No Brasil, a doação de órgãos só necessita de uma simples autorização por parte da família para acontecer, por isso é importante que esse desejo de ser doador seja comunicado pela pessoa em vida aos familiares. Em Sergipe, a doação de órgãos é amplamente incentivada pelo Governo do Estado, por meio da Secretaria de Estado da Saúde (SES), e esse estímulo é reforçado a cada ano, por meio da campanha Setembro Verde, que destaca a importância de salvar vidas, por meio da doação.
Foi graças a essa benesse que o agrimensor aposentado Leonaldo Carvalho, de 68 anos, hoje, pode contar sua história de vida. Em 2020, em um exame de rotina, ele descobriu um nódulo no fígado e precisou fazer uma ressecção cirúrgica. Após o procedimento e acompanhamento semestral, foi detectado um novo nódulo no fígado, em 2023, e a equipe médica recomendou o transplante de órgão. Em julho de 2024, o aposentado conseguiu ser transplantado e voltou a ter qualidade de vida ao lado da sua família.

A doação de órgãos só necessita de uma simples autorização por parte da família para acontecer –
Foto: Mario Souza/ASN
Hoje, já recuperado, ele comemora a oportunidade de estar vivo pela doação de outra pessoa. “Graças a Deus, consegui um doador compatível e realizei meu transplante, que aconteceu em Recife [PE]. O ser humano, hoje, tem que ser um doador de órgãos porque é muito importante para a vida do outro. Uma vida termina, mas oferece oportunidade para outras pessoas viverem. Hoje, após essa minha história, todos da minha família querem ser doadores porque a doação salvou minha vida”, relata.
Nos últimos anos, o número de doadores tem aumentado a expectativa de vida de muita gente. Em 2024, por exemplo, Sergipe registrou 57 doadores de órgãos e, neste ano, 37. Foram captados e ofertados para a Central Nacional de Transplantes, 56 rins, 22 fígados, 142 córneas e quatro corações, no ano passado. Já em 2025, até agosto, foram captados 36 rins, 18 fígados, 97 córneas e quatro corações. Recentemente, o Governo do Estado anunciou a retomada da realização dos transplantes de rim em Sergipe e o início dos de fígado no estado.
Protocolo
O coordenador da Central Estadual de Transplantes (CET), Benito Oliveira Fernandez, explica que o processo de doação de órgãos é extremamente rigoroso e envolve várias etapas fundamentais para garantir a segurança e a qualidade dos órgãos transplantados, inclusive, respeitando a Lei dos Transplantes, regulamentada pelo Decreto nº 9.175/2017. “Só após a confirmação da morte encefálica e a concordância familiar, iniciamos uma série de avaliações rigorosas, como exames sorológicos, ultrassom, ecocardiograma e outros testes, para garantir que os órgãos estejam em condições ideais para transplante. Não é simplesmente assinar um documento e levar o corpo para o centro cirúrgico, pois o tempo para transplantes, como o de coração e pulmão, é extremamente curto, cerca de quatro horas entre a retirada e o implante. Por isso, o receptor já deve estar preparado no hospital. Todo esse cuidado assegura que a doação aconteça com segurança, eficiência e respeito à vida”, detalha.
Para garantir a compatibilidade e a eficiência na distribuição dos órgãos, o processo de doação é integrado nacionalmente, coordenado pela Central Nacional de Transplantes. “A equipe transplantadora cadastra o receptor no sistema informatizado de gerenciamento, que é nacional, enquanto a central estadual cadastra o doador. O sistema seleciona os pacientes com maior compatibilidade, priorizando aqueles do estado do doador para reduzir o tempo em que o órgão fica fora do corpo, o que impacta diretamente na qualidade do transplante”, informa Benito.
Em 2024, a família de Layane Avelino de Santana enfrentou a confirmação da morte encefálica da jovem, após a promotora de vendas, de 30 anos, ser hospitalizada devido a um aneurisma cerebral. Mesmo no difícil momento, a família se sensibilizou e autorizou a doação dos órgãos que salvaram cinco vidas por meio da doação das córneas, coração, rins, pulmão e pâncreas.
