por Bruno Astuto, Época
Esquentou muito a temperatura da batalha judicial de divórcio do cavaleiro brasileiro Álvaro Affonso de Miranda Neto, o Doda, de 43 anos, e a bilionária grega Athina Onassis, de 31. Após a disputa pela medalha no hipismo na Olimpíada do Rio de Janeiro, Doda voltou para a cidade de Valkenswaard, na Holanda, onde o ex-casal é proprietário de um sofisticado centro de treinamento de cavalos. Deparou com um segurança, de prontidão na cocheira, que proibiu seu acesso ao cavalo Cornetto K, que ele montou no Rio. “O segurança disse que eram ordens de Athina”, conta o cavaleiro, que entrou com uma liminar na Justiça belga para reaver o animal. “É com ele que pretendo defender o Brasil na final da Superliga de Barcelona, no fim do mês.” Na quinta-feira passada, dia 1º, um tribunal de segunda instância declarou-se incompetente para julgar a questão. ÉPOCA teve acesso a trechos do processo. Doda permanece sem poder montar Cornetto K.
>> Como tudo começou
O divórcio foi iniciado no final de março por Athina, única herdeira da fortuna estimada em US$ 3 bilhões deixada por seu avô, o armador grego Aristóteles Onassis. Colocou fim num casamento de pouco mais de dez anos, celebrado em São Paulo em dezembro de 2005 diante de mais de 1.000 convidados. Mas, segundo amigos deles, o relacionamento começou a ter problemas desde a noite de 11 de dezembro de 2014, quando Athina sofreu um acidente com sua égua preferida, Camille Z, no 54º Concurso Hípico Internacional de Genebra, na Suíça. A amazona quebrou o nariz e o animal teve de ser sacrificado por causa dos ferimentos. Athina ficou abalada. “Depois do acidente, ela praticamente se tornou uma outra pessoa”, conta uma amiga do ex-casal. “Era doce e alegre. Ficou taciturna, arredia, alternando momentos de depressão.”
Pouco mais de um ano depois do episódio, em dezembro de 2015, Doda e Athina comemoraram os dez anos de casamento na ilha de Saint-Barthélemy, exclusivo reduto dos endinheirados no Caribe. No Réveillon, ela escreveu ao marido, em português, uma carta apaixonada para saudar a chegada de 2016. “Você é minha vida, sempre serei sua, sempre vou te amar e sempre vou cuidar de você”, declarou-se Athina, assinando Guilinha, o apelido com que Doda a chamava.
No final do ano passado, o casal se instalou em sua casa em Wellington, no subúrbio de Palm Beach, conhecida como reduto de excelência do hipismo na Flórida. A propriedade, estimada em US$ 2 milhões, é vizinha ao haras que o casal adquiriu por US$ 12 milhões, equipado com picadeiros e 20 cocheiras, num terreno de cerca de 20.000 metros quadrados. Ali Guilinha comunicou ao marido, em março, que estava voltando para a Europa – sem ele. “Ela disse que não queria mais que eu a treinasse, que sentia que não estava mais evoluindo no hipismo e simplesmente foi embora, pedindo um tempo para pensar na relação”, relata Doda. Ao retornar à Bélgica, o brasileiro descobriu que Athina entrou com uma ação no tribunal na cidade de Old-Thurnoud, na Bélgica, onde o ex-casal fixou residência em 2007, pedindo o divórcio.
Desde então, começaram a pipocar na imprensa rumores das razões que levaram Athina a decidir se separar. Em junho, o tabloide britânico The Daily Mail afirmou que Doda foi flagrado por um segurança de Athina na cama com a irmã de uma amazona de fama internacional. “Nunca traí minha mulher. Em 14 anos de relacionamento, nunca nem tivemos sequer uma briga séria”, afirma Doda. “As acusações são mentiras ardilosas e estratégias vazias para me desqualificar. Não há no processo nenhuma prova de que fui infiel.”
A bilionária contratou o advogado americano Robert Cohen para assisti-la no processo. Apelidado pela imprensa americana “o pit-bull dos advogados de divórcio”, Cohen defendeu a socialite Ivana Trump em sua também ruidosa separação do hoje candidato à Presidência dos Estados Unidos Donald Trump. Procurado por ÉPOCA, o advogado, bastante irritado, confirmou que trabalha no caso e que os advogados de Athina na Bélgica entrariam em contato com a reportagem.
