Com gol de peruano, brasileiros despacham o inglês Chelsea e realizam um sonho: conquistar a principal competição entre clubes em território japonês
A invasão corintiana em solo japonês funcionou – e com um desfecho do jeito que seu torcedor adora: com sofrimento, suspense e gol de raça. Com o goleiro Cássio em dia inspirado, o Corinthians derrotou o Chelsea por 1 a 0, no Estádio Nacional de Yokohama, no Japão, e sagrou-se bicampeão mundial de clubes. Foi seu primeiro título do torneio conquistado fora do país (o primeiro veio no Rio, em 2000). Paolo Guerrero, que já havia sido o principal nome do clube na vitória sobre o Ah Ahly no primeiro jogo da semifinal, fez valer sua reputação de talismã da equipe. Decisivo, o peruano marcou o único gol do confronto aos 24 minutos da segunda etapa, após um lance emblemático do que foi o Chelsea na decisão: um time muito menos aplicado e ligado, contra um Corinthians que demonstrava enorme espírito de luta e bom jogo coletivo. Assim, o clube paulista se junta ao seleto grupo de times brasileiros com mais de dois títulos intercontinentais – além do Corinthians, Santos (duas vezes) e São Paulo (três vezes) fazem parte dessa lista.
Campeão invicto da Taça Libertadores da América, o Corinthians desembarcou em solo japonês em rara situação: chegava apontado como bom candidato a conquistar a competição – algo geralmente creditado aos times da Europa, mais ricos e poderosos. Ao contrário do Santos, que pegou o Barcelona de Messi, no auge, no ano passado, o representante brasileiro no Japão teve pela frente um campeão europeu mais frágil. Depois de perder o técnico que o levou ao título da Liga dos Campeões, Roberto Di Matteo, e de ser eliminado precocemente no torneio, o Chelsea não colocava medo nos brasileiros. Nem mesmo sua boa vitória na semifinal, sobre o mexicano Monterrey, por 3 a 1, fez o time paulista ser considerado azarão. O Corinthians se deparou com um adversário perfeito para vencer seu segundo Mundial. Mas os brasileiros, é claro, fizeram sua parte, e seguiram à risca o roteiro traçado pelo técnico Tite, tanto na parte tática (em que conseguiu neutralizar as melhores armas dos ingleses) como na postura em campo.
Confiança – A equipe que foi ao gramado na manhã deste domingo (no horário de Brasília, noite em Yokohama) parecia não carregar peso algum. Experiente e confiante, o time chegou para a partida sem o descontrole emocional que marcou as derrotas de alguns sul-americanos no torneio no passado – e isso se refletiu na torcida, que apoiou desde o início. Assim como o Santos no último Mundial, o Corinthians foi a campo com uma formação inédita na decisão: a confirmação de Jorge Henrique entre os titulares apresentou um time com três atacantes e sem um armador, algo sem precedentes na temporada do clube paulista. O Chelsea, por sua vez, optou por um time mais experiente ao promover as entradas de Frank Lampard e Ramires, jogadores que começaram a semifinal no banco de reservas. Moses também ganhou vaga na equipe – o brasileiro Oscar ficou no banco de reservas. Durante os primeiros minutos, aconteceu o esperado: um Corinthians com mais força de vontade e marcação intensa, sobretudo no meio, contra um Chelsea que tentava demonstrar que era superior tecnicamente.
Aos dez minutos, surgiu a primeira grande chance: uma cobrança de escanteio do Chelsea encontrou Cahill que, livre na área, chutou forte. Com as pernas, Cássio salvou no reflexo – e em cima da linha. Após o susto, o Corinthians começou a usar uma arma conhecida e considerada indispensável para sua trajetória de sucesso em 2012: o contra-ataque. Todos os lances, contudo, ou paravam nas mãos do goleiro Petr Cech ou eram interceptados pela zaga inglesa, principalmente por um brasileiro, David Luiz, que era corintiano na infância. Uma falha no sistema defensivo inglês fez com que o clube alvinegro tivesse sua primeira chance real no jogo. Aos 28 minutos, Cahill errou e Emerson, livre, desperdiçou uma boa oportunidade, chutando para o alto. O lance esquentou o jogo. Durante os últimos 15 minutos do primeiro, o Corinthians teve outra grande chance com Emerson, que parou na trave, enquanto o seu rival só não abriu o placar por causa das belas defesas do goleiro Cássio, o principal nome do duelo na primeira etapa.
O melhor da final – Cássio foi decisivo em três oportunidades: Torres, Moses e Mata pararam nas mãos do corintiano. E sua participação decisiva se estenderia por todo o segundo tempo. Diante da perspectiva de jogar uma prorrogação, brasileiros e ingleses voltaram para a segunda etapa buscando ainda mais o jogo. O Corinthians pressionava, mas foi o Chelsea quem chegou com maior perigo. Aos oito minutos, Hazard recebeu um excelente passe de Mata que, mais uma vez, parou nas mãos de Cássio. Dez minutos depois, uma das armas mais conhecidas do Timão, enfim, apareceu: após ajeitada de Guerrero, Paulinho apareceu de surpresa para chutar rasteiro, levando perigo ao goleiro Cech. A falta de atenção dos jogadores do clube inglês, contudo, fez com que o Corinthians chegasse mais e mais ao gol adversário. O gol do título não demorou a sair. Aos 24 minutos, Paulinho driblou dois marcadores e deixou para Danilo chutar rasteiro. Cahill bloqueou a finalização, mas Guerrero apareceu livre para cabecear e abrir placar.
O peruano marcou seu segundo gol na competição (foram duas vitórias por 1 a 0, com dois gols de cabeça de Guerrero). Logo depois do lance, o técnico espanhol da equipe inglesa, Rafa Benítez, tratou de colocar o brasileiro Oscar no jogo – o que acabou não sendo o bastante para o time buscar o empate. A principal chance do Chelsea na segunda etapa aconteceu aos 40 minutos. Fernando Torres apareceu livre na área e Cássio, novamente, decidiu o confronto, parando o chute com o pé. Foi o milagre que faltava para acabar com o sofrimento corintiano na decisão (Cássio seria recompensado momentos depois com a entrega do prêmio de melhor jogador da final do Mundial). Aos 43 da segunda etapa, o zagueiro Cahill foi expulso após uma dividida dura com Emerson. Havia tempo para um último susto – um gol marcado por Fernando Torres. Assim, o clube alvinegro paulista, nascido em setembro de 1910, chegava ao topo do mundo pela segunda vez.