os paranaenses, aos nove minutos de jogo. Dez minutos depois, um pênalti duvidoso deu a Henrique a chance de converter e empatar, aos 19 do primeiro tempo. Um raro momento de alegria para uma torcida cansada de sofrer.
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Wesley, vaiado antes mesmo de o jogo começar, invalidou o esforço de Valdivia, que jogou sem condições físicas e viu o volante interromper ataques sempre que tocava na bola. Para piorar, o ano terminou com Victorino formando com Lúcio a mesma zaga que levou 6 a 0 do Goiás. Nomes que explicam a tensão que dominou o estádio e só não virou tragédia graças ao Vitória, mais incapaz do que o Palmeiras e, por isso, rebaixado – o Bahia, que também podia passar o Verdão, só empatou com o Coritiba, no Paraná.
O jogo – Dorival Júnior resolveu apostar em Valdívia, mesmo sem plenas condições físicas por conta de dores na coxa esquerda, e aumentou a força ofensiva apenas trocando peças. Optou por Mazinho como alternativa para levar a bola a Henrique e manteve a alternância do zagueiro Gabriel Dias entre a defesa e o meio-campo.
Com esse posicionamento, a possibilidade de ir à frente sempre passava pelos pés de Valdívia, mas tinha João Pedro avançando pela direita, e Mazinho se mexendo. Mas a organização tática, realmente, não era o forte do time. Gabriel Dias mostrava claro desconhecimento do que deveria fazer e, muitas vezes, tentava ser opção como meia, com Renato mais preocupado em marcar.
Baseado na vontade, rara virtude do elenco montado para representar o Palmeiras no centenário, o Verdão levou perigo em chute bisonho de Lúcio, que recebeu cobrança de falta completamente livre na área e isolou. Mal sabia o palmeirense que o veterano zagueiro traria muito mais prejuízo em sua função.
O Atlético-PR, melhor posicionado e menos disposto, logo percebeu que o lado direito da defesa alviverde, exatamente o de Lúcio, era um atalho para deixar de ser coadjuvante para virar protagonista. Dellatorre se encaixou nas costas de João Pedro e, por ali, tinha em Lúcio o melhor caminho: nada parecia tão fácil quanto driblá-lo.
Aos nove, o atacante passou facilmente pelo veterano e só não abriu o placar por excelente defesa de Fernando Prass e Gabriel Dias virou herói ao salvar em cima da linha a finalização de Douglas Coutinho. Quando o palmeirense ainda xingava Lúcio, na cobrança de escanteio, o envelhecido zagueiro subiu mal, deixando Ricardo Silva à vontade para balançar as redes.
Lúcio passou a ser alvo de intensas vaias todas as vezes em que pegava na bola. No meio-campo, o Verdão tinha outro vilão: Wesley. Xingado antes mesmo do jogo, o volante justificava as contestações ao interromper as jogadas de ataque e errar em quase tudo que tentava. Até diminuiu a corrida em lançamento no qual sairia na frente do goleiro Weverton.
Na base da raça, já que Valdivia não tinha condições de se mexer como o time precisava, o Palmeiras conseguiu, enfim, fazer o torcedor sorrir. Mesmo errando. Aos 18 minutos, um passe de João Pedro na grande área bateu na zaga e a sobra ficou para Gabriel Dias chutar. A bola bateu no braço do zagueiro Drausio e o árbitro bateu pênalti. Henrique, o único com tensão controlada naquele momento entre todos no estádio, teve competência para converter e fazer o primeiro gol do clube nesta volta ao seu estádio.
Mas os sustos causados por Lúcio eram permanentes. O atacante Nathan, do Atlético-PR, também resolveu se aproveitar, e, aos 27, limpou facilmente o veterano até para em nova boa defesa de Prass. Antes, aos 24, Nathan partiu para cima de seu xará e de Victor Luis, do outro lado, cruzando rasteiro e só não encontrando um colega livre porque Prass desviou a bola do caminho perigoso.
Em meio à tensão, Valdivia venceu suas dores para aparecer. Teve seu nome gritado pela torcida ao vencer três divididas seguidas e exigia movimentação dos colegas, para tentar a virada. Nesse espírito, Renato levou perigo em chute rente ao travessão, aos 35, mas os vilões do Palmeiras continuavam em campo vestindo verde.
Aos 40, Douglas Coutinho venceu Lúcio e obrigou Prass a fazer nova boa intervenção. Cinco minutos depois, o zagueiro teve um raro acerto ao puxar contra-ataque que Wesley jogou fora, abrindo mão de tocar para Henrique e chutando muito fraco, nas mãos de Weverton. Era impossível o palmeirense não vaiá-lo desse jeito.
No intervalo, Valdivia demorou a sair dos vestiários e causou tensão até ser aplaudido, sendo o último a entrar em campo para o segundo tempo. Nenhum dos técnicos quis fazer alterações. Para alegria alviverde, porém, Dorival cansou de Wesley e o trocou por Cristaldo, aos nove. A comemoração foi similar à de um gol no Palestra Itália.
Cristaldo impôs mais correria, mas a real chance de esperança palmeirense estava no esforço de Valdivia para superar suas dores. O Verdão se colocou no campo do Furacão, que não se incomodava em deixar mesmo o chileno com liberdade para criar oportunidades. Defensivamente, o time perdeu Nathan, machucado e substituído por Victorino, certamente um dos vilões ao longo da campanha.
Mas os paranaenses não estavam mais incomodando tanto. Para melhorar o fôlego na frente, Mouche entrou no lugar de Mazinho. E o Verdão, na base da vontade, quase marcou com Cristaldo, aos 23. Tudo passando pelos pés de Valdivia, único com real qualidade que manteve a esperança de quem esteve no Palestra Itália neste domingo ensolarado.
O chileno passou a ter com Mouche uma opção mais útil pela esquerda, e não cansou de dar bolas para o argentino. Dele, saíram seguidos cruzamentos e em um deles, aos 34, Gabriel Dias, na pequena área, desviou rente à trave, causando tensão a torcedores que, naquele momento, já estavam preocupados com Vitória x Santos em Salvador. Thiago Ribeiro, com gol no fim na Bahia, trouxe alívio.
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