‘Repercussões negativas em todo o país’ não devem ser desconsideradas pelo partido, diz André Moura (SE)
O líder do PSC na Câmara, André Moura (SE), convocou reunião da bancada para esta terça-feira, para reabrir a discussão sobre a eleição do deputado Marco Feliciano (PSC-SP) para a presidência da Comissão de Direitos Humanos, segundo informou sua assessoria. Informação divulgada pela assessoria do líder, nesta segunda-feira à noite, diz que as manifestações de setores da sociedade brasileira insatisfeitos com a eleição do deputado Marco Feliciano (PSC-SP) levaram à convocação de uma reunião da bancada. O texto diz que há “repercussões negativas em todo o país que não devem ser desconsideradas pelo partido”.
André Moura disse, segundo sua assessoria, que a discussão saiu totalmente do campo político e se transformou numa batalha de interesses contrariados: “Sinto que é preciso dialogar. Temos plena confiança que o deputado Feliciano desempenhá o cargo com eficiência e respeito a todas as correntes de opinião. Contudo, a Câmara dos Deputados e o PSC precisam estar em sintonia com o sentimento da sociedade brasileira”.
O líder do PSC também lamentou a repercussão, classificando como “estranha a reação de grupos ligados a partidos políticos da própria base do governo, através das redes sociais e de manifestações de rua, que agora tentam impedir a permanência do deputado Feliciano no cargo”.
A discussão na bancada promete ser polêmica, pois não há disposição por parte do comando do PSC de voltar atrás. O vice-presidente nacional do partido, Everaldo Pereira, por exemplo, garante que este assunto está encerrado e que o partido manterá Feliciano na presidência da Comissão de Direitos Humanos.
O GLOBO tentou contatos com o líder André Moura e com o deputado Marco Feliciano, mas não obteve retorno até momento.
Caso seja mantido, a primeira pauta da comissão a ser presidida por ele amanhã já trará temas polêmicos. Feliciano incluiu proposta, da qual é um dos autores, de realização de plebiscito para decidir sobre a união civil entre homossexuais. As bancadas consideradas conservadoras, que agora têm maioria na Comissão, defendem a aprovação da proposta.
Outro projeto de interesses desse grupo que está na pauta penaliza a discriminação contra os “heterossexuais”, de autoria do também evangélico Eduardo Cunha (PMDB-RJ), líder do PMDB. Cunha apresentou essa proposta numa resposta irônica aos movimentos LGBT, que, no seu entendimento, se sentem mais discriminados que os outros.
A deputada Érika Kokay (PT-DF) afirmou que os projetos incluídos na pauta da reunião de amanhã já estavam na ordem do dia das sessões realizadas no ano passado, mas que nunca eram apreciados porque deputados contrários a eles pediam vista ou verificação de quórum, evitando a votação. Esses deputados poderão continuar evitando a votação, mas agora serão minoria.
Feliciano reage a protestos
O deputado-pastor Marco Feliciano (PSC-SP) reagiu nesta segunda-feira, durante culto em sua igreja, o Tempo do Avivamento, em Ribeirão Preto, aos protestos por causa de sua escolha para presidir a Comissão de Direitos Humanos da Câmara. O parlamentar disse que os manifestantes desrespeitam o artigo 5 da Constituição, que trata da liberdade de culto.
– O que acontece nestes dias é uma luta inédita. Pela primeira vez na história do Brasil um pastor sofre tanta perseguição como estou sofrendo – disse o Feliciano – Querem perseguir um homem por expressar a sua fé.- prosseguiu.
O deputado-pastor citou a manifestação ocorrida no domingo em Franca como exemplo de intolerância.
– O artigo 5 da constituição Federal, ao qual os ativistas tanto lutam para seja cumprido, que é o direito de todo ser humano, no nosso caso não pode ser respeitado. Porque no artigo 5 diz que todo cidadão tem direito ao seu culto.
De acordo com o parlamentar, as manifestações contra ele são uma antecipação da entrada em vigor do projeto de lei que criminaliza a homofobia, em tramitação no Congresso.
– Estou sofrendo o que todos vão sofrer quando o PL (projeto de lei) for aprovado. Nenhum das senhores, nenhuma das senhoras vão ter a livre expressão. Não vão poder pensar, pelo menos não acerca desses assuntos (criticas a praticas homossexuais).
Feliciano pretendia transformar o culto em um ato de desagravo e convocou líderes de outras igrejas e até católicos para discutirem a batalha contra a família brasileira travada, segundo ele, por movimentos gays. Durante a celebração, deputado pediu que os pastores presentes se levantassem e disse que cerca de 30 lideranças estavam lá.
Ao final do culto, para evitar os manifestantes, Feliciano deixou o templo por uma saída lateral.