Pesquisas desenvolvidas pelo Instituto Tecnológico e de Pesquisas do Estado de Sergipe (ITPS) mostram que ciência e sustentabilidade podem caminhar juntas para promover avanços sociais. Alguns exemplos de projetos em andamento no órgão — que é vinculado à Secretaria de Estado do Desenvolvimento Econômico e da Ciência e Tecnologia, do Governo de Sergipe — buscam responder a demandas reais da população por meio de soluções tecnológicas voltadas ao meio ambiente, à segurança alimentar e ao fortalecimento da produção agrícola local. São projetos que reforçam o papel do ITPS como agente de desenvolvimento científico e tecnológico, com foco em inovação, sustentabilidade e compromisso social.
A engenheira florestal Danielle Guimarães lidera uma das iniciativas que têm como foco o desenvolvimento de um fertilizante à base de agrominerais e biochar. A pesquisa intitulada ‘Desenvolvimento de fertilizante composto por agrominerais e biochar para promoção da fertilidade em solos sergipanos’ busca oferecer aos agricultores sergipanos um composto capaz de promover a fertilidade dos solos locais — caracterizados por suas particularidades — de maneira sustentável.
Por meio da realização de testes em solos e cultivo de plantas, os pesquisadores vão realizar o monitoramento da resposta nutricional e do crescimento vegetal. “O que a gente busca é criar uma formulação que associe o uso de agrominerais já adotados pelos produtores a resíduos que tenham potencial como o biochar, aproveitando inclusive resultados de pesquisas anteriores com biocarvão de coco verde. A ideia é liberar nutrientes de forma eficiente para as plantas, com um insumo que valorize o que o estado já produz”, explica a pesquisadora.
Com prazo de dois anos e testes em andamento, além da pesquisadora Desenvolvimento Tecnológico Regional (DTR) Danielle Guimarães, o projeto conta com a participação dos pesquisadores Desenvolvimento Tecnológico e Inovação (DTI) João Victor Cardoso e Anderson Gois, e com o IT (nível graduação) Neivaldo Messias. Os resultados esperados incluem uma alternativa viável e de baixo custo para pequenos produtores, capaz de potencializar o uso de insumos naturais com benefícios diretos para a produtividade agrícola.
De acordo com a pesquisadora, a ideia é priorizar os agrominerais contidos no estado, sem precisar utilizar de outras fontes. “A nossa prioridade é ver o que o produtor está usando aqui, observar qual é a demanda do produtor, fazer esse diálogo e também priorizar o que tem aqui no estado para a produção”, ressalta.
Segurança alimentar
Outro projeto em andamento no ITPS trata do controle de qualidade de alimentos e bebidas industrializadas. Coordenado pela pesquisadora Julianna Karla Santana Andrade, o estudo ´Controle de qualidade em alimentos e bebidas industrializados: avaliação de parâmetros de qualidade, verificação de adulterações em alimentos, quantificação e validação de métodos’ busca validar métodos cromatográficos para a identificação e quantificação de conservantes em produtos como sucos, néctares e bebidas lácteas.
“Queremos saber se os teores desses aditivos estão dentro dos limites estabelecidos pela Anvisa. Quando excedem, podem oferecer riscos à saúde da população. Com os resultados, pretendemos oferecer um novo serviço no nosso laboratório que atenda à demanda crescente das indústrias sergipanas, tanto grandes quanto pequenas”, destaca Julianna.
A pesquisa, financiada pela Fundação de Apoio à Pesquisa e à Inovação Tecnológica do Estado de Sergipe (Fapitec/SE), por meio do Programa de Atração e Desenvolvimento de Recursos Humanos em Apoio à Pesquisa e à Inovação Tecnológica em Instituições Estaduais, também tem duração de dois anos e envolve uma equipe de bolsistas Desenvolvimento Tecnológico e Inovação, incluindo pesquisadores como Emanuele, Ana Caroline e Victor, além de bolsistas de iniciação científica.
O estudo teve início em 2025, com duração prevista de dois anos, consolidando dados que podem resultar na oferta de um serviço laboratorial para as indústrias locais. Ao final, o ITPS planeja transformar o estudo em um serviço laboratorial permanente, contribuindo para a saúde pública e para o fortalecimento da cadeia produtiva local.
Resíduos de agrotóxicos
Com o objetivo de ampliar o monitoramento de resíduos de agrotóxicos em alimentos produzidos em Sergipe, a pesquisadora Débora Bezerra conduz a pesquisa ‘Ampliação do escopo de matrizes alimentares para rastreamento de resíduos de agrotóxicos no celeiro produtivo sergipano e de água superficial’, que dá continuidade a um trabalho iniciado entre 2021 e 2023. Na primeira fase, foram estabelecidos métodos de análise para três matrizes alimentares. Agora, a proposta é ampliar esse escopo para incluir novas culturas como cenoura, acerola, abacaxi, mamão e laranja.
De acordo com a pesquisadora Débora Bezerra, o objetivo é implementar e ampliar o escopo das análises para que mais matrizes alimentares — como acerola, abacaxi, tomate, cenoura, mamão, laranja e banana — possam ser avaliadas quanto à presença de resíduos de agrotóxicos, em conformidade com os limites permitidos pela legislação.
“É um projeto essencial para garantir segurança alimentar à população e atender a uma demanda antiga do próprio Governo de Sergipe. O Estado não tinha um programa sistemático de monitoramento desses resíduos, e a ideia é que as análises não precisem mais ser feitas fora”, afirma Débora.
Além de permitir a análise local de amostras, o estudo contribui diretamente com as ações de fiscalização e orientação da Empresa de Desenvolvimento Agropecuário de Sergipe (Emdagro), do Ministério Público e de outros órgãos. Ao identificar irregularidades, os produtores podem ser orientados sobre o uso correto dos insumos, promovendo boas práticas agrícolas e reduzindo impactos ambientais.
Pesquisas aplicadas a serviço da sociedade
De acordo com a coordenadora do Laboratório de Análises de Alimentos do ITPS, Karina Leão, o compromisso do instituto é transformar ciência em soluções reais. “Todos os projetos têm aplicação prática e surgem de necessidades do nosso estado. Seja para reduzir o custo de produção no campo, seja para garantir a segurança dos alimentos que chegam à mesa da população, nós buscamos sempre uma atuação integrada e sustentável”, explica.
Ainda segundo a coordenadora, a sustentabilidade está presente em cada etapa: no aproveitamento de resíduos como matéria-prima, na escolha de insumos locais e até na destinação dos resíduos gerados nos próprios laboratórios. Para ela, é fundamental minimizar os impactos ambientais e pensar no descarte adequado. Viver de forma sustentável olhando para cada processo, buscando o equilíbrio.
“Portanto, não é só fazer a análise química em si, mas observar os resíduos que são gerados. Como devemos tratar e minimizar, gerar o mínimo possível desses resíduos para que a gente possa dar o descarte e o destino correto na natureza. A gente vê que cada dia a poluição vai mexendo com o nosso organismo. De forma indireta, a gente é afetado pela poluição ambiental e de diversos setores, industrial, trânsito, então a gente tem sempre que ter essa preocupação com o que podemos fazer para minimizar os impactos no ambiente”, conclui.
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Fonte: Agência Sergipe de Noticias