Especialista fala sobre um dos principais fatores de permanência em relações abusivas e aponta possíveis caminhos para a ruptura
O Brasil mantém um triste destaque no cenário mundial da violência de gênero. Dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2024, divulgado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, revelam um recorde assustador: 1.492 feminicídios registrados no período, consolidando o país em uma das primeiras posições nesse ranking fatal.
A violência extrema é alimentada por raízes profundas, como uma cultura machista que perpetua a ideia de submissão feminina e a falta de uma educação baseada na equidade de gênero e no respeito irrestrito aos direitos humanos. Para combater essa realidade, foi criado o Agosto Lilás, campanha dedicada à conscientização e ao enfrentamento da violência contra a mulher.
Neste contexto, muito se fala sobre a importância da denúncia. No entanto, um dos obstáculos mais complexos para que a vítima consiga romper o ciclo de violência é invisível e poderoso: a dependência emocional. Para entender essa dinâmica e como superá-la, a psicóloga Mayrla Pinheiro, da Hapvida, oferece uma análise crucial.
Sabemos que o ciclo de violência nem sempre é perceptível para quem está inserido na relação, quais são os sinais a que as mulheres precisam estar atentas dentro de seus relacionamentos?
Mayrla Pinheiro:O ciclo de violência pode ser sutil e progressivo, por isso, muitas vezes, quem está dentro da relação não consegue perceber o que está acontecendo. Alguns sinais importantes para as mulheres ficarem atentas incluem: sentimentos constantes de medo ou insegurança; controle excessivo por parte do parceiro sobre suas ações, amizades e escolhas; desvalorização e críticas frequentes que minam a autoestima; isolamento social; manipulações emocionais, como culpa e chantagem; além de episódios de agressão verbal, física ou psicológica, mesmo que pontuais. É importante lembrar que qualquer forma de desrespeito, medo ou sofrimento não é normal nem aceitável.
Como identificar que você está vivendo uma dependência emocional? É uma comorbidade?
Mayrla Pinheiro: A dependência emocional é caracterizada por uma necessidade excessiva e constante de aprovação, afeto e presença do outro para sentir segurança e autoestima. Quem vive essa condição pode ter dificuldade em estabelecer limites, sentir medo intenso de ficar sozinho e se submeter a situações prejudiciais para manter a relação. A dependência emocional pode estar associada a outras questões psicológicas, como ansiedade, depressão ou baixa autoestima, mas não é uma comorbidade formalmente diagnosticada. É um padrão comportamental que pode ser trabalhado e transformado com ajuda profissional, autoconhecimento e suporte adequado.
Quais os caminhos possíveis para a superação desse estado de dependência emocional?
Mayrla Pinheiro: Superar a dependência emocional é um processo que exige coragem, paciência e apoio. Alguns caminhos fundamentais incluem buscar ajuda profissional, como psicoterapia, para compreender as raízes desse padrão e desenvolver autonomia emocional; fortalecer a autoestima e o amor-próprio por meio de práticas que valorizem o autocuidado; ampliar a rede de apoio social, mantendo vínculos saudáveis com família e amigos; aprender a estabelecer limites e respeitar suas próprias necessidades; além de educar-se sobre relacionamentos saudáveis para reconhecer comportamentos abusivos. Cada passo dado em direção à autonomia emocional é uma vitória e um caminho para relações mais equilibradas e felizes.
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Da Assessoria de Imprensa/Hapvida