Sergipe 247 – O jornalista Marcos Cardoso analisa em postagem publicada no seu blog no Portal Infonet neste domingo (29) a trajetória política do prefeito João Alves Filho (DEM) e a divisão causada dentro do seu partido com a decisão de apoiar Eduardo Amorim (PSC) ao governo.
João Alves já não é o mesmo
Todo ser vivo nasce, cresce reproduz e morre. Certo? Com exceções biológicas, é assim. E assim também o é na vida política. Eis o exemplo do marimbondo de fogo José Sarney de Araújo Costa, recordista em longevidade política, que aos 84 anos acaba de anunciar a aposentadoria. Mas há algum tempo ele já não zumbia tão forte. Sarney assumiu o primeiro mandato de deputado federal em 1955, aos 25 anos. Foi governador e duas vezes senador pelo Maranhão, presidente da República, três vezes senador pelo Amapá e três vezes presidente do Senado. Mas acabou.
A velhice é implacável. O tempo ainda não afetou tão profundamente a vida política de João Alves Filho, fiel aliado de Sarney, mas começa a dar sinais. Se não interferindo na sua saúde física e mental, que parece estar em perfeita ordem para um homem de 73 anos (aniversaria agora, em 3 de julho), mas atuando para desgastá-lo politicamente. É o natural processo de fadiga do material, como se diz na engenharia.
Senão vejamos: João elegeu-se com facilidade prefeito de Aracaju em 2012 e pensava que essa vitória o catapultaria ao governo de Sergipe dois anos depois, realizando o sonho sempre acalentado. As coisas não saíram como previstas, a Prefeitura de Aracaju hoje tem uma dimensão e uma complexidade bem mais amplas do que 40 anos atrás, quando foi prefeito por indicação do governador e aceitação do governo militar.
A decisão de permanecer à frente da Prefeitura e não se retirar para disputar o governo teve decisiva interferência familiar, pois a esposa e senadora Maria do Carmo e a filha Ana Alves Mendonça se manifestaram contrárias à desincompatibilização, que poderia soar aos olhos e ouvidos do eleitor como gananciosa aventura.
Mas a permanência de João na Prefeitura pode ter sido um sinal recebido dos deuses da política de que ele já não é o candidato imbatível que seus seguidores acham que ainda é. Aliás, a débâcle de 2006, quando Marcelo Déda o derrotou mesmo estando num mandato governamental, já havia lhe dado a certeza de que os tempos eram outros.
Agora, João assiste à sua base rachar quando o deputado federal Mendonça Prado, genro e pupilo político, resolve que não o segue na aventura de apoiar a candidatura ao governo do senador Eduardo Amorim, irmão do ex-genro Edvan Amorim, empresário e dono de uma penca de partidos nanicos.
Mendonça, que gostaria de compor a chapa encabeçada pelo governador Jackson Barreto, se rebelou contra o que considera uma insensatez do sogro, embora saiba que ele tenta salvar a reeleição de Maria do Carmo ao Senado. A senadora deve disputar a reeleição compondo uma dobradinha com Eduardo e, de certa forma, cumprindo uma determinação da cúpula nacional do DEM.
Só que Mendonça, apoiado pela mulher, tornou-se o crítico mais feroz e demolidor das armações engendradas pelo multifacetado empresário Edvan. Há aí um conhecimento intestino sobre quem é o eminente para-político. Mendonça é genro e Edvan foi genro e é pai de netos de João e Maria.
Mendonça não mede palavras para acusá-lo de enriquecer ilicitamente, à custa de corrupção e chantagem. E, com isso, cresceu politicamente, porque passa para a sociedade que não é farinha do mesmo saco, embora oriundos da mesma cozinha.
Na manhã de sexta-feira, no programa radiofônico de George Magalhães, Mendonça recebeu do empresário Walter Franco a ajuda que precisava para provar publicamente a ingratidão de Edvan para com o ex-sogro e como é o seu modus operandi. O programa reproduziu reportagem veiculada na TV Atalaia em 2008, que tornou pública uma gravação telefônica feita pela Polícia Federal, quando nas investigações da malfadada Operação Navalha, na qual Edvan conversa com o conselheiro do Tribunal de Contas Flávio Conceição sobre os achaques a dois órgãos municipais de Aracaju. E Edvan pede que não fale nada para Dr. João.
O diálogo reproduzido pela TV Atalaia é revelador das tramóias que Flávio Conceição era capaz de urdir para conseguir penetrar com seu esquema corrupto no governo de Marcelo Déda. Num bate-papo descontraído com o empresário Edvan Amorim, o conselheiro revela seu estratagema: pedir uma “inspeção de gestão” na Emsurb e na Secretaria da Saúde de Aracaju.
Ele buscava o calcanhar de Aquiles do governador na gestão de cinco anos à frente da Prefeitura. E qual o “escândalo” aconteceu na administração de Déda, senão aquele mal explicado convênio entre a Emsurb e a Saúde, para a capinagem “nos paralelepípedos” dos postos de saúde?
Flávio sugere para Edvan Amorim que iria “bater na jugular” de Marcelo Déda reativando o processo. Assim, presume-se, teria poder de barganha contra o resistente governador. E teria o pano armado para encenar a chantagem: ou fecharia os olhos para um operador meu agir livremente no seu governo, ou eu desfaria a sua fama de administrador honesto, desqualificando a sua gestão municipal. Coisa de vampiro. Só que a Navalha cortou a própria jugular do chantagista.
Se demorasse mais um pouquinho e conseguisse seu intento, de quebra Flávio Conceição teria os pés justamente onde o esquemão mais tinha interesse: nas Secretarias da Infraestrutura e da Saúde.
Aliás, Secretaria da Saúde um dia gerida por Eduardo Amorim e de onde saiu, Mendonça Prado não cansa de repetir, respondendo a processo que hoje repousa sob sigilo no STF.
Mendonça Prado sai fortalecido desse episódio e o sogro, João Alves Filho, mais desgastado. Sinal dos tempos.