Fábio Lemos Lopes*
São recorrentes os discursos evasivos das autoridades, quando o tema é segurança pública.
Já ouvimos de tudo. Que a culpa da criminalidade que assola toda sociedade é das famílias; em outro momento, das drogas e armas de fogo; sabendo-se que esses dois últimos entram por nossas fronteiras e subsequentemente por nossas divisas, sendo atribuição nesse caso específico das forças armadas e polícia federal, e muito se dá em virtude de leis fracas que não punem com severidade, inegavelmente da “a polícia que prende e o judiciário que solta”, de congressistas, em fim, autoridades que dão entrevistas sobre o tema, falando que a culpa é das “autoridades”. A quem eles se referem?
Nesse diapasão argumentativo, percebemos a nebulosidade que impede grande parte da população humilde de fazer a leitura correta do fenômeno da violência, mas que enxergamos, longe da retórica política. Em primeira análise, fácil é se constatar que todos os índices negativos de desenvolvimento humano culminarão no aumento da violência; seja na educação, moradia, lazer, esporte, transporte, saneamento básico etc. Em síntese, em todas as vias que proporcionem oportunidades para o individuo produzir bem-estar e não delinquir. Mas, somente isso explica? Sabemos que não. Compreender a violência requer vários ângulos de visão.
Vendo um primeiro momento do jogo de empurra político e uma percepção sociológica da violência, tentaremos nos despir da hipocrisia midiática e do tecnicismo científico, para olhar o crime com o equilíbrio de uma balança que busca o seu convencimento nas suas impressões cotidianas. O Instituto Data Folha, em recente pesquisa, aferiu que metade da população brasileira afirma que “bandido bom é bandido morto”. A contrario senso, aqui em Sergipe, é o Estado onde despontamos como um dos mais violentos do Brasil em número de homicídios dolosos. Esses números alarmantes dão conta de que vários PMs foram assassinados em 2015; o que significa que a última barreira entre o cidadão e o meliante já foi transposta.
Em outra vertente, populares no município de Poço Verde aplaudiram um justiceiro em seu enterro, sendo esse, morto pela polícia. Mais recentemente, um perigoso meliante que atendia pela alcunha de Adrianinho, com vários homicídios no seu currículo, foi preso pela polícia no Bairro Santa Maria sob o protesto de simpatizantes do criminoso.
A Secretaria de Segurança Pública de Sergipe divulgou recentemente que 80% dos criminosos são egressos do sistema prisional. Em pesquisa recente da Confederação Nacional de Transporte (CNT) demostrou que 77% da população brasileira têm medo da violência, evitando sair à noite de casa. Esses dados compilados mexem em pontos importantes da vida da população: autoestima, economia, lazer, dentre tantos outros. Todavia, o que realmente é preocupante é que ninguém assume o ônus desse fenômeno chamado violência.
Mais ainda: demonstra-se querer resolver a caótica situação com retórica política ou mesmo se insurgindo contra argumentos de dados estatísticos. “O que percebemos (é uma guerra não declarada) e a indecisão das camadas mais pobres sobre em que lado deverá está, sorrindo muitas das vezes para os lobos que as devoram ou odiando os cães pastores que as protegem”.
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*Fábio Lemos Lopes – bacharel em gestão pública, especialista em violência, criminalidade e politicas públicas e acadêmico de Direito.