Cai em minhas mãos um artigo assinado pelo ex-vice-prefeito de Aracaju, José Carlos Machado, intitulado “É preciso reinventar o Governo”. Ele usa como parâmetro a administração estadual do estado de Alagoas para, nas suas comparações, enfatizar como vivem as mil maravilhas nossos vizinhos e irmãos alagoanos em detrimento da, ainda segundo ele, péssima vida dos sergipanos.
Nada mais falso como demonstraremos a seguir, lamentando esse espírito de desfazer de nosso estado com intenções meramente políticas, revestidas de uma suposta preocupação.
Machado é um político experiente e homem de negócios bem sucedidos. Ele sabe, pois sente na pele, mas esquece de colocar no artigo, que o Brasil vive uma das maiores crises financeiras dos últimos cem anos e que isso afeta de forma significativa as arrecadações dos estados e municípios.
Ele sabe também, até por que participou de alguns governos que foram responsáveis pelo déficit da previdência, que todos os meses que precisamos retirar quase R$ 100 milhões dos cofres do Tesouro estadual, recursos que poderiam estar sendo usados para melhorar a vida dos sergipanos.
Mas isso ele esquece também. Curioso. Comparar realidades de administrações públicas, sejam elas municipais ou estaduais, é como comparar melancias com bananas. São frutas, mas completamente diferentes. Existe todo um histórico de décadas que influenciam na realidade atual. Mas os governantes que naquela época promoveram essa farra não estão mais em tela para serem responsabilizados.
Os governadores que arruinaram o fundo previdenciário, que tanto fazem falta nos dias hoje, nas décadas de noventa e início do século XXI, e da mesma forma, e Machado sabe disso. Mas esquece. Estão todos impunes. Alguns até, pasmem, criticando o governo atual pela bomba relógio que armaram e que deixaram pronta para explodir nos dias atuais.
No Brasil, e Sergipe não foge a esse padrão, certos setores da elite se aproveitam da natural insatisfação com a crise econômica para tentar reescrever a história e negar o progresso econômico e social de dimensões inéditas que os governos com compromisso popular promoveram em todo o país.
Nesse enredo de faz de conta, inventam que os anos noventa é que foram bons e que os governos neoliberais daquela década é que teriam promovido melhoria de condições de vida para a população. Nada mais enganoso do que essa narrativa que, além de recheada de fatos inexistentes, não convence a população e o eleitorado, como as pesquisas de opinião demonstram cabalmente.
Em seu artigo, bastante genérico por sinal, de apenas uma página, o ex-deputado federal José Carlos Machado comete uma série assombrosa de equívocos e impropriedades, desfiando informações sem bases nem fontes confiáveis. Ficou no disse me disse, no ouvir dizer. Esperava-se mais de Machado.
Mas vamos aos fatos. Vejamos: Diferente do que escreve em seu artigo, não é verdade que o IDH de Sergipe em 2002 fosse o 3º mais elevado do Nordeste. Não há nem mesmo cálculo oficial de IDH no ano de 2002. O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento- PNUD apresenta cálculos do IDH para os anos de 1991, 2000 e 2010, com base em dados dos censos demográficos.
Em 1991, Sergipe tinha o 3º maior IDH do Nordeste, atrás de Pernambuco e Bahia. Em 2000, ou seja, como resultado dos nefastos anos noventa, o IDH de Sergipe era o quarto do Nordeste, atrás do Rio Grande do Norte, Pernambuco, Ceará e Sergipe.
Tampouco Sergipe contava em 2002 com a maior renda per capita do Nordeste, como afirma Machado. Pelo contrário, entre 1991 e 2000, Sergipe foi rebaixado do ranking da região, passando de 2º lugar, em 1991, atrás apenas de Pernambuco, para se situar em 3º lugar em 2000, atrás do Rio Grande do Norte e Pernambuco.
Também é enganosa a informação de que Sergipe crescia mais durante os governos neoliberais. Se houve um período ruim para o Nordeste foram os dos governos liberais entre 1995 e 2002, nos quais o Nordeste cresceu abaixo da média do Brasil, e não procede a informação de que Sergipe cresceu 4% ao ano em 2002, quando na verdade, segundo o IBGE, o PIB sergipano cresceu 2,7% exatamente a mesma taxa apresentada pelo conjunto do país.
