Nathalia Passarinho, do G1, em Brasília
Líderes de partidos de partidos da base aliada e do oposicionista Solidariedade fizeram nesta terça-feira (11) um desagravo ao líder do PMDB, Eduardo Cunha (RJ), durante reunião do chamado “Blocão” – grupo informal integrado por oito legendas para pressionar o Palácio do Planalto em votações na Câmara.
Em uma demonstração de que as insatisfações da base com o governo continuam, o bloco decidiu ainda manter o apoio à criação de uma comissão para investigar a Petrobras e quer convocar ministros para prestarem depoimentos em comissões da Câmara.
A relação do Palácio do Planalto com a base aliada tem se deteriorado nos últimos meses. Partidos reclamam do não cumprimento de acordos quanto à liberação de recursos de emendas parlamentares, criticam a demora da presidente Dilma Rousseff em concluir a reforma ministerial, e se dizem excluídos das decisões políticas e de lançamentos de programas do governo federal.
O foco da crise é a Câmara dos Deputados e a relação tumultuada que o Planalto tem com Eduardo Cunha. Nesta segunda, a presidente Dilma Rousseff se reuniu com lideranças do PMDB, mas não convidou Cunha, o que foi interpretado por parlamentares como uma tentativa de isolar o líder peemedebista.
De acordo com o líder do PTB, Jovair Arantes (PTB-GO), escolhido como “porta-voz” do encontro do blocão, todos os parlamentares presentes à reunião desta terça fizeram discursos em apoio ao líder do PMDB e manifestaram que, se Cunha for excluído de negociações com o Planalto, todos os parlamentares se sentirão isolados.
“A forma como partiram para cima do Eduardo Cunha foi estúpida. Houve um desagravo na reunião. Todos os líderes defenderam o Eduardo, porque ele foi injustiçado. Isolá-lo é isolar toda a Câmara. Se o governo acha que pode governar só com o Senado, tudo bem”, disse Jovair Arantes.
Convocação de ministros
Jovair Arantes disse ainda que parte do blocão deve apoiar requerimentos de convite e convocação de ministros para que compareçam a audiências em comissões da Câmara.
Entre os requerimentos que devem ser analisados nesta quarta (12) está um que propõe a convocação do ministro da Saúde, Arthur Chioro, para que dê explicações sobre o programa Mais Médicos na Comissão de Fiscalização Financeira e Controle.
“Existe uma forte tendência de colocar alguns ministros para dar explicações. É necessário transparência nos atos dos ministérios”, disse o líder do PTB.
Mais cedo nesta terça, o líder do PT, deputado Vicentinho (SP), disse que o partido tentará acordos para transformar as convocações de ministros (quando a autoridade é obrigada a comparecer) em convites. “Vamos pelo menos tentar mudar a forma de chamar os ministros. Amanhã [quarta, 12] será uma grande batalha”, avaliou o petista.
Petrobras
O blocão decidiu ainda que vai tentar aprovar ainda nesta terça (11) o requerimento que prevê a criação de uma comissão externa para acompanhar na Holanda investigações sobre as denúncias de pagamento de propina por funcionários da Petrobras.
“A Câmara não pode ver a principal empresa brasileira misturada com denúncias e não fazer nada”, disse Jovair Arantes.
O PT tentará, contudo, evitar a votação e poderá obstruir a sessão para impedir que haja o quórum necessário para a análise da matéria.
O deputado Vicentinho relatou que apresentará questão de ordem aos líderes para demonstrar que a comissão não cumpre os requisitos regimentais para ser formada, já que, segundo ele, ainda não existe investigação formal das autoridades holandesas sobre denúncias de pagamento de propina por funcionários da estatal.
“Os jornais mostraram que lá na Holanda a informação que veio é que nem lá estão investigando. Eles [os deputados] vão fazer o que? Vão passear? Não me parece de bom alvitre”, disse o petista.