Por Raissa Cruz – Universo Político
A professora Ângela Melo, presidente do Sintese (Sindicato dos Professores da Rede Estadual) cobra organização na Secretaria de Estado da Educação e o pagamento dos salários atrasados dos professores. Ela fala ainda da proposta do sindicato para um Escola Democrática e Popular, e adianta sua desesperança sobre dias melhores na gestão do prefeito eleito João Alves em Aracaju.
UP – Como andam as negociações com o Estado sobre o tão cobrado reajuste do piso salarial dos professores?
Ângela Melo – Desde o dia 31 de outubro nós solicitamos uma audiência com o Governo do Estado, através do secretário da Casa Civil, e estamos na espera. Mas não demos a trégua a nossa luta. Reafirmamos a certeza de que o Estado tem condições de conceder esse reajuste como manda a lei. E nós ainda temos esperança de que o Estado vai pagar, ou a Justiça o obrigará a isso.
UP – E quanto aos Municípios, é verdade que em algumas cidades os professores estão prestando queixa para receberem seus salários?
Ângela Melo – Sim. No mesmo de outubro quase 20 Municípios atrasaram setembro. Foi ajuizadas ações com multa, como em Santa de São Francisco, Carira também, Itabaiana, Aquidabã e outros. Tivemos outras audiências no sentido de se buscar uma luz para os Municípios. O que não dá é ter professor passando fome. Então recorremos à Justiça, inclusive com boletins de ocorrência, mas esperamos que os professores terminem este ano com seus salários em dias.
UP – Diante desta situação, então há risco de professores ficarem sem o pagamento do décimo terceiro?
Ângela Melo – Já ocorreram em outros momentos, e esse é o mais angustiante, porque nunca estivemos com mais de vinte prefeituras com o salário atrasado dos professores. Logo num momento de pós-eleição quando muitos desses prefeitos não foram reeleitos nem elegeram seus candidatos.
UP – A senhora afirma, com isso, que há um relaxamento de final de mandato em relação a Educação nestes Municípios?
Ângela Melo – Sim. Uma demanda de descaso nestes Municípios.
UP – No caso de Aracaju, o que o Sintese, que tem um passado de desgaste com o governo João Alves Filho, espera da gestão do prefeito eleito em relação à Educação e os professores?
Ângela Melo – O Município de Aracaju apesar de ter seu sindicato próprio, no caso não é filiado ao Sintese, mas nós já vivenciamos momentos muitos duros com o governo João Alves, até porque muitos do Município tem vínculo também com o Estado, e vivemos momentos nesse governo de corte de regência, greve de fome… Então achamos que não será boa. Aracaju não estabeleceu o piso para os professores, e isso já é preocupante. Eu falo enquanto professora de Aracaju que também sou, não acredito que teremos alegrias com essa gestão.
UP – Quanto às reformas das escolas, o sindicato tem acompanhado a Promotoria dos Direitos À Educação na luta pelo aceleramento das reformas? Há prejuízos no calendário letivo por conta disso?
Ângela Melo – Nós temos algumas escolas com reformas muito lentas, como o caso do Augusto Ferraz do bairro Industrial, e a 11 de Agosto, que trabalha com alunos com deficiência. Em Estância também. Estamos sim cobrando que sejam agilizadas, e vemos que quando chega o momento em que a luta se acirra e os professores decidem entrar em greve, somos cobrados que greve prejudica aluno, e nós ressaltamos que se a greve prejudica, com certeza é a ambos: professor e aluno. Mas são feitas reformas lentas que atrasam as aulas, professores são tirados de sala de aula para receber cargos com desvio de função, e nada disso é citado que prejudica.
UP – Há denuncias de professores que foram chamados e ainda não foram assumir o cargo e de professores, e alunos continuam com disciplina sem professores. O que o sindicato diz a esse respeito?
