O ex-diretor da área Internacional da Petrobras Jorge Luiz Zelada, preso nesta quinta-feira (2) pela 15ª fase da Operação Lava Jato, fez transferências bancárias para a China e para Mônaco, de acordo com o Ministério Público Federal (MPF) e a Polícia Federal (PF). Foram € 11 milhões para Mônaco e outro US$ 1 milhão para a China. O dinheiro em Mônaco já estava bloqueado desde março deste ano.
Zelada deve chegar a Curitiba por volta das 14h desta quinta. Segundo a PF, ele será levado diretamente para o Instituto Médico-Legal (IML) para a realização do exame de corpo de delito, que é padrão após a prisão. Depois, ele será encaminhado para a Superintendência da PF, no bairro Santa Cândida.
O ex-diretor é suspeito de envolvimento no esquema bilionário de corrupção, desvio e lavagem de dinheiro na Petrobras. Segundo o MPF, ele atuou no esquema desde quando atuava na gerência da empresa, quando na diretoria da área internacional.
De acordo com as investigações, um saldo milionário em contas no exterior, auditorias internas na estatal e depoimentos de outros suspeitos que firmaram acordo de delação premiada são provas do envolvimento de Zelada no esquema criminoso. O MPF diz que ele tinha salário mensal na Petrobras de R$ 100 mil.
Após o início da Operação Lava Jato, Zelada efetuou transferências para contas bancárias no exterior. Entre julho e agosto do ano passado, foram € 7 milhões provenientes de contas em Mônaco, disse o MPF.
“Indica continuidade de crime de lavagem e tentativa de proteção desses valores para impedir que a Justiça alcance”, disse o procurador Carlos Fernando dos Santos.
De acordo com o despacho do juiz Sérgio Moro, que autorizou a prisão de Zelada, ainda não existem informações seguras sobre o montante recebido pelo suspeito a partir do esquema criminoso investigado.
A investigação não exclui a possibilidade de existirem outras contas no exterior em nome de Zelada, além das já conhecidas. Também há suspeitas de que ele possua um sócio do Brasil que o ajuda a ocultar ativos.
Suspeitas
Zelada foi sucessor de Nestor Cerveró – já condenado a cinco anos de prisão pelo crime de lavagem de dinheiro – no cargo e atuou entre 2008 e 2012 na estatal.
O nome dele surgiu nos depoimentos de delação premiada de outros investigados pela Lava Jato. Em depoimento à Justiça Federal, Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da estatal, que cumpre prisão domiciliar no Rio de Janeiro, já tinha dito que Zelada era um dos beneficiários do esquema de corrupção
O ex-gerente de Serviço da Petrobras Pedro Barusco afirmou que Zelada foi beneficiado à época em que era gerente geral de obras da Diretoria de Engenharia e Serviços. Todavia, Barusco não soube informar se Zelada continuou a receber vantagens indevidas no cargo de diretor da área Internacional.
De acordo com Barusco, Zelada era beneficiado assim como ele e o ex-diretor de Serviços Renato Duque, que está preso no Complexo Médico-Penal, na Região Metropolitana de Curitiba.
Barusco disse ainda que Zelada negociava diretamente com as empresas em contratos menores na área de exploração e produção. O delator também informou que repassou diretamente a Zelada R$ 120 mil. O pagamento foi efetuado, conforme o delator, em três visitas à casa do ex-diretor.
Segundo o MPF, existe ainda a suspeita de que Zelada tenha recebido propina proveniente de contratos de navio sonda. “Há fortes indicativos que ele recebeu valores pela celebração de contratos de aluguel”, disse o procurador Carlos Fernando dos Santos.
Segundo as investigações, os contratos envolvendo navios sonda, por serem milionários, eram constantemente usados como meio para arrecadação de propina. Além disso, auditorias da Petrobras apontam irregularidades severas em contratos sob a responsabilidade de Zelada.
O G1 tentou contato com o advogado de Jorge Zelada, porém, ele não atendeu a ligação.
Camarilha dos quatro
O procurador Carlos Fernando dos Santos disse que com a prisão de Zelada, de Paulo Roberto Costa, Renato Duque e Nestor Cerveró, está “bem delineada a camarilha dos quatro”. “Todos atuaram como diretores na estatal e constituem o núcleo principal das investigações e das falcatruas do desvio de dinheiro público ocorridos na Petrobras”, acrescentou Carlos.
O termo Camarilha significa pessoas que convivem com uma autoridade ou personalidade importante e procuram influir direta ou indiretamente sobre suas decisões. “Eu não vou dizer que está encerrada a investigação, mas posso afirmar que a quadrilha que se apossou da diretoria da Petrobras já está presa”, complementou.
“Todos os diretores dessas áreas da Petrobras recebiam comissões por negócios que facilitavam dentro da Petrobras, seja na área de refinarias e gasodutos, seja na área de navios sondas e plataformas”, acrescentou o procurador.
Carlos Fernando também relatou também que ainda há crimes na estatal, mas não no nível das diretorias. “E nós temos muito mais a investigar, mas não creio que nós vamos ter grandes notícias em relação a diretores. Nós vamos ter outras áreas, outros níveis de atuação dentro da Petrobras, gerentes em especial, mas não mais diretores. Não posso afirmar que isso definitivamente não vá acontecer, mas não há nesse momento um indicativo”, finalizou.
14ª fase
A 14ª fase da operação, chamada de ‘Erga Omnes’, foi deflagrada no dia 19 de junho e cumpriu 59 mandados judiciais em SP, RJ, MG e RS. A operação teve como alvo as empreiteiras Odebrecht e Andrade Gutierrez e prendeu os seus respectivos presidentes – Marcelo Odebrecht e Otávio Marques de Azevedo.
Outros dez investigados, a maioria executivos das duas empresas, também foram presos na ação. Três deles tiveram a prisão temporária vencida e foram soltos. Alexandrino de Salles, executivo da Odebrecht, teve a prisão temporária convertida em preventiva.
Segundo a PF, há indícios concretos, com documentos, de que os presidentes das empresas tinham “domínio completo” de atos que levaram à formação de cartel e fraude em licitações, além de pagamento de propinas.
Os investigados são suspeitos de crime de formação de cartel, fraude em licitações, corrupção de agentes públicos, lavagem de dinheiro e evasão de divisas.
Com informações de Adriana Justi e Bibiana Dionísio do G1 PR