Aconteceu esta sexta-feira, 22, mais uma audiência do Caso Cristian Góes. Representantes sindicais, movimentos sociais e jornalistas estiveram no local da audiência, na sede do Tribunal de Justiça, para manifestar apoio ao jornalista que está sendo acusado de se referir ofensivamente ao desembargador Edson Ulisses em um texto ficcional, no qual Cristian não faz referência a tempo, pessoa e lugar.
Durante toda a audiência, as estruturas do Poder Judiciário estiveram voltadas ao processo. A prova disso foram os supostos trabalhadores do Poder Judiciário,designados a ocupar as cadeiras da sala de audiência, em horário de trabalho, afim de evitar que pessoas que estavam ali a favor do jornalista, pudessem assistir à audiência, inclusive seus próprios familiares, que só foram liberados após insistência dos presentes.
Além delimitar o número de pessoas dentro da sala de audiência, a juíza Brigida Fink proibiu qualquer registro da audiência, seja por foto ou gravação, o que causou um sentimento de indignação a todos que ali estavam acompanhando o debate.
“Para nós que defendemos a liberdade de expressão, o cerceamento de qualquer registro,vindo por parte do Judiciário, nos causa um grande temor. Não estamos entendendo em que a Juíza se amparou para negar o direito de qualquer individuo registrar o fato que é público, que está sendo julgado em um lugar público e que é de interesse social. Realmente é algo bem incompreensível”, afirma Lidia Anjos, integrante do Movimento Nacional dos Direitos Humanos.
Na audiência, ficou definido que o jornalista deverá apresentar, num prazo de cinco dias, uma nova testemunha de defesa para o caso, já que a proposta feita pelo advogado de Cristian, Antonio Rodrigo Machado, em ouvir como testemunha de defesa o governador Marcelo Déda foi indeferida pela juíza responsável pelo caso.
“Fizemos a proposta de apresentarmos como testemunha o Governador do Estado de Sergipe,Marcelo Déda, para que ele possa dar a opinião em relação a sua identificação ou não no texto ficcional escrito pelo jornalista, mas a juíza negou o pedido. Deixamos registrados nos autos que não entendemos a negativa”, afirma o advogado, Rodrigo Machado.
Foi proposta também uma pena alternativa para o jornalista, negada imediatamente.Uma nova audiência acontecerá no dia 19 de abril, desta vez nos Fóruns Integrados do DIA.
Para Cristian Góes, o que aconteceu na audiência já era esperado. “A gente conhece, de certa forma, como as coisas acontecem nesse estado, então não me surpreendi com a decisão da juíza. Ficou provado juridicamente que é impossível relacionar meu texto ao cenário político do estado, mas a juíza insistiu que é possível” lamenta.Apesar da constatação, o jornalista afirma que não perderá o estímulo para continuar a luta. “Acredito que, mais cedo ou mais tarde, nessa ou em outra instância, irei conseguir a vitória, não tenho dúvida disso”, diz.
O presidente da Central Única dos Trabalhadores, Rubens Marques, considerou a ação desrespeitosa e manifestou sua opinião a respeito do fato. “No Brasil, os desembargadores se acham deuses. Em Sergipe, eles têm certeza”, ironizou. Eleavalia ainda, a acusação do desembargador como subjetiva. “Estão acusando Christian em cima de justificativas subjetivas. Acho que o governador Marcelo Déda, citado o tempo inteiro por Edson Ulisses, deveria estar no local para ser ouvido. Ele é peça importante no caso”, afirma.
O Sindicato dos Jornalistas de Sergipe, Sindijor, representado pela presidente Caroline Rejane Santos,reafirma o apoio ao caso. “Me posiciono hoje com preocupação em relação aoprocesso contra Christian, compreendo que não é uma questão pessoal dele, é simda profissão que ele exerce. Hoje está acontecendo com ele, mas amanhã podeacontecer com qualquer um de nós, jornalistas. É um atentado a liberdade deexpressão”, ressalta Caroline.
Entenda ocaso
O jornalista Cristian Góes foi processado criminalmente pelo desembargador Edson Ulisses após publicar um texto ficcional em que o processante se sentiu enquadrado no enredo.
No texto, de caráter literário,intitulado “Eu, coronel de mim”, o jornalista narra em primeira pessoa o retratodo coronelismo e autoritarismo político. Apublicação não faz referência a pessoas, datas e lugares. Uma primeiraaudiência aconteceu em janeiro deste ano, mas não houve conciliação, já que foiproposto ao jornalista uma pena alternativa e segundo ele, aceita-la seriaassumir uma culpa – que não é dele – no processo.
Agência Voz