Estar com a saúde física e mental em dia é fundamental para quem almeja longevidade e qualidade de vida. E quando o foco é a atividade policial militar, principalmente. O dia a dia do profissional de segurança pública exige uma boa dose de equilíbrio psicológico e, claro, preparo físico. Esses itens estão previstos desde o ingresso do policial militar à Corporação e constituem etapas eliminatórias do processo seletivo. Vale para homens e mulheres.
Após aprovação na fase intelectual, os candidatos se submetem a uma série de exames de saúde e tornam-se aptos ao curso de formação somente após uma dura bateria de testes físicos, que inclui corrida, barra, abdominal e natação. O desafio, após o ingresso do recruta, é dar continuidade aos exercícios e manter o corpo em sintonia com a balança, para que se tenha o desempenho almejado na hora de correr atrás de indivíduos suspeitos, escalar muros, percorrer pântanos e matagais, em busca de pessoas, armas e drogas.
Para incentivar a prática regular de atividade física e estimular o bom condicionamento da tropa, a Polícia Militar de Sergipe dispõe, há três anos, de uma academia moderna, operada por profissionais da própria Corporação, formados em Educação Física. Ela funciona nas dependências do Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Praças, de segunda à sexta, das 7h às 18h30. Além da modalidade de musculação, tem sido oferecido treinamento funcional e de atletismo gratuitos, sob a orientação do sargento Paulo Barbosa dos Anjos, treinador e árbitro de Atletismo e pós-graduado em Personal Training (Treinamento Funcional), que responde interinamente pelo setor de Educação Física do CFAP.
“A atividade policial exige para o seu desempenho uma boa aptidão física, tanto para o dia a dia como para um bom desempenho nos cursos de formação, aperfeiçoamento policial e desenvolvimento profissional. Prezar por um bom condicionamento físico traz benefícios como o controle do estresse, diminuição da ansiedade e da depressão, melhoria no sistema imunológico, da imagem corporal e da autoestima. Por isso, é importante manter o corpo em movimento”, salientou o sargento Dos Anjos.
A busca por uma vida mais saudável e equilibrada tem feito crescer a procura não só por academias, mas por atividades alternativas exercidas ao ar livre, a exemplo de clubes de corrida de rua, grupos de ciclismo, lutas marciais e treinamentos funcionais. Esta última modalidade, aliás, vem atraindo muitos policiais ao Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Praças da PMSE, dispostos a manter corpo e mente sãos, por meio de exercícios relacionados à especificidade da vida diária.
O treinamento funcional é caracterizado pela utilização de exercícios complexos que envolvem vários grupos musculares, principalmente os estabilizadores, músculos que dão sustentação ou firmam uma parte do corpo. O personal Michael Boyle, autor do livro “Avanços no Treinamento Funcional” (2015), descreve a modalidade como “um contínuo de exercícios que ensina os atletas a lidar com o seu peso corporal em todos os planos de movimento”.
De acordo com o sargento Dos Anjos, o treinamento funcional está embasado na melhoria dos aspectos neurológicos que afetam a capacidade funcional do corpo humano. “O treinamento utiliza exercícios que desafiam os diferentes componentes do sistema nervoso, estimulando sua adaptação e promovendo a melhoria gradativa do desempenho do esportista. São aptas para o treinamento funcional todas as pessoas que se classifiquem como de baixo risco para atividade física, sem restrição”, esclarece o instrutor.
Já a musculação tem entre seus benefícios o desenvolvimento da força e da resistência muscular, o tônus muscular, hipertrofia, ajudando a formar a massa óssea, reduzir o percentual de gordura e aumentar o percentual de (MLG) massa magra (músculo). “Quando a pessoa tem como objetivo a hipertrofia, é bom conciliar com o treinamento funcional com a musculação”, completou o sargento.
Foco e disciplina
As possibilidades são várias, mas o importante mesmo é dar o primeiro passo. E foi exatamente o que fez o capitão Manoel Alves de Araújo, chefe de Operações do Comando do Policiamento Militar do Interior (CPMI), que adotou um estilo de vida mais saudável e eliminou, em um ano, mais de 50 quilos de gordura corporal, aliando a prática de corrida a uma dieta balanceada. “Desde a infância, luto contra o aumento de peso e, na adolescência, comecei a praticar esporte. No entanto, não dei continuidade e, ao atingir a fase adulta, comecei a ganhar peso a cada ano, chegando à marca de 155 quilos. A obesidade que me trouxe não só complicações na saúde, como também um processo depressivo que se desenvolveu gradativamente. Vale dizer que o aumento das taxas de glicose e colesterol foi consequência desse ganho descontrolado de peso e me levou a ter dificuldade para locomoção e executar tarefas diárias”, confessou o oficial.
