*Por Joseilton Nery
No último dia 20, a cidade de Aracaju presenciou uma das maiores manifestações da sociedade civil, nos últimos anos, talvez a mais numerosa mesmo, levantando diversas bandeiras que diziam respeito à políticas públicas, à concepção de Estado, à corrupção, à questões de gênero e raça entre outras, no mesmo ímpeto daquelas que vem acontecendo nas metrópoles brasileiras, exceto, nestas, os casos de vandalismo – a depredação dos patrimônios público e privado.
Foram às ruas centrais e do sul aracajuanas, movimentos sociais estabelecidos (entidades sindicais, estudantis, comunitárias e de defesa das minorias). Por lá avistei a CUT, a CTB, a CSP, o Movimento Não Pago, o Levante Popular da Juventude, o Fórum em Defesa da Grande Aracaju. Testemunhei a presença de integrantes partidários com e sem mandato, tais como a deputada Ana Lúcia Menezes (PT), o vereador Emerson Costa (PT), os ex-candidatos a cargos eletivos Alexis Pedrão (PSOL), liderança inconteste do Não Pago, Verinha e Leandro, ambos do PSTU.
Também, um excepcional contingente de pessoas, sobretudo jovens, não vinculados aos segmentos anteriormente mencionados, porém empunhando comuns sonhos e aspirações.
Tudo legítimo. Veementemente indignados, todos retratando a insatisfação com o quadro político institucional vigente prenhe de injustiças sociais, desigualdades, desmandos e impunidade. Todavia, lamentavelmente, um equívoco absurdo: a tentativa de deslegitimar, excluir ou isolar as centrais sindicais da participação na manifestação, particularmente a Central Única dos Trabalhadores (CUT). Na minha visão, uma ofensa provavelmente orquestrada por grupos que se esconderam no anonimato, por trás dos jovens, uns inocentes, outros não tão inocentes assim. Uma boa parcela dessa juventude composta por aqueles que se movimentam na onda do “modismo” ou do “plim-plim”. Juvenis e adolescentes que, infelizmente, não compreendem como funciona a sociedade e em que patamar se sustenta o sistema político em curso, incluindo as instituições sindicais e partidárias.
Quanto a esse infrutífero ataque, daqueles que atuam no sagrado ofício do bem informar, poucos em Sergipe, ou talvez o único, tiveram a coragem e a sensatez de, publicamente, fazer a defesa e a leitura da legitimação da participação da CUT, nesses manifestos, como o jornalista Joedson Teles que exerce o seu mister no blog de notícias Universo Político. E, muito importante, segundo ele próprio afirmou em sua coluna, desprovido de relação com a Central. A isenção do jornalista é fato notório. Aqui não se trata de escriba que lida profissionalmente ou forja a sua luta em simbiose com o ideal cutista, como forjam ou já forjaram, e muito bem, os conceituados Cristian Goes, George Silva, Gilson Souza, Carol Santos, Carol Westrup entre outros.
Pouquíssimas entidades sindicais e outras organizações sociais participaram tantas vezes, nas ruas de Aracaju e de quase todos os municípios sergipanos, como a CUT esteve, desde o nascedouro, desfraldando protestos contra a corrupção nos três poderes centrais (isto mesmo, nos três poderes, intrínseco ao modo capitalista) e as injustiças e desigualdades socioeconômicas, em favor das reformas necessárias de Estado (a política, a urbana e a agrária, são exemplos) e da defesa de políticas públicas para a educação, a saúde, o transporte, a moradia, a comunicação e o meio ambiente. Tudo após estudos, muito deles subsidiados pelo DIEESE, e autorizados por seus fóruns e instâncias de decisão – as plenárias e os congressos.
Diante de todo o cenário, o povo brasileiro precisa ficar atento a algumas indagações: 1. a quem interessa um ambiente de barbárie e vandalismo no país? 2. a quem interessa o isolamento das centrais sindicais? 3. e a inexistência de partidos? Estas perguntas poderão ficar sem respostas, para alguns. Contudo, na minha modesta análise, antecipo: interessa aos golpistas e aos fascistas que fazem até Mussolini corar de inveja em seu túmulo.
Protestos e levantes impetuosos, enérgicos, contundentes, sim. Fortalecimento das instituições democráticas e combate à impunidade, sim. Barbárie e vandalismo, não. Golpe e fascismo, não. Péssimos e inescrupulosos governantes e parlamentares, se derrubam é no voto. Golpe, o Brasil já viu esse filme: censura à liberdade de expressão, fechamento do Congresso Nacional, exílio, prisões arbitrárias, torturas, desaparecimentos e mortes. Jovens, é isso mesmo que vocês querem para o seu país?
*Joseilton Nery Rocha é vice-ouvidor da Universidade Federal de Sergipe