por ALBERTO MAGALHÃES*
A cúpula da segurança pública mudará de novo. Mas, algo vai mudar? Os melhores delegados estarão nela, bem como estão na que está saindo, mas eles não são a Polícia. Esperamos, sim, que aprendam com os erros e acertos do passado para liderar e incentivar a tropa a realizar um profícuo trabalho. Afinal, acostumamo-nos com o pensamento sugerido que diz ser a cúpula, o comando, a chave para a segurança pública. E ficamos a esperar indefinidamente solução para as demandas históricas. Penso que fazer segurança pública não é como armar um jogo de xadrez. O tempo em que os generais, com um cachimbo na boca, se sentavam em mesas e traçavam estratégias para a vitória no campo de batalha, acabou. Nas grandes guerras a estratégia ficou em segundo plano. O que conta agora é o poderio bélico, de bombas, aviões, navios, armas e de homens. Coloquem outro Duque de Caxias no comando militar das três forças brasileiras e desafiem os Estados Unidos da América para nos atacar e verão o resultado.
Ora, os bandidos estão nos atacando! Nas delegacias, nas residências, nos sítios, no comércio. Assassinam ostensivamente policiais militares, invadiram a 1ª DM, a 5ª DM, o Denarc, a DP de Itabaiana, a de Aparecida, etc., e já atentaram gravemente contra diversas autoridades do estado. O comando faz o planejamento, mas a tropa é essencial, cada homem é necessário, pois sem eles as bombas não são lançadas, os aviões não decolam, os navios não se movem. Importante os comandantes, mas são os combatentes que morrem e se arriscam a fim de consumar a missão pretendida numa luta desigual, porque para o nosso inimigo não existe a lei, nem a ética e nem a honra. Na guerra todas as unidades são imprescindíveis, inclusive a que só dá suporte para o combate: sem os que providenciam o reabastecimento de combustível das naves, sem os que operam as informações de satélite, sem os que fazem manutenção e serviço nos equipamentos, nas armas e nos veículos de combate não haveria guerra. O que faz vigília para o inimigo não surpreender é igualmente importante. Não me deixem acreditar que sou descartável, e outro, e outros.
Não se faz a Polícia Civil só com o COPE, DHPP, Denarc e GERB. Para os quais se disponibiliza tudo. E as outras delegacias especializadas, de área e as do interior? Sem homens suficientes, sem condições de trabalho, sem motivação? Com profissionais desprezados em cada projeto produzido, preteridos do processo para o qual foram contratados. Não é mais importante o caso do cash explodido na madrugada (quando nem gente tinha no banco) que os crimes comuns. Não vemos mais as Seções de Investigações e Capturas em efetiva atividade. Os crimes rotineiros que o policiamento ostensivo preventivo (o combativo policial militar) não conseguiu atender, no seu turno, os policiais civis da unidade de área e das especializadas devem elucidar. Precisamos de mais agilidade e eficiência funcional. Já o poder de resolução de homicídios de repercussão, o auxílio aos integrantes das instituições fortes e aos políticos, bem como as informações privilegiadas ficam detidos nas mãos de um seleto grupo de delegados que integram o comando e que monopolizam as ferramentas de trabalho existentes nos principais núcleos de atuação. Quando são feitas operações mirabolantes, com o helicóptero e uma centena de policiais, no Santa Maria e Coqueiral é porque o Estado falhou, o poder público foi omisso. Planejamento para coibir o crime é essencial, mas operações circunstanciais para inibi-lo configura-se estratégia paliativa.
É injusto, sobretudo, com a população desvalida de poder. Isso porque o interesse torna-se, sobretudo, midiático a fim de se dar visibilidade e prestígio somente àqueles que fazem parte do staff, ou seja, do grupo que naquele momento está no poder. Para que, se possível, se eternize no mando. Existe mais disputa entre grupos de delegados e com os segmentos que compõem a base, que outra coisa. Ficamos mentalmente cansados com essa tensão mal disfarçada. No desfecho das operações realizadas o que fica em evidência é o nome dos delegados que ascenderam aos cargos de cúpula, não a Polícia Civil. Como se só eles trabalhassem, fossem eficientes e necessários. Não os policiais civis ou os demais delegados “descartáveis”. Na Polícia Civil hoje só aparecem os “Duque de Caxias”, os caciques. O povo está sofrendo em cada esquina, nos ônibus, na porta de casa e os policiais que eram mais combativos, abnegados, com mais experiência foram desativados para não ofuscar o brilho dos delegados de carreira.
Não é para se ver entrevista de agentes e escrivães e nem, também, de delegados nas operações. Para que existe o chefe de polícia e o assessor de comunicação social da SSP? Ou então (falo com a imprensa) quando entrevistar o delegado participante da operação dê importância ao agente que pulou o muro e arriscou pegar uma bala na cara. Falem da equipe que tornou a operação possível. O agente João Ricardo foi promovido por bravura ou recebeu condecoração quando, sozinho, travou embate armado mortal com dois assaltantes na porta de casa comercial? E eu poderia citar muitos outros. Qual cacique sai do Olimpo e nos faz visitas para conversar com a gente e verificar in loco as nossas condições de trabalho? Em verdade, o agente e o escrivão não têm voz em sua própria casa. Não são verdadeiramente considerados como qualificados profissionais de segurança, detentores de cargo público autônomo em suas funções. O coronel é tão policial quanto o soldado recruta. Assim também deve ser na PC. Mas, há delegado que quer nos tratar como funcionário comum ou menos-valia, daí surgem os impasses.
Há delegados que usaram o domínio administrativo para nos manipular e nos enfraquecer. Por exemplo, concedendo promoções e gratificações extras somente aos agentes próximos e até mesmo as senhas para acesso às ferramentas do trabalho investigativo virtual. Suprimindo prerrogativas. Limitando a natureza funcional de servidores policiais, comumente tolhidos em suas atribuições investigativas. Enfraquecendo assim toda a instituição. Existem agentes com 30 anos de atividade relegados na 2ª classe (a hierarquia compreende três classes) e outros que chegaram “por merecimento”, nos gabinetes, à 1ª classe quando tinham apenas oito anos na instituição. Por tudo isso quando o governador Marcelo Déda assumiu o primeiro governo ganhávamos 10% dos vencimentos dos caciques. Como gorjeta de garçons, mordomos, serviçais. Queremos respeito. Precisamos de compromisso com o todo. Estamos todos entrincheirados frente ao inimigo social. É preciso uma gestão, à moda democrática, de coalizão; praças, oficiais, agentes, escrivães, peritos e delegados. Faz-se necessário um comando novo no novo comando. Nada vai mudar se ele não mudar.
por Alberto Magalhães, Agente de Polícia Judiciária da Polícia Civil do Estado de Sergipe.