Fredson Navarro e Joelma Gonçalves, do G1 SE
A manifestação ‘Acorda Aracaju’ que ocorreu em Aracaju nesta terça-feira (25) reuniu mais de 10 mil pessoas e seguiu de forma pacífica nas principais ruas da capital, mas foi encerrada após quase 7h com atos de vandalismo por uma minoria radical que atingiram o prédio da prefeitura com pedras e madeiras, atearam fogo em um ônibus e fecharam o trânsito de uma das principais avenidas da zona sul da capital.
No início da noite quando os manifestantes chegaram ao Centro Administrativo Aloísio Campos onde funciona a Prefeitura de Aracaju, os vândalos que estavam entre eles tentaram invadir o prédio, gritaram palavras de ordem contra as autoridades e incentivaram a baderna.
“Eles seguiam fazendo um ato muito bem organizado quando um grupo começou a praticar atos de vandalismo. Eles jogaram pedras, madeira e fogos na vidraçaria do prédio que foi quebrada”, explica o major Paiva, diretor de comunicação da Polícia Militar de Sergipe.
Os vândalos chegaram ao local fazendo muito barulho e gritando palavras de ordem contra as autoridades e polícia. Em seguida começaram a jogar pedras, madeiras e fogos de artifício no prédio.
Alguns subiram na guarita e incentivaram os outros a subir também. Os vidros foram quebrados e o clima seguiu tenso até a chegada do Batalhão de Choque que chegou ao local para evitar o vandalismo.
“Não entramos em confronto com eles. Nossa missão é de paz. Depredar patrimônio público é crime. O cidadão tem o direito legitimo de manifestar na paz. Não viemos aqui para agredir nenhum cidadão”, ressalta o major Rollemberg, do Batalhão de Choque.
A Polícia Militar trabalhou com uma Central de Monitoramento montada na sede da instituição e contou com 70 câmeras da SMTT e Ciosp, além de policiais infiltrados para garantir a tranquilidade do ato. Mais de 700 policiais reforçaram a segurança e 16 pessoas foram presas e 15 adolescentes foram apreendidos. Os vândalos foram levados para a 2ª Delegacia Metropolitana. Dois policiais foram feridos. Uma militar quebrou o braço e um colega dela recebeu pedrada em uma perna.
Após passar pela prefeitura, os manifestantes seguiram para o Terminal de Integração no Distrito Industrial de Aracaju (DIA), onde os atos de vandalismo voltaram a ocorrer. Um ônibus da linha Bairro Industrial-Atalaia que estava preso no congestionamento foi incendiado e os passageiros que estavam no veículo saíram antes e entraram com segurança no terminal.
Os bombeiros chegaram ao local escoltados pela Tropa de Choque e apagaram as chamas. Alguns vândalos foram presos e outros seguiram fazendo baderna no Conjunto Médice e encerraram fechando o trânsito na Avenida Adélia Franco por volta das 23h.
Um rapaz de aproximadamente 20 anos passou mal e desmaiou quando a polícia começou a jogar bomba de efeito moral. Ele estava sentado na Avenida Adélia Franco, nas proximidades do Viaduto Jornalista Carvalho Déda, no momento em que a polícia se aproximou no sentido dele jogando bombas de efeito moral.
O jovem continuou no mesmo local e inalou muita fumaça, passou mal e desmaiou. O rapaz foi socorrido por manifestantes que pediram apoio do Samu. Ele ficou imobilizado na calçada de um supermercado durante cerca de 10 minutos aguardando atendimento.
O Grupamento Especial Tático Sobre Motos (Getam) recebeu a informação de que dois homens que estavam em uma motoneta portavam arma de fogo e interceptaram uma motoneta semelhante a indicada na denúncia na Avenida Adélia Franco, mas não encontraram os homens armados.
Ao revistar o bagageiro da moto encontraram fogos de artificio iguais aos que estavam sendo usados para atacar a polícia.
De acordo com a Polícia Militar, mais de 10 mil manifestantes voltaram às ruas de Aracaju nesta terça-feira (25) para protestar contra a tarifa e qualidade do transporte público da capital, primeira reivindicação do movimento que foi iniciado há duas semanas em São Paulo e ganhou às ruas de todo o país.
Os motivos se ampliaram e os sergipanos confeccionaram cartazes e reivindicaram os custos da Copa do Mundo, problemas no serviço público, corrupção, educação, cidadania e rejeição à Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que limita o poder de investigação do Ministério Público e atribui às polícias a exclusividade das apurações criminais.
