A pregação de José Serra em favor da realização de prévias no PSDB não orna com os movimentos que ele executa longe dos refletores. Na boca do palco, Serra disse que, dependendo das regras, pode medir forças com Aécio Neves. Atrás das cortinas, Serra instou o senador paranaense Alvaro Dias a deixar o PSDB junto com ele para compor sua chapa presidencial na posição de vice.
Serra comunicou o seu desejo a dirigentes do PPS, partido que se dispõe a recepcioná-lo. Recordou que já havia tentado firmar parceia com Alvaro na malograda campanha de 2010. A chapa durou uma semana. Fez água por duas razões: o DEM guerreou pela vaga e o irmão de Alvaro, Osmar Dias (PDT), cedeu a apelos de Lula e tornou-se candidato ao governo do Paraná pelo PDT, abrindo seu palanque para Dilma Rousseff. Fez isso depois de jurar que disputaria o Senado na coligação do tucano Beto Richa, eleito naquela ano governador paranaense.
De passagem pelo Senado, Serra esteve com Alvaro Dias na última quarta-feira (21). Procurado pelo blog na noite passada, o senador tucano recusou-se a comentar o teor da conversa. Neste domingo, a repórter Katna Baran veicula no diário paranaense Gazeta do Povo uma entrevista com Álvaro. Ele fala de prévias e de 2014. A conversa está disponível aqui.
Em relação às prévias, Alvaro declara: “Anunciar a realização de primárias [no PSDB] agora soa falso. Fica a impressão de uma encenação, porque houve uma inversão do processo. As primárias deveriam anteceder o nome do candidato. Primeiro, anunciou-se o nome, depois entregou-se o partido a ele, e agora anunciam-se primárias? Isso não convence as pessoas lúcidas.”
No ano passado, Alvaro manifestara o interesse de disputar internamente o direito de representar o PSDB na briga de 2014. A repórter do jornal paranaense perguntou: Ainda pensa em se lançar à Presidência? Tem conversado com outros partidos? E ele: “Acho melhor aguardar as manifestações do dia Sete de Setembro para calcular o quadro. Conversar com outros partidos, sim. Convidado, sim. Mas da minha parte não há prazer em mudar.”
Se depender dos planos de Aécio Neves, Alvaro Dias fica no PSDB e disputa a reeleição ao Senado. Nessa hipótese, ele comporia a chapa majoritária do PSDB no Paraná, dividindo a propaganda partidária com o governador tucano Beto Richa, que disputará um segundo mandato em 2014.
Quanto a Serra, independentemente dos resultados de suas articulações, fica entendido que indicam que não são negligenciáveis os esforços que empreende para colocar em pé um projeto presidencial fora do PSDB. Parece ter concluído que seu futuro na legenda é passado. Nesse contexto, o debate sobre prévias não serve senão como fonte de pretextos para virar a página.