Hoje com uma disposição invejável, o capitão comemora a participação em três maratonas e cerca de 40 corridas de rua. Tudo isso após um processo no qual pesaram a força de vontade e a determinação do militar. “Inicialmente decidi começar a caminhar e estabeleci que das 24h, dedicaria uma hora por dia para minha saúde, fato que após três meses comecei a emagrecer e ter mais disposição. As roupas começaram a folgar e isso me dava mais estímulo para continuar. Daí, passei a correr moderadamente e a ingerir água em maior quantidade durante o dia”, relatou o capitão.
A companhia de amigos e a predisposição a uma nova dieta contribuíram para levar à frente o projeto da medida certa. “Corria diariamente na companhia de amigos, fato que torna a atividade mais agradável. Procurei um clube de corrida para obter orientações a respeito da prática de corrida de rua. Comecei a treinar seis dias por semana e fazer provas de curta e média distância, além de substituir uma alimentação rica em calorias por vitaminas e proteínas, o que acelerou ainda mais a perda de peso. O resultado foi que em 365 dias corri a minha primeira Maratona, na cidade de Porto Alegre, totalizando 42 km”, comentou.
De lá para cá, o militar coleciona medalhas pelo país, dentre elas três de participação na Corrida Cidade de Aracaju, com percurso de 25 Km entre a cidade de São Cristóvão e a capital sergipana. Tal conquista elevou a autoestima do capitão Alves, que agora se sente à vontade para compartilhar sua experiência e influenciar positivamente as pessoas que se deparam com as dificuldades da obesidade e o preconceito social.
“A obesidade é uma doença popularmente tratada com muita zombaria e expõe a pessoa do obeso a ser alvo de brincadeiras ofensivas ou mesmo do escárnio social, e isso ocorre desde a infância. É como se o obeso fosse um prisioneiro no próprio corpo, o que causa um desconforto terrível. A atividade física veio como uma terapia na qual pude fazer novos amigos e ajudar pessoas a praticar atividade física e vencer suas próprias limitações. Isso me gerou uma estima elevada por ter a oportunidade de ajudar as pessoas que lutam contra a obesidade e o sedentarismo”, frisou.
Os dados mais recentes da Organização Mundial de Saúde apontam a obesidade como um dos maiores problemas de saúde pública no mundo. Estima-se que, em 2025, cerca de 2,3 bilhões de adultos estejam com sobrepeso; e mais de 700 milhões, obesos. Quanto às crianças, 75 milhões delas estariam obesas ou com sobrepeso. No Brasil, fontes como o IBGE (2008/2009) revelam que mais de 50% da população está acima do peso, ou seja, na faixa de sobrepeso e obesidade. Entre crianças, estaria em torno de 15%.
Palavras de quem já sentiu na pele os efeitos da doença, o capitão Alves demonstra, com sua história, que é possível superá-la por meio de escolhas saudáveis. “Recomendo ao iniciante que faça uma avaliação médica, procure um profissional para prática de atividade física e busque, também, a ajuda de um nutricionista para elaborar uma alimentação que atenda às suas necessidades. Opte por uma atividade que desperte seu interesse em praticar, estabeleça metas e, ao alcançá-las, estabeleça outras. Aproxime-se de pessoas que praticam atividade física. Inicie isso o mais breve possível e, principalmente, nunca desista”, estimulou o militar.
O caso do capitão Alves é apenas um exemplo. Se você é militar, deseja começar uma atividade física, porém não sabe como dar os primeiros passos, procure um profissional de saúde, escolha a modalidade esportiva de acordo com seu objetivo e estilo de vida e, sem muitas desculpas para a rotina corrida, comece. Para Einstein, “falta de tempo é desculpa daqueles que perdem tempo por falta de planejamento”. Na sua agenda de compromissos, priorize o seu bem maior: a saúde.
Confira os horários de funcionamento da academia do CFAP:
Musculação
De segunda à sexta-feira
Manhã: 7h – 12h30
Tarde: 14h – 18h30
Treinamento funcional
Segunda, quarta e quinta-feira
Manhã (três turmas): 7h -8h / 8h30 – 9h30 / 10h – 11h
Tarde – não há divisão de turmas ainda, mas há profissional das 14h às 18h30, à disposição.