Há 200 anos, o Rei do Brasil e Portugal Dom João VI assinava, do Rio de Janeiro, a Carta Régia elevando Sergipe à categoria de Capitania Independente. E mesmo após dois séculos da nossa Emancipação Política, comemorada nesta quarta-feira (8), muitas peculiaridades sobre o processo são desconhecidas de boa parte dos sergipanos.
O território sergipano foi conquistado em 1590 por Cristóvão de Barros e, desde então, Sergipe ficou sob a tutela da Bahia. Ele venceu os índios e distribuiu as terras em sesmarias. Durante mais de dois séculos, Sergipe foi Capitania Subalterna, dedicada a abastecer a capital baiana através da sua produção agropecuária. Alçar Sergipe a uma capitania independente foi a maneira que o Rei D. João VI encontrou para compensar a participação dos sergipanos na vitória da Corte Portuguesa sobre a Revolução Pernambucana de 1817.
Após ser conhecida como Sergipe del-Rei, a capitania viria a ser elevada à categoria de província quatro anos depois, e, finalmente, a estado após a proclamação da República em 1889. Também foi neste ano que o Partido Republicano conseguiu eleger seus primeiros representantes para o Congresso Federal. Três anos mais tarde, em 1892, foi promulgada a primeira Constituição do Estado de Sergipe.
Para marcar a data, o F5 News conversou com historiadores que vão nos ajudar a descobrir minúcias da nossa emancipação. Confira:
Ocupação baiana
“No ano de 1575 houve a ordem do então governador da Bahia para que o território sergipano fosse ocupado; diferente do que se diz na história, o registro indica que esse foi um convite dos índios locais a jesuítas, para que viessem catequizá-los, algo bem estranho pois havia interesse do grupo régio, como também dos jesuítas. O principal motivo alegado [pelos baianos] é de que seria necessário abrir um caminho entre a Bahia e Pernambuco. Mas existiam outros motivos, como o comércio com franceses na costa sergipana. Para cá foram mandados os irmãos Gaspar Lourenço e Salome – pouco se sabe sobre eles – que começaram a catequizar os índios a partir do Sul do estado, formando assim os primeiros aldeamentos”, revela o historiador Carlos Nascimento.
Luta pela independência
“Os movimentos locais de independência são interpretados como a forma que a sociedade colonial se envolveu com a dinâmica da luta pela independência. Em cada parte da américa portuguesa os grupos, setores, indivíduos, cada um com os seus interesses, projetos e planos vão projetar uma série de expectativas a respeito desse projeto que eles estão vivendo. É equivocado pensarmos que foi um processo pacífico. Nele, os líderes pró ou contra a autonomia de Sergipe foram pegando em armas, armando seus comandados e caracterizando o momento do Brasil com uma tensão, a ponto de estar à beira de uma guerra civil”, conta a historiadora Edna Maria Matos
Assembleias Legislativas
“Sergipe foi por muito tempo motivo de piada para outros estados, pois no local havia duas Assembleias Legislativas funcionando ao mesmo tempo. O fato aconteceu no ano de 1894, no governo de José Calazans. Quando os titulares da pasta foram tomar posse, houve um tumulto iniciado pelo general Valadão, e com isso, o governador levou os deputados eleitos para Rosário do Catete, onde criou uma Assembleia e transferiu a sede do Governo do Estado para o município, fazendo com que o órgão em Aracaju fosse empossado pelos suplentes”, afirma o historiador Adailton Andrade.
O nome Sergipe
“Sergipe é mais antigo mesmo que o próprio nascimento do Brasil. Porque é um aportuguesamento do Tupi, quando a gente dialoga com a etimologia – que estuda a ciência das palavras – percebemos que a palavra tem vários significados, por exemplo, a gente tem um rio que atravessa a cidade de Aracaju; Sergipe significa ipe = rio e sergi = siri, ou seja, rio dos siris, mas a palavra tem outros significados como a homenagem ao cacique Serigy, chefe indígena Tupinambá, que dominou essa região; ou ainda, é vinculada às tradições culturais indígenas do povo Tupinambá”, explica o historiador Luis Antônio Cruz à Aperipê TV.
Palavra proibida
“Carlos Burlamaqui, o primeiro governador da província de Sergipe, antiga Capitania de Sergipe Del Rei, proibiu que se falasse a palavra ‘Constituição’ pelas ruas de São Cristóvão; quem descumprisse podia ser preso. O objetivo era evitar a disseminação e discussão das ideias liberais que eram a grande inovação das propostas das cortes portuguesas reunidas em Lisboa”, aponta a historiadora Edna Maria.
Poder e soberania
“José Barros Pimentel, em conluio com o mercenário general Labatut transferiu a sede do governo de São Cristóvão para Laranjeiras em outubro de 1822. Ele fazia parte de importante família rica da aristocracia açucareira da província e acredita-se que a mudança pra lá foi em razão de poder exercer influência política sem concorrentes, já que era seu território de mando”, disse A historiadora Edna Maria Matos.
Duas datas
“Pelo fato da Emancipação Política de Sergipe em 8 de julho de 1820 ter sido bastante conturbada e contestada pelos líderes baianos e pelos senhores de engenho, a memória popular não registrou a data para festejar. A primeira comemoração que se tem notícia se deu no dia 24 de outubro de 1836, com a festa cívico-religiosa marcada pelo canto do Hino de Sergipe, com letra de Manoel Joaquim de Oliveira Campos e música de Frei José de Santa Cecília. Em 1839 o dia 24 de outubro foi decretado como feriado da Emancipação. As duas datas permaneceram como feriado até o final da década de 1990: 8 de julho, data da elevação de Sergipe a Capitania Independente; 24 de outubro, data da recuperação da Independência de Sergipe consagrada pelo povo”, detalha a historiadora Terezinha Alves de Oliva.
Por F5 News
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