O estímulo a espetáculos, a ampliação do acesso e o reconhecimento dos profissionais de artes cênicas têm sido reforçados em Sergipe com o Teatro nas vilas temáticas realizadas pelo Governo do Estado na Orla da Atalaia, em Aracaju. A iniciativa gratuita não só valoriza os artistas locais, como também amplia o acesso da população às produções culturais. O projeto transforma o espaço público em palco para diferentes expressões artísticas, movimenta a economia criativa, forma novos públicos e aproxima sergipanos e turistas da riqueza cultural do estado.
Somente no Teatro da Vila do Forró deste ano, foram mais de 100 espetáculos lúdicos e interativos apresentados por 25 grupos circenses, teatrais e de dança durante os 60 dias de atividade da cidade cenográfica, entre maio e julho. As sessões diárias, realizadas para uma plateia de até 130 pessoas, foram fruto de um investimento de R$ 322 mil, especificamente para os grupos desse nicho. Depois de estrear na Vila da Criança, em outubro de 2024, o Teatro passou pelas Vilas do Natal Iluminado e da Páscoa, e registra aprovação ampla entre profissionais do segmento e sucesso entre o público.
Resultado de uma postura proativa do Governo do Estado, a realização do Teatro nas vilas temáticas representa o resgate e fortalecimento das artes cênicas no estado, como ressaltou o diretor-presidente da Fundação de Cultura e Arte Aperipê de Sergipe (Funcap), Gustavo Paixão. “Foi um sucesso absoluto. Vimos várias famílias juntas, de idosos a crianças, que, muitas vezes, não tinham o costume nem conheciam o teatro. Trata-se de uma valorização ainda maior da cultura sergipana”, enfatizou ele.
Para a dona de casa Maria Denise Santos, o Teatro na Vila foi uma grande novidade. Antes do espaço na Vila do Forró, ela nunca tinha assistido a um espetáculo teatral, mas, depois de conferir uma peça pela primeira vez, disse se sentir incentivada a repetir a experiência. “Quando a gente faz uma coisa inédita, como essa, e gosta, é muito bom, porque dá vontade de voltar, frequentar mais. O melhor de tudo é que é de graça. Nem todo mundo tem condições de pagar um ingresso, então ter essa facilidade ajuda demais”, contou ela, acompanhada da neta Maria Clara.
Quem já tem o hábito de ir a teatros também avaliou positivamente a ação. É o caso do engenheiro eletricista Bruno Barreto, que classificou a iniciativa como uma importante ferramenta de propagação da cultura e arte sergipana. “Ter esse tipo de fomento é muito relevante para a população do estado e para as pessoas de fora. Sergipe tem recebido muitos turistas, e é interessante que eles nos conheçam dessa forma. Muito bacana”, considerou ele, que visitou a Vila ao lado da família.
Foi por meio do espaço que o casal Guilherme e Beatriz Peli, de Cosmópolis, em São Paulo, teve um pouco mais de contato com as tradições culturais do estado, tema dos espetáculos na última Vila. Graças à atração, que contou com climatização e intérprete de Libras, eles puderam, ainda, aproveitar o que nem sempre a rotina diária permite. “A gente gosta muito de ver peças, mas, com a correria do dia a dia, fica complicado. Às vezes, precisamos nos deslocar para cidades maiores. Então, isso é uma maravilha. A estrutura foi muito boa”, expressou Guilherme, para quem a gratuidade atua como estratégia fundamental para que mais plateias se formem em teatros de Sergipe.
Fortalecimento
A valorização e a potencialização do trabalho artístico cênico é evidenciado pela avaliação positiva dos artistas contemplados, selecionados por um júri técnico da Fundação de Cultura e Arte Aperipê de Sergipe, responsável pelo espaço. Um desses artistas é Leandro de Matos Santos, membro da companhia de dança Sutaques de Casa, que reúne elementos regionais em apresentações que evidenciam a cultura local.
Segundo ele, foi a primeira vez que o grupo teve a oportunidade de se apresentar em um evento de grande porte. Com a alta visibilidade, a companhia tem tido o trabalho reconhecido pela população e por pessoas de outros estados. Para Leandro, o teatro é fundamental para a classe das artes cênicas. “Esse investimento é muito importante, tivemos um fortalecimento da nossa arte. Às vezes, podemos nos desanimar, mas, com um incentivo como esse, a gente se anima, celebra, fomentando e difundindo o conhecimento por meio deste lugar, que é o Teatro da Vila ”, afirmou ele, ao ressaltar, ainda, a importância da iniciativa para estimular o público a visitar espetáculos e se interessar mais pelas artes cênicas.
Benefícios em cadeia
Outra transformação promovida pelo Teatro da Vila foi a expansão do calendário de apresentações em Sergipe, beneficiando o público, artistas e toda a cadeia produtiva envolvida na elaboração e execução dos espetáculos. A produtora Rosana Costa, da RC Produções, revelou que, hoje, o cenário é outro. “Com as vilas, todo o setor pode ter uma agenda de apresentações mais vasta e um ano mais produtivo”, explicou.
Em sintonia à proposta dos grandes eventos do Governo do Estado, o Teatro também contribui para movimentar a economia sergipana, isso porque, para um espetáculo acontecer, são necessários materiais e produtos diversos, adquiridos no comércio local, e a força de trabalho de técnicos, produtores e profissionais de apoio, presentes no espaço das vilas temáticas.
Esse aspecto foi lembrado pela atriz venezuelana Luz Rivero, do grupo Circo Rueda, que, entre os 17 estados pelos quais passou, escolheu viver em Sergipe, há quatro anos. “Fazer uma peça acontecer envolve muitos recursos. Cada instrumento que a gente usa para cena, como claves, bolinhas, monociclo e bambolê, são parte da nossa indumentária, nosso material de trabalho, são itens que precisamos adquirir. Além disso, também temos dois produtores e atuamos junto a artistas independentes”, detalhou.
Governo apoia
Durante todos os dias, os grupos contaram com o apoio direto da gestão estadual, por meio da Funcap, responsável pelo espaço, bem como uma estrutura com climatização e iluminação apropriada. Produtores, técnicos de som e de luz, pessoal de apoio e profissionais de limpeza prestaram suporte aos grupos e asseguraram que as apresentações ocorressem de maneira adequada ao público.
Para a assessora técnica da Diretoria de Políticas Culturais (Dicult) da Funcap, Grazzy Coutinho, além de ser um espaço democrático e de promoção do trabalho de artistas cênicos, o Teatro ajuda a reforçar e manter viva a identidade sergipana. “A importância dele reside, justamente, na capacidade de articular cultura, memória, diversão e identidade de forma viva, popular. Ao mesmo tempo que desperta emoções e cria memórias, é uma forma de nos reconectarmos às nossas raízes”, salientou.