“Aqui, en Vila Belmiro, la respuesta está dentro de campo”. A frase, em portunhol legítimo, estampava uma faixa exibida por torcedores santistas. Era um recado aos jogadores e aos torcedores do Bolívar. Na partida de ida, em La Paz, além da altitude de 3.660 metros acima do nível do mar, o Peixe teve de lutar contra a violência dos adversários em campo e o vandalismo de torcedores, que atiravam objetos no gramado – Neymar, que era um “desconhecido” para o técnico do Bolívar, chegou a ser atingido no rosto. Resultado: Bolívar, 2 a 1.
A vingança veio nesta quinta-feira. E em forma de massacre. Com “sangue nos olhos”, Neymar, Ganso & Cia massacraram o fraquíssimo time boliviano: 8 a 0. O resultado é a sexta maior goleada da história da Libertadores – a maior é um 12 a 1 do Peñarol-URU sobre o Valencia-VEN, em 1970. O Peixe ficou a um gol de superar seu maior placar na competição – um 9 a 1 sobre o Cerro Porteño-PAR, em 1962.
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O Santos agora encara um adversário bem mais difícil nas quartas de final da Libertadores: o Vélez Sarsfield, da Argentina. O primeiro jogo será quinta-feira (17), em Buenos Aires, e o segundo na quinta seguinte (24), em local a definir (Vila ou Pacaembu). Quem passar pega o vencedor de Corinthians e Vasco nas semifinais.
Embalado pela goleada na Libertadores, o Santos agora se volta para a decisão do Campeonato Paulista. A vantagem é enorme: com os 3 a 0 sobre o Guarani no primeiro jogo, o time de Muricy Ramalho pode até perder por dois de diferença no domingo, às 16h (de Brasília), no Morumbi, que chega ao tri consecutivo.
Com “sangue nos olhos”, Santos massacra
Foi seguramente um dos maiores massacres da história da Libertadores dentro de uma só etapa. Sem tomar conhecimento do Bolívar, o Santos atropelou. Claramente motivado pelos episódios ocorridos no jogo de La Paz, o time de Neymar, Ganso & Cia. parecia querer provar: guerra se combate na bola. E desde o primeiro minuto foi essa a atitude do Peixe.
Minutos antes de a bola rolar, Robinho enviou mensagem surpresa a Neymar. Por meio do telão da Vila Belmiro, o Rei das Pedaladas pediu para o camisa 11 arrebentar e marcar três gols. Também disse que o amava. Da Itália, o ídolo do Alvinegro certamente não esperava que todo o time levaria suas palavras tão ao pé da letra.
A tradicional “pegada de Libertadores” era nítida. A missão era bem clara: golear o adversário a qualquer custo. Logo aos cinco minutos, o agraciado foi Elano. Atrás de um gol há tempos, o camisa 8, enfim, desencantou. Do jeito que gosta, recebeu passe de cabeça de Neymar e soltou o pé de fora da área. Sem a altitude de 3.660 metros, o goleiro Arguello parece ter sido confundido com a curva da bola, que morreu nas redes. Na comemoração, Elano ajoelhou no gramado com as caneleiras nas mãos, em homenagem às filhas Maria Clara e Maria Tereza, cujos nomes estão gravados no objeto.
Empurrado por uma Vila Belmiro lotada, o Peixe ligou o rolo compressor. Atordoado, o Bolívar até chegou a tentar finalização de fora da área com Cardozo, sem sucesso. Nada importava ao Santos, a não ser massacrar o adversário. A bela linha de passe tramada por Ganso, Adriano, Alan Kardec e Henrique era prenúncio do que viria pela frente. No escanteio seguinte ao lance, veio o pênalti em Edu Dracena. Neymar deslocou o goleiro, se isolou como maior artilheiro pós Pelé, com 105 gols, e “reverenciou” todos os torcedores na comemoração.
Dos 21 minutos, tempo em que Neymar ampliou o marcador, até os 36, o Santos fez mais três. O terceiro deles, porém, deve ganhar placa do presidente Luis Alvaro Ribeiro. Pela esquerda, o craque cruzou rasteiro para Ganso ajeitar o corpo e, de letra, matar Arguello. A bola ainda tocou na trave antes de entrar.
Nem bem deu a saída de bola e o Bolívar já sofria outro gol. Alan Kardec dominou na intermediária, avançou e bateu cruzado de fora da área, sem chances para Arguello. Quando parecia que o massacre já havia terminado, Neymar novamente deu o ar da graça. Pela esquerda, ele achou espaço na defesa do Bolívar, invadiu a área e só deu um leve tapa de direita, definindo os 5 a 0 no primeiro tempo.
Parecia que tinha acabado, mas ainda cabia muito mais
Os 15 minutos do intervalo poderiam esfriar o Santos na Vila Belmiro. Era por isso que o Bolívar torcia, mas tal fato esteve longe de acontecer. Incansável, o Peixe queria mais. Nem mesmo o som do “olé” entoado pelos santistas na primeira etapa relaxou a equipe. Entre pontapés dos bolivianos e lindas jogadas de efeito de Neymar e Ganso – por conta de cotoveladas, o meia teve de usar um algodão no nariz durante a partida -, o Santos continuava dando show.
Endiabrado, Neymar seguiu como protagonista. Mas em vez de artilheiro, assumiu papel de garçom. Em mais uma bela jogada pela esquerda, o atacante achou Elano. Com um lindo drible de corpo, lembrando o mesmo movimento executado por Diego, ex-Santos e atual Atlético de Madrid, contra o São Paulo em 2002, o meia tirou o zagueiro da jogada e só deslocou o goleiro: 6 a 0.
Se o Peixe jogava por música, a orquestra tinha de ter mais gols do Maestro. E de tanto treinar, Ganso acertou gol de falta. Desta vez, com bela contribuição de Arguello, que espalmou a bola para dentro, aos sete minutos. Àquela altura, tudo já era festa para a torcida do Santos. Com o placar garantido, Muricy Ramalho promoveu alterações. Alan Kardec deu lugar a Borges e Arouca foi substituído por Ibson.
E em mais outra boa jogada pela esquerda de Neymar, o Santos chegou ao oitavo. O craque gingou na frente dos adversários e rolou para Ganso na entrada da área. De primeira, o camisa 10 deixou Borges totalmente à vontade para finalizar e ampliar.
Mesmo com 8 a 0 no placar, nenhum torcedor boliviano tirou o pé da Vila Belmiro. A motivação era por um gol de honra da equipe celeste. Nos poucos lances de perigo criados pelo Bolívar na etapa final, eles ainda vibravam, mas não puderam comemorar nada. Rafael pegou tudo. Com tudo o que tem direito, incluindo olé, o Santos se garantiu com moral nas quartas de final da Libertadores.
Globo Eporte e Agência o Dia.