David Ingram e Aruna Viswanatha
Em Washington (EUA)
A fabricante de automóveis japonesa Toyota pagará US$ 1,2 bilhão para encerrar uma investigação criminal sobre como lidou com reclamações de consumidores por problemas de segurança, informou o Departamento de Justiça dos Estados Unidos nesta quarta-feira (19).
A Toyota admitiu que iludiu consumidores norte-americanosomitindo informações e fazendo declarações enganosas sobre dois problemas de segurança, sendo que cada um deles causava um tipo de aceleração involuntária, disse o Departamento de Justiça. O acordo encerra uma investigação de quatro anos das autoridades norte-americanas.
O valor, que se aproxima de R$ 3 bilhões no câmbio atual, representa a maior multa já paga por uma fabricante automotiva, de acordo com o Departamento de Justiça. O pagamento deverá ser feito até o próximo dia 25.
De acordo com Eric Holder, procurador-geral dos Estados Unidos, “a conduta da Toyota foi vergonhosa” e por conta disso o alto valor da multa serve para que “outras montadoras não repitam o erro da montadora”. “Um recall pode prejudicar a reputação de um marca, mas enganar o consumidor traz prejuízos ainda mais duradouros”, afirmou em entrevista à imprensa local.
Em abril de 2010, a Toyota já havia concordado em pagar multa de quase US$ 16,5 milhões ao NHTSA (o departamento de transportes e segurança viária americano) por não ter notificado as autoridades sobre a falha de aceleração. Aquela também havia sido a maior multa estabelecida pelo órgão a uma montadora.
ACELERAÇÃO INVOLUNTÁRIA
A empresa enfrenta centenas de processos sobre problemas de aceleração que ganharam notoriedade pública após as mortes de um patrulheiro rodoviário da Califórnia e sua família, que segundo relatos foram causadas pela aceleração involuntária de seu Lexus, marca de luxo da Toyota. O defeito na aceleração fez com que a Toyota fizesse o recall de 9,4 milhões de veículos em todo o mundo, com repercussão até mesmo entre modelos no Brasil, começando em 2009.
“A Toyota tem cooperado com a Procuradoria dos Estados Unidos nesta questão por mais de quatro anos”, disse Carly Schaffner, porta-voz da empresa, nesta quarta. “Durante esse período, realizamos mudanças fundamentais para nos tornarmos uma organização mais sensível e focada em consumidores, e estamos empenhados em melhoras contínuas”.
Uma prova de que após o caso de aceleração involuntária, o dano gigantesco à imagem da empresa e as consequências jurídicas a montadora japonesa alterou sua reação a problemas deste tipo está na resolução do defeito no módulo elétrico do hatch híbrido Prius, que afetou 1,9 milhões de unidades em todo o mundo, incluindo cerca de 400 carros no Brasil. Todo o procedimento, da identificação do defeito à convocação foi feito com velocidade extrema, de forma a evitar discussões com clientes e novos processos.
DE OLHO NA GM
O Departamento de Justiça americano não confirmou se já investiga a General Motors por conta da demora em instituir o recall do cilindro de ignição defeituoso de carros fabricados entre 2003 e 2007 e que causou ao menos 12 mortes — a convocação foi feita apenas no começo deste ano.
O procurador-geral deixou claro, porém, que a solução dada para o caso da Toyota mostra como o Departamento de Justiça vai lidar com casos semelhantes. “Levamos este tipo de assunto [ignorar defeitos de produção, atrasar recall ou omitir informação do consumidor] a sério”, afirmou Holder. “Este [caso da Toyota] é um sinal para a indústria”, concluiu. (Com Redação de UOL Carros, em São Paulo)