Na tarde da sexta-feira (2), eles enviaram um comunicado em nome da cliente. “Você pode entender que é um momento incrivelmente difícil e triste para ambas as partes”, afirma o texto. “A sra. Onassis confirma que todos os cavalos são propriedade de suas entidades desportivas equestres. Ela fez o seu melhor para ser atenciosa com o sr. Miranda Neto, com quem foi casada por 11 anos, chegando a lhe ceder o uso do cavalo dela, Cornetto K, durante os Jogos do Rio de 2016, uma oportunidade memorável para ele representar o Brasil nos Jogos Olímpicos realizados em sua terra natal. Ela apoiou a carreira do sr. Miranda Neto por todos esses anos e está muito surpresa que ele esteja agora buscando uma pensão substancial.”
O tribunal de Old-Thurnoud concedeu a Doda o direito de permanecer com a filha dele, Viviane, de 16 anos, na casa em que ele e Athina viviam na Bélgica. Também determinou que a bilionária pagasse as despesas referentes à manutenção do imóvel e ao padrão de vida da família. “Você por acaso sabe que ele pediu € 300 mil (cerca de R$ 1,1 milhão) de pensão?”, pergunta Robert Cohen. ÉPOCA apurou que a pensão provisória mensal deferida pela Justiça até o veredito final do divórcio, previsto para março de 2017, ficou abaixo desse valor.
“Athina cortou todos os laços conosco e, sobretudo, com a minha neta, que a considerava uma segunda mãe”, diz o empresário Ricardo Miranda, pai de Doda. “Não reconheço a pessoa que fez parte da minha família nos últimos 14 anos.” Viviane, fruto de um relacionamento de Doda com a ex-modelo Cibele Dorsa, tinha 2 anos quando o pai começou a namorar Athina. Doda tem a guarda da filha. Viviane foi criada pelo pai e pela madrasta na Europa. Em 2011, Cibele se suicidou, pulando da janela de seu apartamento, em São Paulo, dois meses depois de seu então noivo, o apresentador de TV Gilberto Scarpa, ter feito o mesmo.
Antes de proibir o ex-marido de ter contato com Cornetto K, Athina também tentou retirar todos os animais da ex-enteada, que incluíam cachorros, coelhos e uma arara, do minizoológico que ela montou para Viviane em Valkenswaard. A bilionária postulou, na Justiça, parar de pagar as despesas com escola, treinadores e cavalos, relacionadas à adolescente, alegando que ela era sua “inimiga”. Esses pedidos foram indeferidos pelo tribunal, que entendeu que Viviane deveria continuar a manter seu padrão de vida. “O que mais me machuca na história é a frieza com que ela vem tratando a Vivi. Ela chegou a virar a cara para a nossa filha, que, mesmo assim, me pediu para manter o retrato da Athina na mesinha de cabeceira dela. Eu deixei”, diz Doda.
A saga dos Onassis começa pela trajetória vitoriosa do patriarca Aristóteles Onassis, avô de Athina, que saiu da pobreza na Grécia, ergueu um império mundial da navegação comercial e coroou o sucesso com um romance com a diva da ópera Maria Callas, a qual abandonou para casar, em 1968, com Jacqueline Kennedy, viúva do presidente americano John Kennedy. Do primeiro casamento, com Athina Livanos, Onassis teve seus dois únicos filhos, Alexandre e Christina.
A biografia do empresário virou tragédia com as sucessivas mortes na família: em 1973, seu filho, Alexandre, num acidente de avião; em 1974, a primeira mulher, por causa de uma suposta overdose. No ano seguinte, foi a vez de Onassis sucumbir a complicações de uma grave miastenia. Christina, a filha caçula, se tornou, assim, a única herdeira da imensa fortuna deixada por ele. De personalidade frágil e vulnerável, ela teve quatro casamentos, o último com o francês Thierry Roussel, pai de Athina, batizada assim em homenagem à avó materna. Quando a filha nasceu, em 1985, Christina descobriu que o marido havia acabado também de ser pai de um menino, fruto de seu relacionamento com a ex-modelo sueca Gaby Landhage.
Em 1988, Christina foi encontrada morta, aos 37 anos, numa banheira de uma mansão em Buenos Aires, vítima de um infarto causado por anos de distúrbios alimentares e abuso de medicamentos. Então com 3 anos, Athina foi morar com o pai, a madrasta e os três irmãos paternos. Sua infância, na Suíça, foi marcada por ameaças de sequestro e pelas brigas pela gestão de sua fortuna, travadas entre Thierry e os controladores de uma fundação deixada por Christina na Grécia. Ante todos esses episódios, não tardou para que a imprensa internacional colasse nela o epíteto de “pobre menina rica”.
