*José Firmo
Mobilidade urbana é a frase da moda. É uma das frases mais faladas nos meios de comunicação. E, de fato, é um assunto que incomoda e de difícil solução, principalmente nas médias e grandes cidades.
A clara opção do país pelo automóvel é um dos principais entraves para se minimizar os problemas causados pelo trânsito problemático e, em alguns casos, caótico.
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Toda e qualquer intervenção de maior porte causa reações e resistências dos mais diversos setores da sociedade já acostumada com os problemas ou dos que teriam que ceder para a melhoria na mobilidade urbana.
Ações que visem a melhoria da mobilidade urbana, além de demoradas e caras, são desgastantes para governantes, gestores, técnicos e também para parte da população.
Obras que enlargueçam vias, que desapropriem, que prevejam demolição, que restrinjam ou que mudem rotinas e costumes tendem a sofrer maiores resistências.
Em Aracaju assistimos à polêmica que é criada com a anunciada reforma ou revitalização da Estação Rodoviária Luiz Garcia.
Percebe-se que se trata de uma obra na área da mobilidade urbana, que envolve transporte e trânsito, e o embelezamento de parte do chamado Centro Histórico, com o intuito de melhorar a região para todos, inclusive atraindo turistas e parte da própria população local que deixa de frequentar as lojas ali existentes, preferindo os shoppings e as lojas fora do tumulto central. Não é, nem de longe, uma obra que requeira uma intervenção mais profunda e, consequentemente, mais desgastante. Mas encontramos os que resistem e criticam: comerciantes e ambulantes estabelecidos no local, cooperados ou proprietários de micro-ônibus e representantes das entidades de classe dos comerciantes.
Aqui eu daria dois exemplos de como reagimos mal às grandes mudanças e às obras de revitalização: o primeiro exemplo foi a reforma dos mercados centrais de Aracaju durante a gestão Gama (1997/2000), o que depois e até hoje percebeu-se que foi uma obra necessária e importante para a capital sergipana; o segundo exemplo que aqui apresento foi uma obra de mobilidade em Bogotá, com a qual a prefeitura local adaptou ruas priorizando ciclistas, pedestres e o transporte coletivo, proibindo a circulação de automóveis. A reação dos comerciantes foi imensa, mas depois perceberam que foi uma obra importante e que eles passaram a receber mais clientes e pessoas que compravam mais.
Durante a tentativa de revisão do Plano Diretor de Aracaju, o Fórum em Defesa da Grande Aracaju apresentou uma série de emendas, entre elas as que tratavam de mobilidade urbana e entre as emendas duas versavam sobre o denominado Centro Histórico. Segundo as emendas dos militantes dos movimentos sociais, um retângulo limitado pelas Avenidas Barão de Maruim, Ivo do Prado, Rio Branco, Otoniel Dória, Coelho e Campos e Pedro Calazans seria “protegido” do acesso e do excesso de veículos, inclusive os ônibus circulariam apenas pelas citadas avenidas, o que significa dizer que não entrariam ônibus na Praça João XXIII. Além disso, o fórum sugeria com as emendas a desativação do Terminal de Integração Fernando Sávio e a revitalização da Estação Luiz Garcia, tal qual pretende agora o Governo.
O Governo do Estado, através da Secretária de Desenvolvimento Urbano, tem feito o que se espera de um governo democrático: está ouvindo a todos os segmentos, entretanto a coletividade não pode ser penalizada por interesses localizados e de pequenos grupos. A obra é para a maioria da população sergipana e não para comerciantes e cooperados do transporte intermunicipal, apenas.
Se temos em Aracaju o Terminal Rodoviário, não me parece razoável que tenhamos que receber mais de cem linhas de todas as regiões do estado na acanhada Estação Rodoviária Luiz Garcia.
O que me parece inexplicável é o fato de que os dois pequenos grupos (comerciantes e cooperados) fazem barulho e o resto da população sergipana, beneficiária da obra, tanto na mobilidade urbana, quanto na revitalização do local, silencia. Fica a impressão que se trata de uma obra de interesse restritamente dos técnicos e gestores, contra o interesse de toda população.
A história e os exemplos passados nos ensinam que esse tipo de obra melhora a estima da população, aumenta o fluxo de pessoas no local, contribui para aumentar as vendas e atrai turistas. Isso precisa ser levado em consideração.
*Especialista em Gestão Urbana e Planejamento Municipal, membro do Fórum em Defesa da Grande Aracaju e membro do Conselho de Desenvolvimento Urbano de Sergipe.
*José Firmo é Coordenador do Fórum em Defesa da Grande Aracaju