A mãe de Layane, a dona de casa Maria de Fátima Avelino, 52 anos, conta que a decisão ocorreu naturalmente ao se colocar no lugar de outras famílias que pudessem estar passando, também, por um momento de dor. “Foi difícil demais porque ela era uma menina muito feliz, alegre e ninguém esperava por isso, mas me coloquei no lugar de outras mães que aguardam um transplante porque, se alguém pudesse doar o cérebro para minha filha, eu iria agradecer e ser feliz. Então passei essa felicidade para outras pessoas, que tiveram suas vidas salvas com a doação. Saber que ela vive um pouco nessas pessoas me conforta muito”, declara.
A irmã de Layane, a pedagoga Luana de Santana, 34 anos, acrescenta que a decisão foi feita com base no desejo de Layane de ajudar outras pessoas. “Antes mesmo de a equipe do hospital falar conosco sobre a doação tinha conversado com minha mãe sobre a importância de doar os órgãos, porque ela era uma pessoa que pensava muito no próximo. Foi um gesto com o coração, muito importante por poder salvar outras vidas”, complementa.
Luana de Santana reforça a seriedade do processo, que deu segurança à família para autorizar a doação. “O enterro ocorreu normalmente, com caixão aberto, ela estava perfeita, a doação não interferiu na despedida dela, que foi bem emocionante. O que posso dizer a outras famílias é que autorizem a doação, porque a gente nunca sabe o dia de amanhã. Hoje, você pode autorizar a doação de um familiar que você perdeu, mas, amanhã, pode ser você que esteja precisando”, alerta.
Acolhimento
A coordenadora da Organização de Procura de Órgãos (OPO) de Sergipe, Darcyana Costa, destaca a importância de acolher as famílias no momento delicado de perda e esclarecer dúvidas. “A doação de órgãos é o maior ato de benevolência humana. A família decide que aquela pessoa que se foi pode dar continuidade à vida de outras. Um doador pode salvar até oito vidas. É fundamental que a sociedade entenda que a decisão da família é a chave para o transplante acontecer. O desconhecimento dificulta a autorização para a doação, mas, desde 2023, a OPO intensificou o trabalho de diálogo com os familiares e esse cuidado tem resultado em mais doações”, acrescenta.
Avanço histórico
Segundo a Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO), Sergipe tem uma necessidade estimada de 206 transplantes de córneas, 137 transplantes de rim, 57 transplantes de fígado, 18 transplantes de coração e 18 pulmão. No último dia 3 de setembro, o Governo do Estado marcou um avanço histórico para a saúde pública de Sergipe ao assinar contrato com Fundação Beneficente Hospital de Cirurgia (FBHC) para retomada da realização de transplantes de rim com doador falecido após 13 anos, e realização de transplante de fígado pelo Sistema Único de Saúde (SUS) no estado de forma inédita. A iniciativa representa esperança para os pacientes sergipanos que aguardam na fila nacional de transplantes que, hoje, soma 79.851 pessoas.
A realização dos transplantes no estado permite maior agilidade e eficiência no processo de doação. “O retorno dos transplantes de rim e fígado em Sergipe representa um marco histórico para a saúde do estado. Muitas vezes, pacientes enfrentam dificuldades para se deslocar para outros estados para realizar o transplante, o que gera sofrimento e atraso no tratamento. O processo, podendo ser realizado aqui, significa mais qualidade no órgão transplantado e maior chance de sucesso. Além disso, o acompanhamento pós-transplante será facilitado, com o paciente podendo realizar consultas e tratamentos no próprio estado, o que traz melhor qualidade de vida e diminui custos para o sistema de saúde e para as famílias. Essa conquista também fortalece a sensibilização da sociedade para a doação de órgãos”, garante Darcyana Costa.
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Fonte: Agência Sergipe de Noticias