“Nosso objetivo foi atingido. Lutamos pelos nossos direitos de forma digna, sem desrespeitar as autoridades nem o próximo, lutamos por um país melhor. Participamos de um momento histórico em Sergipe e estamos felizes porque nossa mensagem foi bem entendida e todos saíram de casa com o mesmo proposito. Não compactuamos com os atos de vandalismo praticados pro uma minoria. Repudiamos qualquer manifestação que cerceie a liberdade de organização e de expressão”, orgulha-se Demétrio Varjão, integrante do Movimento Não Pago.
No segundo protesto, Demétrio disse que o grupo seguiu junto pelas ruas e não foi dividido como na semana passada. “Entendemos que o ato foi mais forte com todos juntos nas ruas”, explica.
O repórter cinematográfico da TV Sergipe, Zé Mário, e a repórter fotográfica, Ana Lícia Menezes, do jornal Cinform, foram atingidos por pedras durante a manifestação, no momento em que uma minoria radical tentava invadir a sede da prefeitura atirando pedras.
“Eu estava cobrindo a manifestação e em um determinado momento algumas pessoas jogaram pedras na minha cabeça e ameaçaram entrar na prefeitura. Foi nessa hora que fui atingida por uma pedra”, explica a jornalista.
O ferimento foi leve e ela pediu gelo para ambulantes que vendiam água no local, colocou no ferimento e seguiu a manifestação para continuar a cobertura.O cinegrafista Zé Mário foi atingido com pedras na barriga, mas passa bem.
A concentração foi realizada na Praça Fausto Cardoso, nas imediações da Assembleia Legislativa de Sergipe. Por volta das 16h, as ruas do Centro da capital já aglomeravam dezenas de pessoas, desde crianças até idosos. Em seguida saíram em passeata pela Avenida Beira Mar, Avenida Ivo do Prado, Avenida Barão de Maruim e foram até a Praça da Bandeira. De lá, seguiram para o Bairro Costa e Silva, DIA, Conjunto Médico e o ato foi encerrado na Avenida Adélia Franco.
O primeiro ato em Aracaju ocorreu na quinta-feira (20) de forma pacífica e reuniu cerca de 20 mil pessoas.
Antes da manifestação, o prefeito de Aracaju João Alves Filho, reduziu a tarifa de ônibus de R$ 2,45 para R$ 2,35. Ele argumentou que a redução foi possível pelo fato de no fim de maio, o Governo Federal desonerar as empresas de ônibus do pagamento de PIS e cofins. O valor da nova tarifa foi aprovado no início da tarde desta terça-feira por 17 votos a favor contra 5 na Câmara dos Vereadores de Aracaju.
Mas o novo valor não agradou e os manifestantes pedem a revogação da lei. “Por mais que esse fato pareça uma vitória das pressões populares, na realidade não passa de uma falsa redução. A tarifa não foi reduzida, na verdade foi reajustada de R$ 2,25 para R$ 2,35. Com a exclusão dos impostos no cálculo da tarifa, a prefeitura sanou apenas uma das graves irregularidades contidas na planilha de custos da SMTT. Vale lembrar que mesmo com um valor de R$ 2,35, o cálculo tarifário continua incluindo custos inexistentes, sem os quais o valor tarifário real seria R$ 1,92. Lutamos também pelo passe livre dos estudantes e desempregados ”, explica o economista e integrante do Movimento Não Pago, Demétrio Varjão.
Mesmo com o anúncio da redução do preço das passagens do transporte público, os protestos foram mantidos e estão foram realizados em dezenas de municípios e devem continuar nos próximos dias.
Os comerciários de Sergipe decidiram aderir ao protesto e de acordo com o presidente da Federação dos Comerciários, Ronildo Almeida, eles decidiram fechar as lojas no início da tarde e seguiram para às ruas com os colaboradores. “Estamos participando e ajudando a fortalecer essa manifestação que é um ato de cidadania. Os protestos já começaram a mudar o Brasil. Quando o povo se une em torno de um projeto coletivo, o resultado é positivo”, avalia Ronildo Almeida.
Pacto e Plebiscito
Após dezenas de manifestações nas principais cidades do Brasil, a presidente Dilma Rousseff convocou todos os governadores dos estados e os 26 prefeitos das capitais para participar de uma reunião no Palácio do Planalto, em Brasília, na segunda-feira (24), e propôs o a adoção de cinco pactos nacionais (por responsabilidade fiscal, reforma política, saúde, transporte, e educação). O governador em exercício de Sergipe, Jackson Barreto, sugeriu a criação do vale-transporte social como parte da solução dos problemas de mobilidade urbana no país. O prefeito de Aracaju João Alves Filho também participou da reunião.
A presidente também apresentou a proposta de convocação de um plebiscito para que o eleitorado decida sobre a convocação de um processo constituinte específico destinado a fazer a reforma política.