Pressionado pelo governo federal e pela Fifa, Ricardo Teixeira renunciou à presidência da CBF há mais de três meses, alegando que precisava cuidar da saúde.
Longe do Brasil, o cartola deixou o comando da confederação, mas ainda recebe pagamentos da entidade que dirigiu por 23 anos.
Morando em Miami desde então, o ex-presidente ganha de José Maria Marin, seu sucessor, mais do que amealhava como dirigente. Na nova gestão, os depósitos para Teixeira continuam sendo feitos na agência do Itaú localizada no condomínio onde funciona a sede da CBF, no Rio.
A primeira liberação de pagamento foi autorizada no dia 30 de março. Segundo o borderô da entidade, o dirigente foi autorizado a receber R$ 105 mil. Como presidente da confederação, ele ganhava R$ 98 mil mensais.
A operação foi repetida no final do mês seguinte. Em 30 de abril, a CBF liberou um depósito ainda maior. De acordo com o borderô daquele dia, o cartola recebeu R$ 120 mil. Em maio, a entidade fez nova liberação. A reportagem não conseguiu precisar o valor que foi concedido.
Na nova CBF, Teixeira recebe como uma espécie de assessor especial da presidência. A função também é exercida pelo presidente da Federação Paulista de Futebol, Marco Polo Del Nero.
O cartola também é remunerado na CBF. Desde o início da gestão Marin, ele recebe mensalmente cerca de R$ 130 mil da confederação.
O paulista deve ser nomeado hoje vice-presidente da região Sudeste. Por ser o mais velho dos vices, Del Nero, 71, será o substituto de Marin em caso de eventual problema com o atual mandatário.
Marin sucedeu Teixeira graças a Del Nero. Há cerca de quatro anos, o cartola da federação paulista indicou o antigo político para ocupar uma das vice-presidências.
Fora dos holofotes desde o dia 12 de março, quando enviou de Miami sua carta de renúncia, Teixeira permanece influente na entidade. Funcionários o informam semanalmente sobre a movimentação financeira da CBF.
No início deste mês, Marin se encontrou pessoalmente com seu antecessor.
No exterior, eles conversaram sobre os bastidores da Fifa e do futebol nacional, além de terem discutido a organização da Copa. Teixeira presidia também o Comitê Organizador Local de 2014.
DENTRO E FORA
Teixeira deixou o poder em março por pressão do governo federal e da cúpula da Fifa. Ele era alvo de denúncias de corrupção tanto no Brasil quanto no exterior.
No país, a Folha demonstrou sua ligação com a Ailanto Marketing, acusada de desvio de dinheiro público em amistoso entre Brasil e Portugal, em 2008, no DF.
No exterior, Teixeira era ameaçado de ser expulso da Fifa por suposto envolvimento com o caso ISL, maior escândalo de corrupção da entidade. Após renunciar à presidência da CBF, abriu mão também dos cargos na Fifa.
PRESIDENTE NÃO COMENTA GANHO DE ANTECESSOR
Marin não se pronunciou sobre a manutenção dos pagamentos feitos a Ricardo Teixeira.
Desde as 15h de ontem, a Folha tentou localizar o dirigente por meio da assessoria da entidade.
Marin havia participado de uma série de eventos em Brasília pela manhã com dirigentes da Fifa e do governo federal e estava em trânsito.
O dirigente participa hoje da assembleia geral da confederação, que reunirá os presidentes de federações e os representantes dos 20 clubes que disputam a primeira divisão do Campeonato Brasileiro.
O dirigente deve falar hoje sobre os pagamentos a Ricardo Teixeira.
Vivendo em Miami desde março, Teixeira não foi encontrado para comentar o assunto. A reportagem ligou para a casa dele no Rio e para seu celular, mas não teve resposta.
Na reunião de hoje na CBF, o presidente da Federação Paulista de Futebol, Marco Polo Del Nero, será eleito vice-presidente da região Sudeste.
Pelas normas da CBF, apenas Rio e São Paulo podem apontar candidatos.
Ele deve ser eleito com facilidade. O Rio não indicou candidato.
Folha UOL