Ângela Melo – Nós sempre defendemos que antes do momento em que o governo fizesse o concurso fosse feita uma reestruturação no sistema. Avaliando a quantidade de cargos vagos, chamar para sala de aula os professores que estavam em desvio de função num quantitativo enorme nos órgão, e pós a arrumação da casa se vivia a real necessidade. Sabemos que neste momento tem alunos sem disciplinas e pode terminar o ano assim, e a Secretária de Educação diz que já chamou mais de mil professores, e está lotando. Então o que precisa é a Secretária de Educação se organizar.
UP – Diante dessa realidade que a senhora classifica como “desorganização” da Secretária de Educação, qual a avaliação do Sintese sobre a educação no Estado, principalmente para alunos que estão próximos da disputa pela vaga ensino superior?
Ângela Melo – O governo para camuflar essa desordem estabelece cursinhos, como se fazem nas escolas particulares, que servem de paliativos do aprendizado para os alunos fazerem o Enem e o Vestibular. E quando a escola necessita de uma preparação extra, significa dizer que ela não está preparando bem, não há base. Nós consideramos que é preciso se repensar o ensino médio nesse Estado que está comprometido, e organizar primeiro a rede básica e concomitante estabelecendo uma política de valorização não só dos professores, mas também dos alunos. Porque professor qualificado nós temos e alunos bons também, mas falta uma formação continuada e uma escola equipada.
Congresso sobre Escola Democrática e Popular
UP – Professora, a partir de qual necessidade surgiu a proposta Democracia Participativa e a Construção de Uma Escola Popular que foi apresentada nesse congresso do Sintese (ocorrido entre 8 e 11 de novembro)?
Ângela Melo – Há muito tempo vínhamos pensando como fazer para acabar com a prática desses pacotes institucionais para educação, comprados da iniciativa privada e que não atende. Com o nome Se Liga, Acelera Alfa, Beta e Ensino Estruturante. Programas que não educam, só transformam nossos jovens e crianças em analfabetos funcionais. Não é papel do sindicato elaborar políticas públicas, mas sim defender que elas existam. Mas a sociedade vinha cobrando do sindicato uma proposta, então nós amadurecemos por muito tempo e achamos que a hora era agora. Tivemos vários encontros e sobe a orientação do Prof. Doutor André Martins da Universidade de Juiz de Fora, e com a coordenação do Departamento de Formação tendo a orientação da Profa. Ivonete Cruz nós amadurecemos uma proposta e convidamos professores da base para estudar conosco, e durante seis meses discutimos teoricamente e na prática o que seria essa escola popular. O primeiro passo foi enviar a proposta para casa dos professores, os 24 mil filiados, o segundo passo foi discutir a proposta nos pré-congressos nas regionais, e por fim avaliar em grupo nesse congresso e votar. E assim conseguimos a votação unanime dessa proposta.
UP – E quais os eixos que fundamentam essa proposta, que agora aprovada pode-se chamar de projeto?
Ângela Melo – São quatro eixos para a proposta Escola Democrática e Popular – a Educação que Queremos. O 1º eixo é a Formação Humana, onde os professores discutiram uma formação que humanize a escola, mostrando que a educação faz parte do contexto humano, e isso se dá por componentes científicos, filosóficos, da arte, da política… No 2º eixo focamos na Gestão Democrática, para se construir uma gestão escolar não só com professores, diretores e funcionários e alunos, mas também os pais, conselhos escolares, a comunidade em si, e isso com a eleição para escolher o diretor da escola. No 3º eixo discutimos o Trabalho Docente, onde nós entendemos que é preciso uma formação continuada, a formação da universidade não dá conta, os professores precisa estabelecer uma continuidade de especializações para se atualizar sobre as formas de ensino, e o Estado e Municípios devem elaborar essa formação continuada. No 4º eixo vamos discutir as Políticas Estruturantes, que trata de como se construir políticas públicas que deem conta de atender as necessidades dos nossos alunos. É um eixo que se tem trabalhar junto a secretaria de Educação e de Assistência Social. O projeto está pronto. Vamos agora colocar para apreciação do governo, e esperamos que seja utilizado.
Da redação Universo Político.com