Guilherme Balza e Rayder Bragon, do UOL, em São Paulo e em Belo Horizonte
Quase três anos após a morte da modelo Eliza Samudio, o goleiro Bruno Fernandes irá a júri popular a partir dessa segunda-feira (4), no Fórum Doutor Pedro Aleixo, em Contagem (região metropolitana de Belo Horizonte). O ex-atleta do Flamengo é acusado de ser o mandante do crime, que envolveu uma série de amigos do atleta em uma trama complexa que chocou o país.
Dayanne Souza, ex-mulher do jogador, também será julgada, acusada de ter ajudado no sequestro de Bruninho Samudio, filho de Bruno com Eliza –acusação que também recai sobre o goleiro, também acusado de ter ocultado o cadáver da vítima. Com apenas quatro meses em junho de 2010, quando o crime ocorreu, o bebê teria motivado a morte da modelo, que exigia do goleiro o pagamento de pensão alimentícia, o que Bruno não admitiria.
Bruno está preso desde julho de 2010 na penitenciária de segurança máxima Nelson Hungria, em Contagem, assim como Luiz Henrique Romão, o Macarrão, e Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, também acusado pela morte de Eliza. O goleiro, que recentemente passou a coordenar a faxina do presídio, está preocupado com “fatores externos” ao julgamento, segundo sua defesa.
Dayanne chegou a ficar presa por mais de cinco meses, entre julho e dezembro de 2010. Desde então, aguarda o julgamento em liberdade.
Desmembramento
O goleiro deveria ter sido julgado em novembro passado, junto com Macarrão, condenado pelo júri a 15 anos pelo sequestro de Eliza e do bebê e por participação na morte da modelo. Fernanda Gomes de Castro, ex-namorada de Bruno, também foi condenada, a cinco anos, pelos sequestros de Eliza e Bruninho. Em seu depoimento no júri, Macarrão admitiu participação no crime, mas, pela primeira vez, apontou Bruno como o mandante da morte de Eliza.
Bruno só não foi julgado com Macarrão porque, no meio do júri, dispensou o advogado Rui Pimenta, com o argumento de que não se sentia seguro com o defensor. O goleiro nomeou Lúcio Adolfo da Silva para o lugar de Pimenta, mas pediu que seu julgamento fosse adiado para que o novo defensor pudesse tomar conhecimento dos autos. A manobra do goleiro provocou também o desmembramento do júri de Dayanne, cujo advogado, Francisco Simim, também compunha a defesa de Bruno.
Além da troca durante a primeira tentativa de julgamento, o goleiro já destituiu outros dois defensores: o primeiro deles foi Ercio Quaresma, que acompanhou Bruno durante toda a fase de inquérito do processo. O advogado foi destituído pelo goleiro em novembro de 2010, depois de ter sido detido usando crack.
O paranaense Cláudio Dalledone, que na época defendia Macarrão, assumiu a defesa. Um ano depois, o defensor renunciou por considerar “infantil” e “retórica” a tese defendida por Bruno e por advogados dos outros acusados de que, como corpo de Eliza não foi encontrado, não houve crime –mesma tese mantida por Pimenta.
O atual advogado do goleiro, que diz ter participado de pelo menos mil júris, tem no currículo a defesa do traficante Fernandinho Beira-Mar em processos ocorridos em Minas Gerais. Adolfo da Silva afirma ter se “enfronhado” nas 16 mil páginas do processo desde o desmembramento do júri de Bruno e tentará convencer jurados de que Macarrão ordenou a morte de Eliza.
Além da delação de Macarrão, pesa contra Bruno o fato de que, após a condenação do ex-amigo e de Fernanda Gomes de Castro, a morte de Eliza foi legalmente reconhecida.
Já a acusação tem certeza que o goleiro será condenado e promete apresentar uma testemunha que “sabe de tudo”, conforme disse o advogado-assistente da acusação José Arteiro de Almeida, que auxiliará o promotor Henry Wagner de Castro.
Delator do crime será testemunha
No total, 15 testemunhas foram arroladas pela acusação e defesa. Um dos depoimentos mais aguardados no julgamento será de Jorge Luís Rosa, 19, primo de Bruno que admitiu ter participado do sequestro e da morte de Samudio. Menor à época do sumiço da moça, Rosa foi o delator e principal testemunha dos crimes. Ele foi arrolado como testemunha tanto pela acusação como pela defesa do goleiro.
Ao longo do processo, Rosa por diversas vezes mudou a sua versão para o crime, entrando em contradição mais de uma vez. No último domingo (24), em entrevista ao “Fantástico”, da “TV Globo”, acusou Macarrão de ter planejado a morte de Eliza. Inicialmente, na entrevista, disse que Bruno não sabia da intenção de matar a modelo. Minutos depois, voltou atrás e afirmou que era impossível que o goleiro não soubesse do plano para matá-la.