por Alexandre Lozetti/Globo Esporte
Beijinho, beijinho, tchau, tchau! Quando era baixinho, Neymar deve ter curtido o bordão de Xuxa. Agora, criança grande, moleque arteiro, não o esqueceu. Beijinho pra você, Alvaro González! E tchau pra vocês, Uruguai! Foram duas cobranças de escanteio nos minutos finais. Na primeira, o beijo serviu como resposta à provocação do uruguaio. Na segunda, o passe perfeito para o craque Paulinho serviu para aliviar o peito de milhões de brasileiros: vitória por 2 a 1 sobre a Celeste no Mineirão, na semifinal da Copa das Confederações.
O Brasil está na decisão. Superou a velocidade asiática do Japão, a resistência latina do México, a disciplina tática europeia da Itália, e agora passou por um Uruguai que tem tudo isso e mais um pouco. Tem raça, história, respeito, Cavani, Suárez, Lugano… Mas o Brasil foi mais. Talvez tenha sido menos time, mas foi maior nos braços de Julio César, mais decisivo no lançamento e na cabeçada de Paulinho, mais oportunista na inteligência de Fred, mais genial em Neymar.
Mais coração! Quem achou que seria fácil bater o Uruguai se enganou. Muito mais do que a pressão colocada por Lugano no árbitro Enrique Osses, a Celeste jogou no seu limite. Merece aplausos. Os últimos minutos, com goleiro Muslera na área, tensão nas 57.483 pessoas que foram ao Mineirão, provaram que este duelo é, sim, um dos maiores clássicos do planeta.
Mas o Brasil está na final. Que nos perdoem os jogadores que terão pela frente craques como Iniesta, Xavi e companhia, mas o mundo clama por um duelo contra a Espanha. A Seleção jogará a final no próximo domingo, às 19h, no Maracanã, contra o vencedor do duelo entre La Roja e a Itália, que se enfrentam na quinta-feira em Fortaleza. O Uruguai vai a Salvador tentar o terceiro lugar diante de quem perder o clássico europeu.
Entretanto, se o Mineirão lotado comemorou a vitória sobre o Uruguai, do lado de fora do estádio milhares de pessoas fizeram mais um dia de protestos pelas principais vias de Belo Horizonte. Com as ruas no entorno do Mineirão fechadas, manifestantes entraram em confronto com a Polícia Militar de Minas Gerais.
Verde, amarelo e vermelho
Poucas cores são tão tradicionais no futebol mundial quanto a amarelinha do Brasil e a Celeste uruguaia. Mas quis o destino que o vermelho brilhasse no primeiro tempo. A cor da roupa, do coração e do sangue que corre nas veias de Julio César, inflamado desde que a torcida mais uma vez assumiu para si o hino nacional. Enquanto o Mineirão cantava, ele balançava os companheiros. Era quase um aviso: “Hoje é comigo!”
Quando David Luiz puxou Lugano dentro da área e o árbitro chileno Enrique Osses deu pênalti, aos 12 minutos, o estádio silenciou. Coube ao goleiro, que tanto gosta do barulho dos torcedores, levá-los ao delírio ao defender no canto esquerdo. Julio deu seus passinhos à frente, saiu antes. Forlán foi mal. Olhou só para a bola. Se levantasse a cabeça, tocaria no outro canto e faria o gol.
O Brasil levou mais de 20 minutos para chegar à área celeste. E quando conseguiu pouco fez. O Uruguai ficou menos com a bola, mas foi mais perigoso, como no belo chute de Forlán que passou ao lado do gol. O “1” e o “9” estavam fora do jogo. Julio orientava e pedia concentração. Fred se esforçava para compor a marcação e rezava por uma bolinha. Uma só…
E bastou que ela passasse pelos pés de quem a trata melhor para chegar ao centroavante. O lançamento de Paulinho, o domínio e o chute de Neymar entortaram a firme marcação dos bicampeões mundiais. Muslera defendeu a primeira tentativa, mas ela sobrou para Fred. Quietinho, mineirinho, no lugar certo como sempre. Certeiro como sempre: 1 a 0.
Como todo bom Brasil x Uruguai, o primeiro tempo teve um chute de Luiz Gustavo no estômago de Rodríguez, a camisa esgarçada de Lugano e o nariz de Paulinho sangrando. O segundo tempo prometia.
O beijo, o passe e o gol
Prometia mesmo! Quem resolveu comer o famoso tropeiro no intervalo pode ter perdido o gol de Cavani. Até então, ele brilhara mais na marcação do que no ataque. Mas, aos dois minutos da etapa final, ele não perdoou o vacilo coletivo da defesa, em que David Luiz errou o chutão, Thiago Silva tentou sair jogando em lugar errado e Marcelo perdeu a bola. Nem o homem de vermelho seria capaz de impedir. Tudo igual no Mineirão: 1 a 1.
O Monstro se redimiu logo em seguida ao evitar que a bola de Suárez chegasse à cabeça de Forlán. A cor do jogo no momento era celeste. O som do Mineirão era um bom termômetro. E ele saiu do silêncio para ir quase abaixo quando Felipão chamou Bernard, xodó do Atlético. Hulk saiu vaiado pela primeira vez na Copa das Confederações.
Entre um sufoco e outro, um quase gol contra de Thiago Silva, e bolas e mais bolas levantadas por Forlán, o melhor jogador da última Copa do Mundo, Bernard achou Fred. Ele, que sempre espera por uma chance, dessa vez não aproveitou e chutou por cima. Absolutamente tudo poderia acontecer.
A entrada do pupilo de Felipão melhorou a Seleção. Até surgiu uma tabela, raríssima até então. A boa jogada de Neymar e Oscar parou nas mãos de Muslera.
Os minutos passavam cada vez mais rapidamente e a vontade de ganhar se tornou medo de perder. Principalmente depois que um chute desviado de Cavani passou rente à trave de Julio César. Mas Neymar ainda precisava retribuir o lançamento de Paulinho. Aquele, perfeito, que originou o gol no primeiro tempo.
Foram duas cobranças de escanteio. Na primeira, Neymar foi provocado por Alvaro González e mandou beijinhos ao uruguaio. Na segunda, aos 40 minutos, mandou um golpe no peito de toda Celeste, uma bola na cabeça de Paulinho. A cabeça, que tantas alegrias já deu ao Corinthians, dessa vez alegrou o Brasil. E o camisa 10, com a “dívida” paga, deixou o gramado nos acréscimos, aplaudido no mesmo estádio que o vaiou no amistoso contra o Chile, há dois meses.
Agora, só falta um jogo! E que venha a Espanha…