A Polícia de São Paulo apreendeu neste sábado (13) 41 cavalos do haras de Valdevan Noventa, ex-deputado federal e presidente licenciado do Sindmotoristas.
Valdevan está entre os alvos da operação contra diretores do Sindicato dos Motoristas e Trabalhadores em Transporte Rodoviário Urbano de São Paulo (SindMotoristas) suspeitos de lavagem de dinheiro, ocultação de bens, direitos ou valores e organização criminosa.
O haras fica na cidade de Arauá, em Sergipe. A polícia informou que os cavalos são de raça, não têm documentação e um deles pode valer R$ 2 milhões. A transferência dos animais para a cavalaria da PM será pedida à Justiça.
Operação
Na sexta-feira (12) a Polícia Civil fez uma operação de busca e apreensão em nove endereços em São Paulo e em Sergipe. Cinco dos endereços visitados têm ligação com Valdevan Noventa.
Segundo a investigação, o grupo é suspeito de movimentar R$ 20 milhões por ano de recursos indevidos recebidos como propina. O dinheiro seria desviado de subsídios pagos pela Prefeitura de São Paulo a empresas de ônibus. Também são apurados crimes como ameaça, extorsão e apropriação indébita. Pelo menos 17 pessoas estariam envolvidas no esquema criminoso.
Ainda segundo a polícia, a diretoria do SindMotoristas pressionava trabalhadores e empresas de ônibus, obrigando as empresas a contratar prestadores de serviço que repassariam propina para a diretoria do sindicato. Os trabalhadores eram obrigados a se manter sindicalizados.
Vandevan também é suspeito de enriquecimento político, segundo a investigação, cerca de R$ 29 milhões do patrimônio dele vêm de extorsão de trabalhadores e empresas durante a atuação dele no sindicato.
O SP2 teve acesso a documentos que fazem parte da investigação. Em um dos relatórios, consta a informação de que Valdevan “coleciona antecedentes criminais”, entre eles, “roubo e estupro” e “homicídio do sindicalista Severino Teotônio do Nascimento”, que atuava no Sindicato dos Motoristas e Cobradores de Ônibus de São Paulo.
Ainda segundo esses documentos, em 2013, durante a eleição para presidente do sindicato, Valdevan e os demais integrantes de chapa eleitoral agrediram adversários políticos com arma de fogo.
Apesar de estar licenciado, Valdevan Noventa tinha participação ativa no sindicato. Ele chegou a participar das negociações das últimas greves da categoria com o poder público. No dia 14 de junho, o deputado cassado chegou a assinar um acordo para suspender o movimento junto com o presidente da Câmara Municipal, Milton Leite, em conjunto com Valmir Santana da Paz, atual presidente do sindicato.
Investigação
A Justiça determinou o cumprimento de ao menos dez mandados de busca e apreensão em endereços de dirigentes do SindMotoristas na capital paulista, Grande São Paulo, Baixada Santista e Arauá, em Sergipe. A ação, batizada de Operação Chapelier, foi realizada pela 1ª Delegacia Seccional Centro. Não ocorreram prisões.
Ainda segundo o delegado, Valdevan também obrigava associados do sindicato a contratar planos de saúde de empresas, que depois eram repassados como propina para ele e outros dirigentes.
Valdevan Noventa
Valdevan Noventa é presidente licenciado do SindMotoristas em São Paulo. O mandato dele como parlamentar foi cassado pela Justiça Eleitoral de Sergipe em maio de 2020. Ele foi condenado pelo recebimento e por arrecadar recursos ilícitos e de origem não identificada. Em março de 2022, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) manteve a decisão, por unanimidade.
Valdevan é apoiador do presidente Jair Bolsonaro (PL). Em em junho deste ano, o ministro Nunes Marques, do Supremo Tribunal Federal (STF), anulou a cassação do deputado bolsonarista porque entendeu que o Tribunal Superior Eleitoral inovou em relação ao entendimento das regras vigentes para cassar um político.
Mas, no mesmo mês, a Segunda Turma do STF decidiu por maioria derrubar a decisão individual do ministro Nunes Marques e manteve a perda do cargo de Valdevan.
Procurado pelo g1 para comentar o assunto, Valdevan disse que está sendo perseguido pelo poder público por ter realizado greves recentes de motoristas de ônibus na capital paulista e que a polícia não encontrou nada de ilegal nas buscas feitas nas suas residências.
Sindmotoristas
Por meio de nota divulgada por sua assessoria de imprensa, o Sindmotoristas informou que o sindicato se coloca à disposição das autoridades para colaborar com a investigação da Polícia Civil.
“A assessoria de imprensa do Sindmotoristas esclarece que a entidade respeita e se coloca à disposição das autoridades para quaisquer atos que se fizerem necessários ao inquérito policial. Informa ainda, que sua diretoria foi surpreendida com a notícia da operação e que seu departamento jurídico está acompanhando o caso.
De modo preliminar, a entidade esclarece que tratam-se de apontamentos de eventuais indícios de um inquérito AINDA EM CURSO, o qual nem mesmo os investigados e seus advogados tiveram acesso. Portanto, tais respostas serão oportunamente apresentadas aos autos e aos veículos de comunicação.
Por fim, é importante destacar que o Sindmotoristas é um dos sindicatos mais atuantes e comprometidos com a classe trabalhadora do país. E no que tange a transparência, a entidade tem todas as suas contas aprovadas em assembleias e de modo unânime por toda a categoria, eventos que contam com ampla divulgação e cobertura da imprensa”, informa nota enviada pela comunicação do sindicato.
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Fonte: G1 SP — São Paulo