À beira de uma estrada de terra batida do povoado Caípe Velho, zona rural de São Cristóvão, está localizado o Centro de Promoção de Desenvolvimento Sustentável Oṣogunlade. O espaço abriga o Ponto de Cultura ‘Axé Ô’, que através dos recursos da parceria entre o Ministério da Cultura (Minc), e a Secretaria do Estado da Cultura (Secult), vem promovendo diversas atividades voltadas para a comunidade local.
O foco das ações está no desenvolvimento sustentável da comunidade. Pensando nisso, o ‘Axé Ô’ oferece oficinas de informática e agroecologia para um público formado por jovens e adultos da região. No segundo ano do projeto, também serão ofertadas oficinas de capoeira, dança e costura. Além disso, o Ponto vem desenvolvendo um trabalho de catalogação das plantas medicinais da região, que culminará com a criação de um catálogo virtual e posteriormente na publicação do mesmo.
Através da oficina de agroecologia, as pessoas da comunidade estão aprendendo técnicas de cultivo que podem ser implantadas nas suas próprias casas. “A comunidade já possui uma relação muito próxima com o plantio. O que fazemos é apresentar novas técnicas sustentáveis que aplicamos aqui no espaço e eles reproduzem em suas próprias casas”, explica Jaquelene Linhares, arte-educadora do Axé Ô.
O Ponto de Cultura fica localizado num amplo terreno onde estão sendo implantadas hortas comunitárias, um espaço para cultivo de plantas medicinais e, em breve, será construído um galinheiro para benefício da própria comunidade. Além disso, a sede do Centro passou por uma reforma para melhor abrigar as atividades do Ponto, e hoje conta com escritório, sala de aula, espaço para leitura e um salão onde serão promovidas oficinas de dança e capoeira.
Catálogo
No terreno onde está a sede do Ponto, rodeado de muito verde, uma equipe formada pela bióloga Ingrid Guimarães e pelos estagiários Taiguã Corrêa e Isabele Santos trabalha na coleta das plantas medicinais que farão parte do catálogo. Segundo a bióloga, foram selecionadas cerca de 30 plantas que já fazem parte do cotidiano da comunidade. “A idéia é socializar e documentar esse conhecimento através dessa cartilha que terá uma linguagem bem acessível com explicações sobre o uso fitoterápico dessas plantas”, explica.
Além disso, como resultado desse trabalho será produzido um documentário com o registro das entrevistas que fizeram parte do processo de construção do catálogo, que conta com a parceria da Universidade Federal de Sergipe (UFS). Através dessa parceria, foram cedidos os dois estagiários do curso de Biologia. “Para eles está sendo muito rico, porque essa é uma vivência que eles não têm dentro da universidade”, destaca Ingrid.
Outra parceria importante para a coleta e produção do catálogo das plantas medicinais, é a do líder espiritual do Centro, o pai de santo Reginaldo Daniel Flores. Segundo Ingrid, ele foi a pessoa que conduziu a escolha das plantas e que tem orientado a coleta no espaço onde está localizado o Centro e no seu entorno, que ele conhece tão bem.
O Social e o Sagrado
Reginaldo conta que há mais de 12 anos o sítio, onde hoje está localizado o Ponto de Cultura e o Centro de Promoção de Desenvolvimento Sustentável Oṣogunlade, foi adquirido para servir como espaço de compromisso com o sagrado com o objetivo de garantir a manutenção das heranças da cultura afro-brasielira. Neste espaço, atualmente, o social e o sagrado vivem em perfeita harmonia com o intuito de levar melhorias para a comunidade do Caípe Velho.
“Nós entendemos que sozinhos não nos sustentamos. Precisamos abrir nossos portões e convidar a comunidade externa e dialogar com ela”, afirma Reginaldo. Ele destaca ainda que, independente do credo de cada um, o objetivo do Centro é buscar meios de melhorar a qualidade de vida dessas pessoas, seja através da cobrança por melhores condições para a comunidade ou através da promoção da cidadania com ações como as que vêm sendo desenvolvidas.
A iniciativa do Ponto de Cultura é um reflexo disso e dá continuidade ao projeto ‘Cidarte’, realizado no mesmo espaço com patrocínio do BNB Cultural e concluído no início deste ano. “O Ponto de Cultura chega num momento muito bom para dar condições para gerenciarmos a articulação com a comunidade externa e interna resultando numa troca significativa”, ressalta Reginaldo.
Dentro do projeto do Axé Ô, além das oficinas e da produção do catálogo, serão realizados seminários e rodas de griôs, dando espaço às discussões sobre a religiosidade e a cultura afro-brasileira. No sábado, dia 24, acontece o primeiro seminário temático do Ponto, intitulado ‘Ile Ase Opo Osogunlade: um olhar sobre a tradição e a cultura yorubá’, que contará com a presença de sacerdotes e sacerdotisas de religiões de matriz africana membros de comunidades de terreiro dos estados de Sergipe e Bahia.
Pontos
O ‘Axé Ô’ é um dos 30 Pontos de Cultura que estão espalhados pelos oito territórios do Estado. A ação faz parte do Programa Cultura Viva, do Ministério da Cultura (MinC) desenvolvido em parceria com a Secretaria do Estado da Cultura. Através de recursos oriundos dessa parceria, iniciativas e projetos culturais já desenvolvidos pela sociedade civil são potencializados, a exemplo do trabalho que vem sendo feito pelo Oṣogunlade, em São Cristóvão.
Por Carla Sousa, da Ascom/Secult