Na manhã de quarta-feira, 12, a Unidade de Saúde da Família Tânia Santos Chagas, com o apoio da Secretaria de Saúde da Prefeitura de São Cristóvão, realizou uma ação de conscientização contra violência doméstica para moradores do povoado Colônia Miranda, distante 5 Km da sede do município. A ação, que contou com uma roda de conversa com policiais militares, entrega de materiais educativos, e alongamento com profissional de educação física, teve como intuito mostrar à população local os principais tipos de violência doméstica e formas de combatê-las para comunidade.
A ideia de organizar o evento partiu da observação da equipe da Unidade de Saúde da Família que o povoado tem um alto índice de alcoolismo entre algumas famílias, o que, muitas vezes, resultava em episódios de violência doméstica. Marta Moura, gerente da Unidade, explica que, além disso, relatos de amigos, vizinhos e familiares que presenciam situações de violência chegam com frequência no local, mas as denúncias não são feitas. “Acredito que depois da conversa de hoje as mulheres ficarão mais empoderadas com o conhecimento, porque, para mim, é o conhecimento que te tira do lugar. Claro que é gradativo, mas já é um passo que conseguimos dar”, espera a gerente.
O evento foi iniciado pela palestra de Fabíola Goes, capitã da polícia militar e coordenadora do projeto Ronda Maria da Penha, que tem como missão fiscalizar o cumprimento de medidas protetivas de urgência. O diálogo proposto abordou exemplos de violências comuns, os tipos de violência doméstica determinados pela Lei Maria da Penha – a violência física, psicológica, moral, sexual e patrimonial -, e abriu espaço para relatos das participantes.
Segundo a capitã, que visa levar essa discussão para todos os lugares, conversar sobre o tema é essencial para impulsionar as mulheres a sair de situações violentas. “A mulher que sofre violência doméstica tem um tempo para denunciar e se perceber na violência. Então, quanto mais ela ouve o tema, mais ela se percebe nesse contexto violento e que futuramente vai ajudá-la a sair e se reconhecer que está vivendo daquela forma e como pode pedir ajuda. Então, trazer o município e pessoas que trabalham nele, como o CRAS, o CREAS (Centros de Referência em Assistência Social), para que as pessoas conheçam a rede de apoio à mulher, é primordial para que, quando ela sair de casa decidida a pedir ajuda, ela saiba com quem vai falar e onde pedir essa ajuda”, afirma.
O coronel Vivaldi Cabral, subchefe do estado maior da Polícia Militar, também esteve presente e explica que estado, junto à PM, tem um trabalho de divulgação atuante nas comunidades, tanto de São Cristóvão como em todos os municípios de Sergipe. “Ações como essa demonstram que a Polícia Militar e a sociedade devem caminhar juntas prestando informações e esclarecendo aquilo que as pessoas têm dificuldade de entender, com um único objetivo: prover a segurança pública”, ressalta.
O diálogo incutiu no engajamento do público, pois as mulheres presentes se identificaram com os exemplos citados e sentiram-se confortáveis para compartilhar relatos pessoais. Fabiana do Nascimento, que é moradora do povoado e usuária da USF Tânia Santos Chagas, contou que a violência doméstica é geracional em sua família, atingindo desde sua mãe, até ela mesma e uma de suas filhas. “Eu sei o que é ser machucada com palavras e com pancada, e eu passo para minhas filhas que nós mulheres devemos ser independentes de homens, vivendo em comum acordo. A nossa comunidade estava precisando de um tema como esse e espero que venham outros”, relata.
O combate à violência doméstica é multidisciplinar
Ana Caroline Trindade, diretora de Direitos Humanos da prefeitura de São Cristóvão, também palestrou sobre o tema e o seu principal intuito foi abordar instrumentos para ajudar às mulheres a compreender as situações de violência. Para isso, abordou o violentômetro, material gráfico informativo que mede os níveis de violência.
“A defesa dos direitos das mulheres é obrigatoriamente a defesa dos direitos humanos. Dar esse fortalecimento e potencializar a coordenadoria de mulheres. Dentro da diretoria de Direitos Humanos, nós temos a Coordenadoria da Mulher, que tem essa função de articulação dos casos para além dos nossos equipamentos das políticas públicas”, explica Ana Caroline, realçando a importância de uma atuação intersetorial.
A assessoria técnica de aquicultura da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico e do Trabalho (SEMDET) também participou da ação, através da presença de Elaine de Jesus. A assessora relatou que o público alvo da ação foram as marisqueiras da região, pois, em trabalhos com essas mulheres, notou que a violência era recorrente entre elas: “A SEMDET faz várias oficinas. No agosto lilás, percebemos que muitas mulheres, cerca de 80% delas, passam por algum tipo de agressão”.
A Secretaria Municipal de Saúde trabalha com a comunidade por meio do apoio institucional, que funciona como interface entre a instituição e a população. Ariadny Santos, apoiadora institucional, reforçou como o trabalho é feito: “Diante da realidade local, em reuniões com as equipes, pensamos juntos nas estratégias que podemos construir para enfrentar os problemas. Neste local, a violência doméstica tem crescido muito. Então ajudamos na ação e na questão estrutural, vendo melhor data, local, profissionais que podem participar, articulando com outros pontos da rede”.
É importante denunciar!
Para denunciar um caso de violência doméstica, o ideal é que a mulher que se encontre nessa situação procure uma delegacia e contate o DAGV (Departamento de Atendimento aos Grupos Vulneráveis). Após formalizar a denúncia, há medidas protetivas de urgência que trabalham a favor da mulher violentada e da sua proteção.
O estado também conta com duas casas de apoio na capital, que podem receber a mulher caso ela precise sair de casa, e, além disso, é feito um levantamento do melhor abrigo para ela pela equipe responsável. Uma vez que a medida protetiva entra em ação, o agressor precisa deixar a residência para que a mulher se mantenha em segurança e volte à sua rotina com normalidade e proteção.
Caso a mulher em situação de violência doméstica não consiga ir até a delegacia, a Polícia Militar indica que as mulheres procurem o CRAS ou CREAS mais próximo, onde conseguirá apoio psicológico e assistência social, o que pode ajudá-la a encerrar o ciclo de violência.
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Fonte: ascom/PMSC