Pouco mais de um ano antes de seu 18o aniversário, data em que poderia tomar as rédeas de parte de sua herança, Athina decidiu sair da casa do pai para perseguir uma paixão que alimentava desde a infância, o hipismo. Mudou-se para a Bélgica, onde começou a estudar na escola do cavaleiro brasileiro Nelson Pessoa, um reconhecido centro de excelência internacional do esporte. Lá, em 2002, conheceu Doda, que virou seu treinador e por quem se apaixonou. Em Bruxelas, o casal mantinha uma rotina discreta de treinos, cinema e jantares a dois – nada, portanto, dos hábitos típicos de uma herdeira bilionária. Athina nunca foi ligada a roupas caras, joias e festas, mas, com o romance, sua vaidade aflorou. Nas temporadas que passava em São Paulo, submeteu-se a tratamentos de beleza, uma cirurgia plástica na mama, outra de correção da miopia, tingiu os cabelos de louro e emagreceu.
Desde que começou a se relacionar com Doda, Athina mantém uma relação que varia entre a distância regulamentar e a frieza absoluta com o pai, que ela não convidou para o casamento paulistano. “Com Doda e a família dele, Athina teve a primeira experiência de uma vida familiar normal”, conta um amigo do ex-
casal, frequentador, como eles, da Hípica Paulista. “Ao contrário do que as pessoas imaginam, quando ela veio morar com Doda em São Paulo, ainda não tinha acesso à fortuna deixada pela mãe e quem a mantinha era a família dele. Não era mais uma pobre menina rica, mas era uma rica menina pobre.”
A convivência com o marido, medalhista olímpico em Atlanta (1996) e Sydney (2000), fez Athina, literalmente, dar um salto na carreira de amazona. Recentemente, ela chegou a figurar entre os 100 melhores do ranking internacional. A dedicação integral ao esporte levou-
a a adiar o sonho de Doda de ter um filho com ela. Do casamento, porém, nasceu um conglomerado de empresas que controlam de clínicas e centros de treinamento de cavalos ao milionário concurso internacional hípico Athina Onassis International Horse Show, criado pelo cavaleiro em 2007. Juntos, os Mirandas montaram também o centro de treinamento de Valkenswaard, onde hoje são mantidos 26 animais, comprados nos últimos anos pelo ex-casal por meio de suas empresas. Entre eles figura Cornetto K, o cavalo da discórdia da semana passada.
Doda afirma que não quer nada da herança da ex-mulher. “Fiz questão s de me casar em separação total de bens”, diz o cavaleiro. “Quando a conheci, eu já morava na Europa, tinha duas medalhas olímpicas, três patrocinadores e muitas premiações. Investi dinheiro, experiência e suor na nossa empresa e nos nossos cavalos. É a minha parte nessa sociedade que eu pleiteio.” Doda acrescenta que, a pedido de Athina, recusou diversos patrocínios que o obrigariam a comparecer a eventos corporativos pelo mundo. “O único patrocinador que não exigiu essa cláusula de viagens foi o (banco suíço) Julius Bär, então Doda pôde aceitar”, conta o pai do cavaleiro. “Mas, estranhamente, depois que Athina entrou com o processo, o banco cancelou o patrocínio.”
No meio financeiro internacional, o que se comenta é que o litígio do ex-casal pode render outras dores de cabeça para a bilionária, como expor o emaranhado de trustes e fundações que hoje alicerçam sua fortuna. “Sabe aquela frase famosa de Eurípides? ‘Agir com raiva é o mesmo que içar a vela na tempestade’. É disso que estou falando”, diz uma raposa experiente do setor bancário suíço. Nos últimos anos, Athina se desfez de boa parte das propriedades e dos bens que fizeram de sua família uma lenda, como o mítico apartamento da Avenue Foch, em Paris, e 44 joias da mãe, vendidas num leilão em Londres, por cerca de US$ 13,3 milhões. Mas o que chocou mesmo a opinião pública grega foi ela ter vendido, em 2013, por u100 milhões a uma bilionária russa, a famosa ilha de Skorpios, na Grécia, onde estão enterrados seu avô, sua mãe, seu tio e uma tia-avó.
“Sempre quis que Athina se reconciliasse com suas raízes gregas. Antes de nos casarmos, ela nem usava o sobrenome Onassis”, conta Doda. A amazona, que competia no circuito hípico pela França, adquiriu o passaporte grego depois que se casou com o brasileiro e passou a defender a bandeira do país de seu avô. “Nunca quis brigar com ela e nunca pensei que nossa história fosse terminar assim”, diz. “Eu tinha um casamento maravilhoso, uma mulher amorosa, que simplesmente sumiu e agora tenta me agredir de todas as maneiras. Só quero educar minha filha, ficar em paz para me concentrar no esporte, recuperar o que investi e seguir em frente.”
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