Além de ser o primeiro passo para o ingresso no mercado de trabalho, a profissionalização é um meio fundamental no processo de ressocialização e reinserção do jovem na sociedade. Pensando nisso, a Fundação Renascer, através de um convênio firmado com o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac), tem se empenhado em oferecer cursos nas mais variadas áreas aos assistidos das unidades protetivas e socioeducativas.
Diante da possibilidade de dar uma guinada na vida e de olho em um futuro promissor, os adolescentes têm correspondido às expectativas e se empenhado em aprender. “É sempre bom participar de cursos. Antes não tinha essa oportunidade porque vivia na rua. Infelizmente acabei perdendo a liberdade, mas isso acabou servindo para perceber o seu valor e também aprender uma profissão, que espero seguir”, revelou um adolescente que cumpre medida de internação na Unidade Socioeducativa de Internação Provisória (Usip).
As aulas acontecem nas unidades e dentre os cursos oferecidos que, já foram realizados ou estão em andamento, destacam-se os de informática, instalador hidráulico e elétrico, pintura, texturização de parede, designer de estamparia em camisetas, preparo de bolos e tortas e flores emborrachadas e apliques. Até o mês de outubro serão ofertados mais 11 cursos.
Na quinta-feira, dia 19, o Senac iniciou mais uma turma do curso de instalador hidráulico na Usip. As aulas seguem o mesmo padrão das que são ministradas na sede da instituição e ao final, os que tiverem 100% de aproveitamento, recebem certificados, podendo ainda, depois de deixarem o internamento ou progredirem para medida de semiliberdade serem encaminhados a uma vaga de emprego.
A opção por cursos ligados a área da construção civil se dá pela grande procura de profissionais capacitados no mercado. “Eu quero trabalhar e mostrar que o passado ficou da porta para dentro da unidade. Lá fora vai ser vida nova”, salientou um socioeducando. Já no Centro de Atendimento ao Menor (Cenam) está em andamento o curso de Técnicas básicas de pintura e texturização de parede com a participação de dez adolescentes. A previsão é de que as aulas terminem no mês de agosto.
Segundo o professor Lauro Alves, no curso os adolescentes têm a oportunidade de aprender várias técnicas de textura, sendo que as mais usadas são as de pingo de jaca, bambu e rústica. “Além das técnicas já preexistentes, eu estimulo a criatividade do aluno para que ele possa desenvolver suas próprias técnicas e tipos de textura”, destacou o professor, acrescentando que com as técnicas apresentadas em sala de aula o adolescente poderá fazer trabalhos criativos. “Hoje no mercado, o profissional chega a ganhar com a aplicação da textura até R$ 7 por cada metro quadrado”, informou.
Esse mesmo curso foi concluído recentemente pelos socioeducandos da Comunidade de Ação Socioeducativa São Francisco de Assis (Case), enquanto na Unidade Feminina (Unifem) foi realizado o curso de preparo de bolos e tortas.
Protetivas
Os acolhidos do Centro Estudos e Observação (CEO) estão participando do curso de técnicas básicas de instalações elétricas. “Já participei de outros cursos e é sempre bom ter mais um certificado para acrescentar ao currículo”, revelou um acolhido de 15 anos. Segundo a coordenadora de cursos do Senac Macelle Penalva, o mercado tem carência de profissionais capacitados e qualificados. “Os adolescentes estão tendo a oportunidade de aprender desde a forma como atender ao cliente, o que é muito importante, até como fazer uma instalação elétrica”.
Na unidade de acolhimento Izabel Abreu, as adolescentes têm demonstrado dedicação nas aulas de Serigrafia. O curso começou na última terça-feira e se encerra no próximo mês. A analista de formação profissional do Senac, Elizabete dos Santos, acompanhou a aula inaugural e aproveitou o momento para conversar com as acolhidas. Ela ressaltou a importância da capacitação profissional e do valor que tem um certificado emitido pela instituição.
“Finalizando o curso vocês irão receber um certificado reconhecido nacionalmente, mostrando que estão aptas a desenvolver profissionalmente as técnicas de design”, explicou Elizabete. As aulas são ministradas pelo professor José Bomfim. Ele lembrou que, com a capacitação, as adolescentes poderão trabalhar por conta própria ou conciliar com outras atividades. “Elas poderão fazer o horário de trabalho. Sempre tem oportunidades nessa área”, disse Bomfim.
Para uma das acolhidas o início do curso gerou curiosidade. “Tinha apenas uma idea do que era, mas já estou agoniada para começar logo a parte prática. O bom é que a gente pode fazer a própria roupa”, disse a adolescente de 15 anos.