O clima era de festa, muitos companheiros de outras caminhadas separaram o dia na agenda para vir a Brasília e comemorar mais um aniversário do Partido dos Trabalhadores, o 32º. Na véspera da grande festa, o diretório nacional do partido se reuniu para traçar estratégias para as próximas eleições municipais.
No entra e sai do prédio localizado no Setor Comercial Sul, onde fica a sede nacional do PT, a presença de José Eduardo Dutra entre os companheiros passa quase desapercebida. De camisa polo e calça jeans, o novo visual do petista em nada se compara aos tempos quando foi senador por Sergipe (1994-2002) ou quando presidiu o partido e foi chamado para compor o grupo de articuladores da campanha vitoriosa de Dilma Rousseff, em 2010.
A garantia de mais um mandato petista no Planalto veio acompanhada de um drama pessoal.
Cotado para assumir uma cadeira na Esplanada, o geólogo teve um sério problema emocional no meio do processo da montagem da equipe ministerial. Por motivos de saúde, precisou deixar o comando do partido. O mandato se encerraria apenas em 2012. Semanas antes da decisão, postou no Twitter encontros que não existiram e frases desconexas.
O comportamento serviu de alerta para familiares em Brasília. O ex-assessor e amigo Paulo Otto — que estava no Rio — foi convocado para ir ao apartamento de Dutra, no Rio de Janeiro. No local, encontrou o petista delirante e desidratado. “Agora, o PT define seu novo presidente. E eu me cuido”, disse Dutra, ao se despedir do comando do partido em abril do ano passado e deixar os holofotes. Na época, apresentou um laudo médico que apontava para uma combinação de “crise hipertensiva” com “estresse”, que desembocou numa “síndrome metabólica”.
O encontro do diretório nacional realizado na véspera do 32º aniversário do PT ocorreu quase um ano depois das declarações. Mais magro e recém-separado do quarto casamento, Dutra até arriscava um sorriso de canto de boca para aqueles que o questionavam sobre a ausência na linha de frente do partido. Depois de um bate-papo com o Correio, após ser questionado se iria disputar um novo mandato eletivo, soltou uma frase que resume bem o estado de espírito do dirigente: “Sem chances. Encheu o saco!”. Mas, segundo ele, ainda poderá articular aqui e ali nas disputas no Rio e em Sergipe. “Ali acho que ainda tenho um pouco de influência”, avaliou.
Botafogo
Em sua nova fase, Dutra abandonou os chopinhos corriqueiros. Os encontros para discutir o “varejão político” foram trocados por idas com velhos amigos dos tempos de faculdade aos estádios para torcer pelo time do coração: o Botafogo.
Os momentos de introspecção também fazem parte dos dias de Dutra, que passa horas no escuro das salas de cinemas, onde chega a ver até três sessões em apenas um dia. A frequência em frente às telas o leva até a arriscar momentos como crítico da sétima arte. “O homem que não amava as mulheres é muito bom, mas eu preferia um final diferente. Embora a ex-senhora Sean Penn seja mais bonita”, avalia em uma tuitada.
A foto dele no microblog também revela o novo estilo de vida. Na imagem do perfil, ele aparece caminhando no calçadão do Rio e com fones no ouvido. O Twitter, inclusive, virou o principal “companheiro” usado para externar temas que vão de palpites futebolísticos a críticas de maquiagem. Debates sobre os últimos capítulos das novelas não faltam. A família também se faz presente. A principal seguidora é dona Clóris de Barros, de 81 anos, que dá broncas no filho quando ele não manda mensagens. Um ou outro post ainda servem de críticas contra o PSDB.
Longe do centro das atenções do mundo da política, Dutra assumiu na última quarta-feira a diretoria corporativa da Petrobras criada na gestão de Maria das Graças Foster. Para que servirá essa diretoria? “Só para coisa light. Problemas nas plataformas ou greve de funcionários”, brincou um novo Dutra, que se sente de volta à superfície quando o assunto é Petrobras, empresa que comandou entre 2003 e 2005.
Correio Braziliense