A Polícia Civil de Sergipe detalhou na manhã desta segunda-feira, 18, na sede do Departamento de Crimes Contra a Ordem Tributária e Administração Pública (Deotap), a prisão de Clarice Jovelina de Jesus e José Agenilson de Carvalho Oliveira, ligados à Associação de Moradores e Amigos do Bairro Nova Veneza (Amanova), entidade que recebeu mais de R$ 2 milhões de verbas de subvenções da Assembleia Legislativa de Sergipe (Alese).
Os dois foram presos hoje por ordem da juíza Jane Silva Santos Vieira, titular da 1ª Vara Criminal de Aracaju. Na oportunidade, a delegada Daniele Garcia informou que abriu 18 inquéritos policiais, sendo um para casa associação que recebeu verbas de subvenções da Alese. As prisões foram solicitadas pelo Ministério Público Estadual. A delegada lembrou que neste primeiro momento as investigações não são contra os deputados, que por terem foro especial precisam de uma autorização para serem investigados. “Entretanto, caso nessas investigações, que já iniciaram, fiquem comprovado o envolvimento de algum deputado vamos encaminhar tudo para o Tribunal de Justiça para que seja autorizado a continuação das investigações”, explicou.
Garcia disse que em uma primeira análise fica claro que os recursos enviados para as associações não chegavam a ser aplicados em benefícios da população. “O fato é que é uma vergonha essas verbas de subvenções serem destinadas às associações sem que um R$ 1,00 seja aplicado à comunidade. Isso é crime grave de peculato, lavagem de dinheiro, formação de quadrilha. Vamos atuar com rigor, doa a quem doer, chegue a quem chegar”, explicou.
Segundo a polícia, as investigações começaram pela Amanova porque é a associação que apresenta uma das situações mais graves. “É o caso mais escancarado no tocante à desvios das subvenções. É importante que a partir de agora os demais presidentes de associações saibam que vamos atuar nessa linha e caso exista algum motivo para pedir prisão vamos pedir”.
Carlinhos
Nos interrogatórios feitos pela polícia na manhã desta segunda-feira, um nome foi ventilado como principal articulador entre as associações e a Alese: Carlinhos. Em depoimento a delegada, a presidente da Amanova, Clarice Jovelina, disse que foi procurada por ‘Carlinhos’, que se apresentou como funcionário da Alese e contou que era ele quem movimentava a conta da associação e quem pegava o dinheiro junto ao Banese. Ela disse, ainda, que ia com ele ao banco sacar o dinheiro e depois entregava tudo para ele dá destinação diversa.
A presidente contou, também, que assinava os cheques, muitos deles em branco, e disse que quem preenchia os valores e informava sua destinação era Carlinhos. “A investigação vai demonstrar quem é Carlinhos, porque nós temos todo o aparato tecnólogico possível para chegar até ele, caso exista”. Na casa de Clarice foi apreendido vasta documentação que será analisada pela polícia.
Em relação à Agenilson, a investigação constatou que ele recebeu cheques em valores altos de até R$ 80 mil. Ele contou no depoimento que não tem proximidade com ‘Carlinhos’, mas disse que estava num bar em determinado dia quando foi procurado por ele e este pediu sua conta emprestado para depositar um dinheiro. “Como ele deve acreditar em Coelhinho da Páscoa e em Papai Noel, ele forneceu a conta para que o dinheiro fosse depositado. Depois, ele sacou o dinheiro e entregou de volta ao tal carlinhos”.
A delegada esclareceu o porquê da Polícia Civil ter entrado no caso que originalmente é investigado pela Justiça Federal. “Com relação as subvenções há duas situações diferentes. A primeira situação é eleitoral, que é conduzida pelo Ministério Público Federal, que descobriu que no ano eleitoral a Alese havia disponibilizado subvenções para ser destinado para as associações, o que é proibido no período eleitoral. Acontece que nessas investigações, vislumbrou-se a possibilidade de desvios de recursos das subvenções e como os recursos são estaduais, o MPF compartilhou os dados com a Justiça Estadual e partir de agora trata-se de um caso de polícia”, explicou a delegada.
Delação premiada
Sobre delação premiada, a delegada disse que este instituto cabe ao Ministério Público propor e que ainda hoje vai apresentar os dois presos ao promotor. “Este Carlinhos deve ter surgido do além, provavelmente saiu de uma nave espacial e procurou essas pessoas pra dizer que a Alese tinha dinheiro para dar para as associações. O Carlinhos não apareceu ainda, mas se ele existir pode ter certeza que vamos encontrá-lo”.
Daniele ressalta que em nemhum momento os dois presos falaram que devolveram dinheiro para os deputados, apenas contam que o dinheiro que receberam não ficou com eles e que tudo foi devolvido ao tal Carlinhos. A polícia se concentra agora no cumprimento de um terceiro mandado de prisão preventiva contra o motorista Wellighton Luiz Gois Silva. Ele não foi encontrado em sua residência e a polícia continua realizando diligências para cumprir a determinação da Justiça.
Acompanhe o SE Notícias no Twitter e no Facebook
Informações da SSP/SE