Mais estranha ainda é a comparação que Machado faz entre Sergipe e o vizinho estado de Alagoas, que toma como um exemplo de êxito administrativo. Dedicamos aos irmãos alagoanos o sentimento de estima e fazemos votos que o estado com quem partilhamos a extensão final do São Francisco progrida e supere os desafios econômicos e sociais, muitos dos quais são comuns a todos os estados da região Nordeste. Mas os indicadores de Sergipe são tão superiores ao do estado vizinho que falta cabimento à comparação.
O PIB per capita de Sergipe em 2015 alcançou R$ 17.189,28, o mais elevado do Nordeste, seguido por Pernambuco e Rio Grande do Norte, enquanto o do estado vizinho era de apenas R$ 13.877,53, ou seja, o PIB per capita de Sergipe era 23,8% superior.
Sergipe registrou em 2016 o 3º maior rendimento mensal familiar per capita do Nordeste, depois do Rio Grande do Norte e Pernambuco, enquanto Alagoas se situa no pior agrupamento de estados, ao lado do Maranhão e do Piauí. E enquanto esse indicador alcançava 1.833,00 reais em Aracaju, na capital alagoana era de apenas 1.245,00 reais.
Se o índice de pobreza monetária em Sergipe, na nova metodologia do PNUD, é ainda muito elevado, ele é o 3º menor da região Nordeste, depois de Rio Grande do Norte e Pernambuco, enquanto o índice do estado vizinho somente supera ao do estado do Maranhão. Quando não são equivocadas, as comparações do articulista são descabidas de sentido, quando, por exemplo, recorre-se ao fato inequívoco de que a duplicação da BR- 101 avançou mais no estado vizinho.
A comparação é descabida porque o governo federal, ainda no Governo Lula, quando foi decidido o cronograma da duplicação da BR-101 entre Natal e Salvador, estabeleceu que a obra iniciar-se-ia na Capital Potiguar em direção ao sul. Não por outro motivo, o primeiro trecho da duplicação a ser concluído foi entre Natal e Recife, seguido pelo trecho entre Recife e a divisa com Alagoas. É natural, portanto, que o trecho alagoano tenha avançado mais do que o Sergipano, enquanto as obras no território baiano se encontram ainda mais atrasadas. Trata-se, pois, de um argumento falacioso, a que recorre o articulista com vista a confundir a opinião pública.
Os revisionistas da história nem mesmo se vexam a recorrer a notícias falsas, de que enquanto Sergipe atrasa a folha dos servidores o vizinho estado cumpriria rigorosamente em dia o pagamento.
Em 27 de dezembro de 2017, o portal G1 de Alagoas noticiava o parcelamento da folha dos servidores do Governo de Alagoas; aqueles que recebiam até 2.340 reais teriam o pagamento efetuado até dia 28 de dezembro, enquanto os servidores que recebiam acima desse valor somente teriam os salários depositados em 11 de janeiro de 2018. Sem falar na situação de endividamento em que se encontra o estado vizinho, incomparavelmente superior ao de Sergipe.
O Governo de Sergipe não nega as dificuldades financeiras provocadas pela crise econômica nacional. E realiza um esforço descomunal para enfrentá-las com o menor custo possível para a população, que acompanha atenta as medidas que estão sendo adotadas para ajustar as finanças estaduais.
A pior opção foi a dos anos noventa, quando foram deixados de lado os projetos estruturantes do estado.
As realizações dos últimos dez anos de governos comprometidos com os anseios populares, iniciados ainda na administração do saudoso Marcelo Déda e que estamos gerindo com firmeza para segurar as pontas e compromisso social, apesar de todos os obstáculos de ordem financeira, são provas vivas de que no nosso governo, apesar das enormes dificuldades enfrentadas, Sergipe cuida dos seus filhos e constrói as bases do seu futuro.
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Jackson Barreto de Lima
Governador do Estado de Sergipe
Artigo publicado originalmente no portal JLPolítica