Iara Lemos e Nathalia Passarinho
Do G1, em Brasília
O novo presidente da Câmara, deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), afirmou nesta segunda-feira (4), após ser eleito com 271 votos, que a Câmara precisa se preocupar em analisar os temas de grande interesse nacional.
“Fazer uma pauta propositiva não é apenas para discutir, [o parlamento] não foi feito para enrolar, foi feito para discutir e votar, debater e decidir”, disse o deputado.
O mandato de Alves termina em fevereiro de 2015 e ele ficará no cargo, portanto, até o final do atual mandato da presidente Dilma Rousseff, que termina no fim de 2014. Favorito na disputa, Alves teve o apoio do PT e do governo.
“Eu chego aqui pela minha história, meu trabalho, minha coerência, minha lealdade, meu compromisso com o Parlamento, mas tendo consciência de que chego muito mais pelo respeito à regra democrática da proporcionalidade no compromisso que é ético da bancada dos partidos”, disse Alves, em referência ao fato de que a maior bancada tem direito à presidência da Casa.
Henrique Alves encerrou o discurso pedindo apoio para que a Câmara seja respeitada. “A partir de agora quem quer bem essa Casa como eu quero, essa casa é minha casa, vamos todos dar as mãos […] Vamos fazer respeitar esta Casa”, afirmou.
Henrique Eduardo Alves disputou a presidência da Câmara com a colega de partido Rose de Freitas (PMDB-ES), que recebeu 47 votos, e com os deputados Júlio Delgado (PSB-MG), que teve 165 votos, e Chico Alencar (PSOL-RJ), que obteve 11 votos.
Alves disse que não faltará por parte da Câmara respeito aos demais poderes da República- Judiciário e Executivo. Mas alertou que os dois poderes precisam estar cientes de que os deputados são eleitos pelo povo. “Não faltará a um ou outro [Executivo e Judiciário] o nosso respeito. Mas tanto um quanto outro não se esqueçam que aqui nesta Casa só tem parlamentar abençoado pelo voto popular.”
Ditadura militar
Emocionado, Henrique Eduardo Alves lembrou da ditadura militar e disse que naquela época era “preciso ter coragem para não sucumbir”.
“Eu sou de um tempo que essa casa se orgulhava de se abrir ao povo brasileiro, a comunhão de pensamentos e idéias. Eu vivi tudo isso. Mas vivi também tempos em que, hoje é fácil em arroubos se bancar o valentão e destemido. Sou de um tempo em que era preciso ter coragem para não sucumbir, ter coragem para resistir. […] sei do medo que tive que superar para chegar aqui inteiro”, afirmou.
No discurso, Henrique Eduardo Alves disse que aprendeu com Ulysses Guimarães que o político precisa ter coragem de”recuar” e “mudar”. “O político tem que ter muitas qualidades, a ética, a sensibilidade, mas tem uma que é a principal, a coragem. É a coragem de saber recuar, de saber mudar, porque isso traz dentro de nós a profunda consciência.”
‘Hegemonia perigosa’
O deputado Chico Alencar (PSOL-RJ), úlltimo colocado na eleição para presidente da Câmara, com 11 votos , diz que a hegemonia do PMDB no comando do Legislativo poderá isolar partidos menores.
“Espero pelo menos diálogo como presidente a fim de que a gente possa fazer a pauta avançar. Mas não tenho muitas ilusões. Essa hegemonia do PMDB é muito perigosa. Nós entendemos que todos os que não estão entre os 271 eleitores do Henrique Alves têm o compromisso de cobrar um programa de debates mais amplos nesse Parlamento, para que ele fique na grande política”, disse.
Segundo Chico Alencar, é preciso haver no Congresso “mais transparência, austeridade e capacidade de fiscalizar o Executivo”.”É muito difícil conseguir isso com essa hegemonia do PMDB, que é um partido vocacionado ao poder, a ficar sempre do lado de quem está no poder. Mas vamos estar ali no colégio de líderes.”
A eleição
Com a escolha de Henrique Alves, o PMDB comandará Câmara e Senado pelos próximos dois anos. Na última sexta, Renan Calheiros (PMDB-AL) foi eleito presidente do Senado.
Alves substituirá o deputado Marco Maia (PT-RS) no posto, tornando-se o segundo na linha de sucessão da Presidência da República, atrás apenas do vice-presidente da República. Ao deixar o cargo, Maia desejou “boa sorte” ao novo presidente.
Cabe ao presidente da Câmara comandar as sessões plenárias da Casa, escolher as pautas de votação e presidir a Mesa Diretora, que delibera matérias administrativas.
Henrique Eduardo Alves é deputado há 42 anos, atualmente no 11º mandato consecutivo.
Nas últimas semanas foi alvo de denúncias de que teria beneficiado a empresa de ex-assessor com emendas parlamentares destinadas a obras no Rio Grande do Norte. No mês passado, Aloizio Dutra de Almeida, que trabalhava há 13 anos no gabinete de Alves, pediu demissão.
Além disso, reportagem da revista “Veja” revelou que o deputado destinou verbas de gabinete para contratar serviços de uma locadora de carros de fachada, em nome de uma laranja.
Antes do início da eleição foi distribuída anonimamente nos gabinetes dos 513 deputados uma publicação com um compilado de sentenças judiciais e matérias jornalísticas que trazem denúncias contra Henrique Eduardo Alves.
Na capa da publicação, que tem formato de revista, está escrito: “Candidato condenado no Rio Grande do Norte, com direitos políticos cassados e responde a vários processos”.
Alves é formado em Direito pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Ele assumiu o primeiro mandato como deputado em 1970, aos 22 anos, quando o Brasil ainda vivia sob o regime militar.
O peemedebista foi reeleito sucessivamente e assumiu a liderança do partido em 2007. Ele foi derrotado em duas disputas pela Prefeitura de Natal, em 1988 e 1992.