Jornalista emite nota explicando suposta prisão, critica a PM e diz que é perseguição
SE NOTÍCIAS publica a seguir a nota do jornalista César Gama:
No dia de hoje, 19 de maio de 2012, me encontrava no estabelecimento da Orla de Atalaia conhecido por Cleide Lanches, onde ouvia músicas, fazia um lanche e tomava uma cerveja, em que estavam apenas mais dois outros clientes no local. Na ocasião, fui abordado no interior da casa por um grupamento da Polícia Militar, comandado pelo Cabo Correia, que imediatamente foi ao meu encontro perguntando-me se eu estava armado. Informei que sim e apresentei-lhe meu porte federal de arma, válido até dezembro de 2012, que está em vigor há mais de 20 anos – sendo renovado periodicamente, juntamente com meu documento de identidade profissional da Federação Nacional dos Jornalistas, que o cabo disse não servir para nada, em sua opinião, por não ser um documento válido – um absurdo – razão pela qual insistiu em que eu deveria apresentar outro documento de identidade.
Ato contínuo, o cabo solicitou a arma, uma pistola, para conferir a numeração do documento, quando retruquei-lhe que era melhor que fossemos ao banheiro, para que os clientes que estavam no local não se assustassem com o fato. Em seguida, apresentei-lhe a arma no local onde sugeri que todos fôssemos. Após conferir a numeração com o documento do porte em vigor, o cabo devolveu-me a pistola e disse-me que esperaria a chegada de um tenente para conversar comigo.
No tempo em que esperávamos a chegada do oficial superior, um dos policiais militares afirmou me conhecer de longa data, pois eu teria sido um dos responsáveis pela ascensão do jornal Cinform no período em que denunciei um grupo de extermínio que atuaria no pelotão de choque da Polícia Militar. Logo a seguir, o cabo que chefiava a ronda, olhando para mim e sem o mínimo constrangimento, afirmou em tom acusatório: o senhor é inimigo da Polícia Militar!
Não pude me conter. Argumentei-lhe que de modo algum era contra a corporação, mas sim contra os maus policiais que infestavam a instituição e que, de arma em punho, fardamento, porte autorizado e pagos pelo contribuinte, cometiam crimes contra inocentes à revelia da lei e da justiça.
O cabo não gostou das minhas palavras e disse-me que, após as denúncias que fiz contra o grupo de extermínio no pelotão de choque, ele, que à época também fazia parte do pelotão, substituiu alguns dos colegas que foram afastados por conta das denúncias, afirmando ainda que nunca teria feito parte das operações que foram alvo das acusações.
Logo após, chegou um tenente, que informou estar de fato o meu porte federal de arma em dia, mas solicitou que eu me retirasse do local, pois como no ambiente ocorria a venda de bebidas alcoólicas, eu não deveria permanecer ali, ainda que estivesse com porte. Disse-lhe que estava me sentindo constrangido e tolhido no meu direito de ir e vir.
Foi então que o tenente levantou-se da mesa e ligou para um capitão, que lhe recomendou que eu fosse conduzido para a delegacia plantonista para prestar esclarecimentos.
Em momento algum fui preso, algemado ou conduzido coercitivamente porque não havia razão para tanto. Não cometi nenhum crime nem resisti a uma prisão que não houve. De boa vontade, achando toda aquela situação um tanto quanto surrealista, ou talvez resultado do meu passado de atividades no jornalismo investigativo – onde prejudiquei muitos maus policiais civis e militares -, peguei meu próprio carro e segui o veículo da PM até à delegacia plantonista, conforme eles haviam solicitado.
Lá chegando, esperei horas a fio, enquanto os PMs da ronda, o Tenente, o cabo Correia e outros, tentavam convencer o delegado Garcia, que era o plantonista durante o episódio, para que lavrasse o flagrante contra mim, senão por porte ilegal de arma – um despautério – pelo menos por desobediência à ordem para que me retirasse da Cleide Lanches. Posteriormente soube que até um Coronel da PM ligou para a delegacia, tentando convencer o delegado de que um flagrante deveria ser lavrado – conforme fui informado por fonte da própria delegacia.
Após as horas de pressão dos PMs, fui ouvido pelo mesmo delegado, o Garcia, que disse ter sido a primeira vez que lhe chegava às mãos um caso tão inusitadamente surreal.
Ao final, prevaleceu o bom senso, com o delegado constatando que não havia razão para lavrar o flagrante, vez que eu não havia cometido crime algum, limitando-se a elaborar um termo circunstanciado, onde registrou os fatos – apresentando a versão dos PMs e a minha -, quando logo a seguir fui liberado, sem que nenhuma acusação formal fosse elaborada.
Por outro lado, na semana anterior, na mesma Cleide Lanches, um membro do Corpo de Bombeiros desferiu vários tiros para o ar com a sua pistola na frente do estabelecimento, assuntando a clientela, os donos e a segurança do local, e em seguida entrou no ambiente portando a arma como se nada tivesse ocorrido. Uma viatura da ronda 190 foi chamada ao local, o bombeiro identificado e sua arma recolhida por uma oficial mulher da PM juntamente com quatro outros policiais militares, que abordaram o infrator e, assim que souberam que se tratava de um colega, não apenas o liberaram, como devolveram a arma com a qual ele se encontrava. Alguns amigos meus, que se encontravam na Cleide Lanches, chegaram a perguntar: César, você não vai fazer uma denúncia de prevaricação contra estes PMs? A única coisa que lhes respondi foi que aquilo para mim era uma brincadeira, pois como já havia visto muitos PMs matando cidadãos inocentes, apenas atirar para o alto me parecia coisa menor. Eu preferiria ignorar, exceto se o caso fosse grave.
Seguramente o CIOSP, com as suas câmeras na Atalaia, deverá ter em mãos o vídeo com o deslavado ato de prevaricação cometido pelos policiais da ronda 190 para protegerem o colega.
É o que poderíamos denominar de dois pesos e duas medidas!
Só depois compreendi que é justamente protegendo de modo corporativo os companheiros de farda em crimes menores aqui e ali, que a corporação acaba construindo os maus policiais que, se acreditando impunes e acima da lei e da ordem, acham que podem, por exemplo, entrar num Hospital de Urgência e assassinar pacientes inocentes em meio ao atendimento crítico emergencial de centenas de enfermos.
César Gama – Jornalista